Curitiba, 27.7.05 – A constatação de erosão no solo que sustenta os pilares provocou o adiamento por mais um ano da recuperação da ponte sobre a represa do rio Capivari-Cachoeira, da rodovia Régis Bittencourt (BR-116), sentido Curitiba-São Paulo.
Na época do acidente em que uma das cabeceiras caiu, em janeiro deste ano, a previsão dos técnicos do DNIT (Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes) era de obra liberada ao tráfego em 180 dias. Esse prazo esgotaria neste mês.
O adiamento por mais 11 meses, no mÃnimo, foi confirmado na terça-feira pela coordenação do DNIT no Paraná, com a assinatura de um decreto de emergência que respalda a contratação urgente, com dispensa de licitação, de obras para contenção geológica do maciço que se movimenta ameaçando os pilares que restaram de pé.
A cabeceira norte da ponte ruiu em 25 de janeiro, matando o motorista de um caminhão e ferindo outras três pessoas que trafegavam na hora da queda. Dos 120 metros de vão, 80 desabaram. Desde então, o tráfego da BR-116 naquele trecho –em Campina Grande do Sul, a 55 km de Curitiba– está concentrado na ponte da pista do sentido contrário da rodovia.
Suspeita
“Quase fui apedrejado [pelo corpo técnico do DNIT) quando alertei para a instabilidade do solo e a exigência de um estudo geológico aprofundado”, disse o professor Mauro Lacerda Santos Filho, diretor do setor de tecnologia da Universidade Federal do Paraná.
“Chamaram-me de incendiário e alarmista, e, no entanto, a prova da necessidade de um novo projeto existe, e é o que o DNIT está fazendo agora, com propriedade”, disse o professor, que é engenheiro civil por formação.
Quando do acidente, Santos Filho fez prognósticos da movimentação do solo, “na condição de cidadão”, e virou pivô de um incidente.
O DNIT divulgou que ele não fazia parte da equipe de avaliação e que, portanto, não tinha autoridade para opinar. Meses depois, o coordenador do órgão no Paraná foi trocado. “Eles demoram um pouco para colocar os instrumentos de monitoramento para verificar o que acontecia com o maciço”, disse o professor.
Avaliação
O DNIT define o problema na área como “uma avalanche imperceptÃvel, mas constante”. De sábado passado até ontem, segundo uma nota do órgão, a terra se movimentou 1,6 metro em direção ao pilar que não caiu. Se o movimento continuar nesse ritmo e nada for feito, a pressão pode derrubar o que ficou em pé. Cerca de oito metros ainda separam o maciço do pilar.
“O movimento do maciço põe em risco o que restou da ponte”, disse o coordenador atual do DNIT no Paraná, David Gouvêa. Ele viajou na terça-feira a BrasÃlia para definir a contratação de uma empresa para a contenção do solo e discutir o melhor projeto para recuperar a ponte.
A emergência deve custar R$ 2,5 milhões. Só a retirada da terra que caiu na base da ponte, dentro da represa, deve consumir R$ 1 milhão do total.
Enquanto a contenção é feita, o DNIT inicia o processo de licitação da reconstrução propriamente dita. As alternativas até agora discutidas têm custo estimado variando de R$ 12 milhões a R$ 35 milhões. Há consenso sobre o projeto que vai repor a ponte nos mesmos moldes de hoje.
A mudança fundamental é a substituição do concreto por vigas metálicas na sustentação da ponte. Os estudos para estender o vão até terra firme estão praticamente descartados devido ao encarecimento da obra. Fonte: Folha de São Paulo