Descanso, 11.10.07 – A Federação das Empresas de Transporte de Cargas e LogÃstica de Santa Catarina (Fetranscesc) já vinha alertando para as condições da rodovia BR-282, justamente no trecho onde ocorreu a tragédia que matou 27 pessoas e deixou 90 feridos na última terça-feira.
O presidente da entidade, Pedro Lopes, destaca que a rodovia é o principal eixo de ligação entre a região oeste e o litoral catarinense. Pela rodovia, que tem 680 km de extensão, é escoada toda a produção do agronegócio do Estado em direção aos portos. Também é o caminho utilizado durante a temporada de verão por turistas argentinos que vêm descansar nas praias brasileiras.
“Temos um porto seco em DionÃsio Cerqueira, na divisa com a Argentina, e o movimento de caminhões é muito intenso”, disse Lopes.
Em textos produzidos em 2005, Lopes já alertava que o trecho entre as cidades de Chapecó, Maravilha e São Miguel do Oeste possuÃam vários buracos e que, em toda a região, faltava acostamento e principalmente, sinalização em vários pontos.
“A BR-282 tem mais de 30 anos e não tem mais condições de suportar o tráfego pesado que escoa a produção das agroindústrias e indústrias alimentÃcias”, apontou, na época.
Lopes disse que passou duas vezes no trecho do acidente nos últimos dias e percebeu que um dos maiores problemas da BR-282 seria a falta de sinalização complementar. Ele criticou o fato de as condições da pista terem sido melhoradas, sem investir na sinalização.
“É um convite para a velocidade”, afirmou. “Mas quando chove ou anoitece, não se enxerga nada ali.”
Para o presidente da Fetrancesc, o tragédia mostra a “falta de uma polÃtica séria de investimentos” no setor rodoviário do PaÃs. “Precisa morrer tanta gente, ficar todo mundo desesperado, para passarmos a questionar alguns incoerências nos investimentos públicos”, disse.
Segundo ele, os valores arrecadados com as multas deveriam ser aplicados na sinalização adequada das rodovias. “As multas têm que ser revertidas para a segurança. E sinalização é uma forma de controle de velocidade.”
A tragédia da BR-282, na opinião dele, foi causada por uma série de fatores, como a imprudência e a falta de condições da rodovia. “Não posso falar sobre a ação do segundo motorista, mas se a rodovia fosse bem sinalizada e não escura daquele jeito, talvez o primeiro acidente pudesse ser evitado”, acredita, comparando o acidente em Santa Catarina com a tragédia do Airbus da TAM em Congonhas.
“Quando várias pessoas morreram é que viram que havia algo muito errado. Nossas rodovias continuam péssimas, não foi investido o que se deveria e enquanto isso, leiloam trechos para pedágio. Essa é grande a tragédia.”
Outro trecho da BR-282, entre a capital Florianópolis e a cidade de Lages, na serra, foi considerado pela Confederação Nacional dos Transportes como um dos 10 piores corredores rodoviários do Brasil, na pesquisa rodoviária de 2006. As condições de pavimento, sinalização e geometria das vias foram os itens que mais pesaram. “Temos alertado há algum tempo sobre o problema em entrevistas, em sites e em nossos documentos”, afirmou Lopes.
Ainda segundo dados da Agência Nacional de Transportes Públicos (ANTP) divulgada no inÃcio de setembro, o prejuÃzo estimado com acidentes chega a R$ 28 bilhões ao ano. Pelo estudo “Trânsito no Brasil ¿ Avanços e Desafios”, entre 2003 e 2006, a média anual de mortos no trânsito é de 34 mil pessoas, além de 400 mil feridos e outras 100 mil vitimas com deficiências permanentes ou temporárias.
“Era como se caÃsse um Boeing a cada dois dias no Brasil”, disse Pedro Lopes. “E infelizmente é preciso que ocorra uma tragédia desse tamanho para que as autoridades ponham a mão na consciência.”
O Departamento Nacional de Infra-Estruturas de Transportes (Dnit) em Santa Catarina informou através de sua assessoria de imprensa que não existe um projeto de duplicação da BR-282. A média de movimentação chega a 3,5 ml veÃculos por dia enquanto a rodovia estaria preparada para suportar 8 mil, segundo o departamento.
O que existe, de acordo com o órgão do governo federal, são obras de melhoria que deverão ser realizadas em breve em alguns trechos na região oeste, como Xaxim, Xanxerê Chapecó e São Miguel do Oeste.
Confira alguns dados da Pesquisa Rodoviária CNT 2006
– 54,5% da malha rodoviária pesquisada encontram-se com o Pavimento em estado Regular, Ruim ou Péssimo, totalizando (45.950 km)
– 70,3% da extensão pesquisada apresentam Sinalização com problemas (59.309 km)
– 40,5% da extensão avaliada não possuem acostamento (34.168 km)
– 11,7% da extensão avaliada possuem placas total ou parcialmente cobertas pelo mato (9.934 km)
– 47,4% da extensão avaliada possuem placas com a legibilidade deteriorada (36.092 km)
– 40,7% da extensão pesquisada não possuem placas de limite de velocidade (34.325 km)
Fonte: Redação Terra