São Paulo, 11.9.06 – Numa cidade onde, a cada dia, há mais de três acidentes envolvendo caminhões, onde um quebra nas ruas a cada 20 minutos e onde as principais propostas para ordenar esse tráfego estão emperradas, 41% dos motoristas cobram a limitação horária à circulação de veÃculos pesados como forma de reduzir congestionamentos. Essa é a terceira medida mais defendida pelos condutores em São Paulo para melhorar a fluidez do trânsito, atrás somente dos 71% que vêem como solução os investimentos em transporte público rápido e seguro e dos 52% que querem obras para expansão da malha viária.
Os resultados são de uma pesquisa da Abramcet (Associação Brasileira de Monitoramento e Controle Eletrônico de Trânsito, que reúne, entre outras, as empresas de radar) realizada em julho em oito capitais e no interior paulista.A defesa de transporte público e de mais ruas e avenidas se repete em proporções semelhantes em boa parte dos municÃpios pesquisados. Já a da limitação ao horário dos caminhões se revela como um fenômeno mais tipicamente paulistano. No Rio de Janeiro, por exemplo, somente 23% fazem essa reivindicação.”São Paulo tem esse problema em maior escala. Já existem algumas restrições aos caminhões, mas elas poderiam ser ampliadas”, diz Ivan Whately, do Instituto de Engenharia.O Rodoanel é uma das principais medidas defendidas por especialistas para ordenar a circulação de caminhões na capital de São Paulo. No entanto, apenas o trecho oeste está concluÃdo. No inÃcio deste mês, a Secretaria de Estado do Meio Ambiente concedeu o licenciamento ambiental para a face sul. A licença era o documento que faltava para a obra começar. A previsão é que a construção desse trecho termine num prazo de quatro anos.
Limite de horário
A cidade já tem limitação horária de circulação de veÃculos pesados especialmente em áreas centrais, mas há quem defenda com rigor a obrigatoriedade da entrega noturna. Para Whately, as respostas favoráveis aos investimentos em transporte público mostraram “uma lucidez” da população que a maioria dos polÃticos nunca teve. Dos motoristas paulistanos, 23% apontaram como sugestão contra a lentidão a utilização de carona, deixando os carros na garagem. A pesquisa encomendada pela Abramcet foi feita pelo instituto Synovate Brasil, com 1.500 entrevistados e margem de erro de 2,58 pontos percentuais.Ela também questionou a população sobre as medidas para diminuir os incômodos causados aos pedestres. A defesa de programas de educação no trânsito teve a adesão de 70% dos entrevistados na capital paulista, seguida por 58% que querem ampliação de passarelas, 58% que defendem melhor sinalização, 53% que cobram fiscalização para veÃculos em lugares proibidos e 23% que apontam como solução a redução da velocidade dos veÃculos.Para Silvio Medici, da Abramcet, a pesquisa sinaliza para uma cobrança de motoristas e pedestres por ações de educação no trânsito. “As campanhas educativas hoje são fracas. As pessoas têm consciência dos problemas, mas não são devidamente despertadas”, afirma Medici, em relação ao fato de a população defender muitas soluções com as quais nem sempre ela mesmo colabora.Na média brasileira, a proporção dos que defendem as passarelas é maior entre os mais jovens -62%, na faixa de 18 a 30 anos- do que entre os mais velhos – 47%, na faixa acima de 46 anos.
A explicação para os dados está ligada ao próprio vigor fÃsico dos pedestres. Os mais idosos têm dificuldades para subir passarelas -não è à toa que eles são as principais vÃtimas dos atropelamentos.
Folha de São Paulo