Motoristas terão a prova do sono

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Motoristas terão a prova do sono

Belo Horizonte, 26.8.05 – O sono é a segunda causa de acidentes nas rodovias mineiras. Motoristas profissionais, condutores de ônibus e transportadores de carga, portadores da Carteira Nacional de Habilitação categorias C, D e E, poderão ser obrigados a fazer o exame de polissonografia – que avalia se o indivíduo tem problemas de sono – no momento da renovação da carteira e quando estiverem tirando a licença pela primeira vez.
A medida, que está sendo estudada pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran), é uma tentativa de redução do número de acidentes nas estradas brasileiras. Depois do álcool, o sono, segundo os especialistas e profissionais que lidam com acidentes nas estradas, é o grande responsável pelas tragédias.
?Sempre esbarramos em indícios que apontam o sono como causa de acidentes, mas nunca tivemos ferramentas para comprovar e mensurar a gravidade do problema”, afirmou o assessor de imprensa da Polícia Rodoviária Federal, inspetor Aristídes Amaral Júnior. Boa parte das ocorrências é registrada na madrugada, entre 4 e 6 horas, quando a temperatura do corpo cai e depois do almoço, entre 12 e 15 horas.
Segundo estimativa da Sociedade Brasileira do Sono, 10% da população brasileira têm problemas de sono. A falta de um sono reparador aumenta em 250% o risco de acidentes. O exame, feito periodicamente, defende o professor Marco Túlio de Mello, membro da Câmara Temática de Saúde e Meio Ambiente do Contran, poderá detectar o problema e encaminhar os profissionais, que sofrem, por exemplo, de apinéia e hipoapnéia para tratamento adequado. ?A idéia não é retirar o profissional de circulação, mas proporcionar o tratamento para que ele não coloque em risco a própria vida e a dos outros”, argumenta Marco Túlio. ?Não adianta fazer a lei, se não houver fiscalização”, criticou o presidente do Sindicato União Brasil Caminhoneiro, José Natan Emídio.
Embora reconheça que o problema exista, ele acredita que a ganância dos patrões, donos das empresas transportadoras, também contribui para engrossar as estatísticas. ?O motorista trabalha sob pressão o tempo inteiro. Ele tem que chegar e chegar rápido e aí apela para os ribites”, revelou. A ingestão de estimulantes, capaz de deixar a pessoa acordada por dias seguidos, ?vai minando sua saúde”, disse.
De acordo com estudos realizados pela Unifesp, os problemas com o sono reduzem os reflexos dos motoristas e são responsáveis por um índice que 26% a 32% dos acidentes de trânsito no Brasil. A apnéia do sono, que é uma doença crônica, atinge 38% dos motoristas.
Ela causa paradas respiratórias breves de, no mínimo, 10 segundos, e provoca desde o ronco até a sonolência diurna, bem como problemas de distúrbios do humor, aumento de incidência de doenças cardiovasculares, hipertensão, e pode ainda causar doenças psiquiátricas graves.
Caso o Contran aprove o estudo e a resolução seja aprovada, os motoristas serão submetidos a um exame especializado – a polissonografia – gratuito, custeado pela rede do SUS. Dos mais de 38 milhões de motoristas de todo o país, estima-se que em torno de 20% a 30% deverão ser encaminhados para a polissonografia. Entre os sinais indicativos estão sobrepeso, alterações significativas na pressão arterial e tamanho da circunferência do pescoço.
Consumo de estimulantes – O exame periódico do sono, acredita o professor Marco Túlio de Mello _ coordenador do trabalho que está sendo analisado pelo Contran _ deve contribuir para reduzir o consumo de estimulantes entre os motoristas. ?A ingestão sistemática de substâncias químicas tem consequências no organismo. O profissional não vai querer o risco de ter a licença cassada”, acredita Marco Túlio. ?É preciso melhorar as condições de trabalho e de fiscalização”, lembrou José Natan Emídio Neto, presidente dos caminhoneiros.
Há dez anos, os especialistas e técnicos da Unifesp estão debruçados sobre a relação entre sono e direção. O trabalho, segundo o coordenador Marco Túlio de Mello, do Instituto do Sono da Unifesp, envolveu em uma das etapas cerca de 500 motoristas, caminhoneiros e condutores de ônibus, que voluntariamente se submeteram ao exame de polissonografia. Em outra fase, a instituição ouviu 400 motoristas no país, empregados de empresas de ônibus interestaduais e empresas de transporte. Dezesseis por cento deles admitiram já terem cochilado ao dirigir, enquanto 56% afirmaram conhecer colegas que já dormiram ao volante.
No Brasil, cerca de 50 mil pessoas morrem em acidentes de trânsito por ano, sem contar os que não resistem aos ferimentos e morrem nos hospitais e os que ficam mutilados. Só este ano, ocorreram 10.682 acidentes nas rodovias federais que cortam o estado, provocando 694 mortes e deixando 6.665 feridos. A estimativa é de que 26% e 32% dos acidentes são decorrência da sonolência e fadiga e 17% das mortes são causadas por causa do adormecimento ao volante.
Testes feitos em empresas de ônibus comprovam a eficácia dos exames de polissonografia. São exames em que o paciente passa o período de sono conectado a eletrodos e sensores ligados a um computador, para medir as atividades do cérebro.
Novas auto-escolas estão proibidas – Proprietários de Centros de Formação de Condutores comemoraram ontem a decisão do Detran/MG de suspender, por tempo indeterminado, a licença para abertura de auto-escolas em Minas. ?A abertura indiscriminada de escolas estava gerando uma concorrência predatória, na qual o candidato a motorista é quem acabava perdendo”, afirmou o presidente do Sindicato dos Proprietários de Centros de Formação de Condutores, Edmar José de Souza. A queda no índice de aprovação dos candidatos a motorista, que há cinco anos oscilava em 50 e 60% e hoje gira em torno de 40% em todo o Estado, segundo o delegado Adilson Águido, chefe do Serviço de Habilitação do Detran/MG, pesou na decisão.
Só na capital existem 380 centros e em todo o Estado são 1.800 empresas. Todos os estabelecimentos vão passar por vistoria do Detran. ?Vamos verificar as instalações, área física, habilitação dos profissionais, condições dos veículos e os documentos”, avisou o delegado. O Código Trânsito Brasileiro (CTB) estabeleceu, entre outras exigências, que os centros possuam sala adequada para aulas de legislação, direção defensiva e primeiros socorros, veículos estático para treinamento.
A concorrência desleal, segundo o Detran e o representante dos donos dos centros de formação, estaria levando, por exemplo, alguns empresários a baixarem o preço das aulas, reduzindo o tempo da hora/aula de direção, de 50 para 30 minutos e em alguns casos até dispensando o aluno de frequentar as aulas de legislação. Hoje, para tirar a Carteira Nacional de Habilitação, o candidato que não tem noções de direção, gasta, no mínimo, R$ 1.000, se procurar um centro de formação idôneo, calcula o dono do CFC Almada, Douglas Almeida de Oliveira. Há 40 anos instalado na capital, ele acredita que o aluno, sem noções de direção, vá precisar de cerca de 40 aulas de direção. Fonte: Hoje em Dia

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