BrasÃlia, 25.07.03 – A inspeção veicular, que, após longa discussão, está prestes a finalmente ser regulamentada, representará um novo canal de negócios para o setor automotivo, capaz de movimentar pelo menos R$ 3 bilhões por ano, segundo cálculos da indústria. As reuniões dos técnicos do setor com ministérios da Indústria, Transportes e Meio Ambiente indicam que a regulamentação pode sair até o fim do próximo mês, o que significa que, a partir de 2004, toda a frota brasileira terá de passar por inspeção antes do licenciamento.
Segundo a Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA), a atividade vai gerar uma receita de cerca de R$ 1,4 bilhão ao ano. Esse volume de recursos será movimentado pelas empresas que surgirão, a partir das licitações, provavelmente estaduais, para fazer a inspeção em cada um dos 21 milhões de veÃculos que circulam pelo PaÃs.
A outra parte dos novos negócios surgirá com o aumento de vendas de peças. O Sindicato Nacional da Indústria de Componentes Automotivos (Sindipeças) estima que a venda componentes para reposição aumentará 30%. A reposição tem participação de 20% no faturamento do setor, que soma US$ 11 bilhões por ano.
As duas fases de inspeção – a mecânica, com verificação de freios e lanternas, por exemplo, e a de emissão de poluentes – custarão, em média, em torno de R$ 90 por veÃculo, nas contas do presidente do Sindipeças, Paulo Butori.
Para ser credenciada, a empresa de inspeção terá de contar com equipamento especÃfico. Segundo a AEA, os investimentos totais necessários à implantação de 2.500 linhas de inspeção são estimados em R$ 1,25 bilhão. Na hipótese do faturamento anual do programa ser da ordem de R$ 1,4 bilhão, o acréscimo na arrecadação de impostos chegaria a R$ 420 milhões.
“São montanhas de dinheiro”, afirma Butori. O empresário diz que o setor já recebeu executivos da Alemanha, Espanha, Itália e Inglaterra, que já trabalham nessa atividade. Por isso, a inspeção também atrairá o capital externo. Concessionárias de veÃculos também devem se interessar em abrir pontos de inspeção.
A inspeção veicular vem sendo discutida há anos no Brasil. Mas o presidente da AEA, Marcos Madureira, diz que tudo indica que a regulamentação sairá até o fim de setembro, seja por meio de projeto de lei ou mesmo decreto. “As pesquisas têm mostrado que a idéia tem a aprovação da maior parte dos motoristas, que se preocupam com o perigo dos carros em más condições de manutenção”, destaca o executivo.
Além do potencial de novos negócios, as empresas seguradoras estão também de olho na inspeção como forma de reduzir suas despesas com acidentes de trânsito. Segundo os órgãos de trânsito, o paÃs soma 1 milhão de acidentes de trânsito por ano.
Segundo a Federação Nacional das Empresas de Seguro (Fenaseg), que gerencia o seguro obrigatório de acidentes pessoais, anualmente as seguradoras indenizam as famÃlias de 40 mil mortos no trânsito.
O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) afirma que o custo social dos acidentes de trânsito no Brasil é de U$ 9,6 bilhões por ano, somando internações hospitalares, perdas materiais e diminuição da renda familiar. Segundo dados coletados pela AEA, a inspeção poderia ajudar a reduzir os acidentes em 10%, o que significaria diminuição dos custos em R$ 1,78 bilhão anualmente. A inspeção pode, ainda, criar 103 mil novos postos de trabalho, volume que supera o contingente da indústria automobilÃstica. Madureira aponta o impacto ambiental. O controle de emissão de gases poluentes reduziria as emissões de monóxido de carbono, hidrocarbonetos e fumaça preta em 80%. Fonte: Valor Econômico