Florianópolis, 29.05.08 – Uma grave epidemia espalha-se pelo trânsito brasileiro, atingindo uma população cada vez maior de condutores. Mortal na maioria das vezes, ela atinge principalmente jovens. Sua maior incidência ocorre nas noites de finais de semana, nos feriados prolongados e nas férias. Pesquisas recentes mostram que alcança homens e mulheres condutores de veÃculos, passageiros e pedestres, indistintamente.
Interessante notar o efeito rebote dessa epidemia. A modernização das montadoras e a transformação do carro-carroça em um veÃculo moderno com tecnologia de ponta, no que se refere à segurança de motoristas e passageiros, resultaram num efeito contrário: em vez de atenuar a moléstia, acabou por estimular o comportamento de risco, agora impulsionado pela falsa idéia da segurança absoluta.
Montados em seus cavalos reluzentes e escondidos atrás dos vidros escurecidos de suas armaduras, esses novos cavaleiros se sentem senhores da vida e da morte. Desacreditam na força e no rigor da lei e se espelham em situações semelhantes e extremas, em que os réus foram apenas condenados a prestar serviços à comunidade, ou a doar uma cesta básica por algum tempo.
O comportamento de risco desses condutores é responsável pela diminuição da expectativa de vida de jovens, em porcentagem superior do que o provocado pela maioria das doenças. A superestimativa da habilidade de manejar o veÃculo em alta velocidade é o agente etiológico dessa manifestação de insanidade que se exprime na conduta de macho, de corredor habitual e de infrator contumaz.
Tudo isso estimulado pelo álcool e a droga, especificamente a cocaÃna, importantes vetores dessa moléstia. Estudos realizados em serviços de emergência e institutos médico-legais confirmam a positividade em alcoolemia em 61,4% de acidentados e 52,9% em vÃtimas fatais. Para o Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro, 80% dos acidentes de trânsito estão relacionados ao consumo de álcool.
*José Roberto de Souza Dias – Professor universitário, ex-diretor do Denatran/Diário Catarinense
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