Plano do BNDES patina e frota de caminhões envelhece no Brasil

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Plano do BNDES patina e frota de caminhões envelhece no Brasil

São Paulo, 6.12.06 – Mais um programa de financiamento com estímulos para autônomos e pequenos frotistas ainda frustra as expectativas da indústria e dos caminhoneiros. Lançado há seis meses, o Procaminhoneiro, linha do governo sustentada em recursos do BNDES, não mostrou ainda o fôlego necessário para ajudar o pequeno transportador a trocar o veículo velho.
Maior fabricante de caminhões do país, a DaimlerChrysler produtora da marca Mercedes-Benz, não fechou ainda nenhum negócio via Procaminhoneiro. A Volvo, outra grande montadora da linha de pesados, também não. Na Ford, os executivos do setor de vendas até suspeitam que alguma venda pode ter sido feita por meio do programa. Se foi, não são números de chamar a atenção. A Scania é uma das poucas exceções, ela é responsável por pelo menos um terço dos 118 caminhões novos que o BNDES anuncia como resultado do programa lançado em junho.
Na indústria, executivos lembram que o volume contemplado pelo programa até agora não chega a 2% das vendas de caminhões no país em apenas um mês.
Todos concordam que o programa evoluiu em relação ao antecessor, o Modercarga, uma linha inspirada no Moderfrota, um caso de sucesso destinado a pequenos proprietários de máquinas agrícolas.
Durante os mais de 12 meses do período em que os recursos do BNDES estiveram disponíveis, entre 2004 e 2005, o Modercarga foi usado em apenas cinco caminhões, todos da Volvo.
Desta vez a empresa está com menos sorte, mas faz planos para os próximos meses, acreditando que a nova linha ainda pode deslanchar. A idéia é vender 100 unidades – ou 20% do volume de um mês – antes de o ano terminar. Mário Pedroso, diretor de operações da Volvo serviços financeiros, aponta uma das qualidades da nova linha de crédito em relação à tentativa anterior: desta vez, além do caminhoneiro autônomo, o microempresário também foi beneficiado.
Outra novidade bem recebida pela indústria é a inclusão dos caminhões usados. O Procaminhoneiro está também disponível para a compra de veículos com até oito anos de uso.
Mas ter de explicar os detalhes de mais um plano para alguém que vive na estrada acaba se tornando em outro impedimento. “Colocamos toda a máquina de divulgação em ação porque há muitas mudanças na sistemática”, destaca Pedroso.
O diretor de vendas da marca Mercedes-Benz, Gilson Mansur, passa por dificuldade semelhante. Ele conta que gostaria muito de encontrar o cliente em potencial para o programa. Chegou a pedir para os grandes frotistas – com os quais as montadoras costumam ter relacionamento mais direto – para marcarem reuniões com os pequenos empresários, aqueles que podem usar o programa e que costumam prestar serviços para as maiores transportadoras.
Mansur está disposto a peregrinar pelo país em busca desses caminhoneiros para explicar que a linha pode ser uma boa alternativa. É nas mãos deles que circulam os veículos mais velhos do país. A idade média da frota está em 17 anos. Mas os grandes frotistas costumam trocar os veículos entre 36 a 48 meses. “É o tempo médio em que terminam os financiamentos e ainda conseguem bom valor de revenda”, afirma Roberto Leoncini, gerente de vendas da Scania.
Em parceria com o Banco do Brasil, que recentemente entrou no Procaminhoneiro, a Volkswagen partiu para uma grande campanha publicitária que incluiu até o cantor sertanejo Sérgio Reis nos filmes publicitários.
Boa parte dos executivos acredita que a dificuldade em obter crédito é o que afasta o caminhoneiro do plano criado para ele. Este é um problema antigo nesse tipo de linha. Ao contrário do que acontece no campo, onde os bancos sentem segurança em obter o retorno do financiamento de máquinas que não se movem das terras do agricultor, no caso do motorista de caminhão as garantias perdem força. Muitas vezes, o veículo e o trabalho incerto do autônomo são a sua única garantia oferecida aos bancos que fazem a intermediação da liberação dos recursos do BNDES.
Para o diretor de operações da Ford Caminhões, Flávio Padovan, a dificuldade para a liberação do crédito é o maior entrave desse e dos demais programas. Há muito se fala na indústria sobre a necessidade de criação de um fundo de aval – seja com recursos do próprio BNDES ou por meio de taxas adicionais no financiamento -, o que ajudaria a acabar com a insegurança das instituições financeiras. Para um programa desse vulto dar o resultado esperado, teria de corresponder a pelo menos 20% das vendas, nos cálculos de Padovan.
Na Scania, que conseguiu uma boa participação nos resultados do Procaminhoneiro até agora, as vendas por meio do programa estão em 5%. Segundo Leoncini, o programa não pode ainda ser considerado um sucesso. Mas é algo em que vale a pena apostar.

Economia com veículo novo paga financiamento

São Paulo – A troca de um caminhão velho por outro novo, com recursos do Programa de Financiamento a Caminhoneiros (Procaminhoneiro) do BNDES, permitiria ao transportador de cargas autônomo pagar a prestação do novo veículo somente com a economia de combustível e o aumento da capacidade de carga obtidos com a troca e ainda lhe daria uma receita maior do que a obtida com o veículo antigo.
A conclusão é de um estudo feito por dois técnicos do banco, Cláudio Bernardo de Moraes, superintendente da área de Operações Indiretas, e Samy Moscovitch, assessor da mesma área. Eles estão convencidos de que “vai faltar caminhão” se o crescimento do país ganhar fôlego.
Em vigor desde julho deste ano, o programa, criado para estimular a frota dos caminhoneiros autônomos do país, ainda engatinha. Até o final de novembro foram financiados 159 veículos, sendo 118 novos e 41 usados, com desembolsos totais de R$ 12,01 milhões. Muito pouco, considerando a frota de autônomos de 600 mil veículos, com uma idade média de 17 anos. Moraes reconhece que “pode melhorar”, mas ressalta que os números são crescentes. Foram 66 caminhões (44 novos) em novembro, contra apenas cinco em junho e 13, em agosto.
“Estamos chamando os bancos quase todos os dias para conversar”, disse o superintendente do BNDES. Enquanto busca alternativas para facilitar o crédito (o Procaminhoneiro exige que o financiamento seja repassado por um banco credenciado), Moraes tem procurado também convencer os caminhoneiros autônomos das vantagens de trocar o veículo velho por um novo ou seminovo. Foi como parte desse esforço que ele e Moscovitch fizeram um levantamento de custos e receitas a partir da experiência da Cooperativa dos Caminhoneiros Autônomos de Serra (ES), baseado em uma rota entre os municípios capixabas de Serra e Cachoeiro do Itapemirim.
O trabalho constatou, em primeiro lugar, que uma carreta nova roda 2,9 quilômetros com um litro de diesel, contra 1,9 do veículo velho. Ao mesmo tempo, as constantes paradas para manutenção só permitem que o caminhão antigo faça 22 viagens/mês na rota de 340 quilômetros, enquanto o novo consegue fazer 30 viagens. A um custo de R$ 1,80 por litro de combustível e a R$ 11,00 de frete por tonelada, o estudo constatou que o carro novo gasta R$ 6.487,63 de diesel por mês, 32,8% da receita total de R$ 19,8 mil, enquanto o velho gasta R$ 7.086,32, ou 54,2% da receita total de R$ 13.068.
O levantamento constatou também que o caminhão novo transporta 30 toneladas de carga por viagem, enquanto o velho suporta apenas 27 toneladas. O novo praticamente não tem custo de manutenção ao longo dos primeiros 500 mil quilômetros de vida útil (cerca de quatro anos, considerando uma rodagem média de 10 mil quilômetros por mês), enquanto o velho gasta em média R$ 1,5 mil por mês.
Feitas as contas, considerando um hipotético salário mensal de R$ 3,5 mil para o proprietário, o estudo concluiu que sobrariam ainda R$ 9.812,37 para o dono do caminhão novo e apenas 10% disto (R$ 981,68) para o dono do veículo velho. Após pagar a prestação inicial de R$ 6,2 mil pela compra de um caminhão novo de R$ 260 mil, o seu proprietário ainda ficaria com R$ 3.612,37 além do salário. O estudo não considerou o valor do seguro, que se incluído no cálculo, segundo Moraes, desbalancearia ainda mais a conta em favor do dono do caminhão novo.
Segundo o superintendente do BNDES, a conta considerou o consumo médio da frota analisada, porque as carretas mais antigas fazem apenas um quilômetro por litro de diesel, tornando a conta ainda mais desequilibrada. A constatação dos técnicos do BNDES ganha mais relevância quando se sabe que 2006 foi um ano ruim para as vendas de caminhões. Até outubro, os números da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) mostram uma queda de 7,8% nas vendas de caminhões, sendo uma redução de 12,4% entre os pesados e de 16,3% entre os semipesados.
O banco de fomento, que financia cerca de um terço dos caminhões vendidos no país, está tentando convencer os caminhoneiros autônomos que “o custo relevante não é o do equipamento, é o custo variável”. Ao mesmo tempo, busca alternativas para convencer os bancos a correrem o risco da operação. Uma dessas alternativas é o sistema de leasing, pelo qual o caminhão só é do caminhoneiro quando ele termina de pagar.
Mas o presidente da Federação Nacional das Cooperativas dos Transportadores Autônomos, Claudio Oliveira, também presidente da cooperativa de Serra, afirma que os bancos ainda não responderam ao esforço conjunto dos transportadores e do BNDES. “Temos que sensibilizar o governo, as montadoras e a própria sociedade dos riscos que representa um equipamento defasado”, afirma Oliveira.
Segundo ele, o próprio caminhoneiro, quando termina de pagar um veículo, reluta em assumir outra dívida. O líder cooperativista reclamou de que os bancos fazem exigências em excesso e que o próprio Banco do Brasil, “que é do governo”, está limitando o financiamento a 80% do valor, embora o programa permita que ele chegue a 100%. Enquanto os bancos das montadoras ainda estão fazendo adaptações nos seus sistemas para entrar no programa, os maiores repassadores do Procaminhoneiro são o BB e o Bradesco.
A direção do BB informou, por meio da sua assessoria de imprensa, que a contrapartida de 20% por parte do caminhoneiro é uma forma para que ele utilize seu equipamento usado na operação e ainda possa fazer o negócio sem garantia adicional que não o próprio veículo novo. Segundo o banco, para financiar acima de 80% a garantia precisa ser maior do que o valor do equipamento.
Fonte: Valor Econômico

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