O risco de apagão ameaça a atividade

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O risco de apagão ameaça a atividade

São Paulo, 12.8.08 – O setor de transporte rodoviário de cargas, que abrange 1,79 milhão de caminhões no País, está em plena crise de oferta. Com a demanda aquecida pelo crescimento do PIB e das exportações, já é comum a recusa de serviços de fretes por parte das transportadoras e há a retomada de reajustes de preços acima da inflação do setor. Neste ano, os reajustes foram de, em média 6%, chegando a 7,2% entre as maiores transportadoras do setor. Nem por isso, suas margens aumentaram significativamente. Entre 2001 e 2006, saíram dos 1,5% para 2%. Mas a intenção é ampliá-las ainda mais. Estas e outras conclusões foram apresentadas ontem durante o início dos trabalhos do XIV Fórum Internacional de Logística, realizado no Rio de Janeiro. Elas fazem parte da pesquisa “Transporte Rodoviário de Cargas: Perspectivas da Oferta e Demanda”, realizada pelo Instituto Coppead de Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com a coordenação do professor Paulo Fleury. Já, entre as embarcadoras, isto é, as empresas que contratam esses serviços, 40% pretendem aumentar o uso de frota dedicada. Esse grupo é formado principalmente pelas empresas que transportam grandes volumes de baixo valor agregado, e cujo transporte representa um alto impacto nos seus custos. As contratantes, além de procurarem contornar a situação ampliando o uso de frota dedicada, buscam também ampliar o uso da tecnologia da informação, adotando o gerenciamento de custos de transportes e a roteirização; 53% investem no transporte colaborativo; e boa parte está em pleno esforço de revisão da rede de logística. Para Fleury, o transporte rodoviário de cargas há anos vivia uma situação desfavorável. “Há 6 anos, o setor era marcado por uma oferta exagerada dos autônomos, que trabalhavam com caminhões usados, excesso de peso nos transportes, excesso de horas trabalhadas por frete, aviltando os seus preços”, conta. As tarifas, conta ele, sequer cobriam 40% dos custos e sequer remuneravam a manutenção e a renovação da frota. Em média, seus caminhões tinham 21 anos, no caso dos autônomos, contrastando com a média de 10 das maiores empresas do setor. Hoje, os autônomos representam 56% do mercado, frente a uma participação de 43% das grandes empresas e 0,4% das cooperativas. Com o PIB crescendo desde 2005 a 4,7% ao ano e as exportações nesse período aumentando a 18% ao ano, a demanda por transporte rodoviário está maior que a oferta. “Em parte isso se deve também à falta de investimentos em outros modais, principalmente as ferrovias”, diz. A demanda das ferrovias também cresceu de 162 bilhões de TKU para 232 bilhões de TKU entre 2001 e 2006. Com isso, os 110 principais embarcadores do País estão tendo dificuldade de usá-las. Segunda a pesquisa, 38% não as usam e 22% não as usam, apesar de o terem tentado sem sucesso. Apenas 21% estão satisfeitas com o serviço das ferrovias que utilizam. Para Fleury o cenário tende a piorar com a interiorização da produção agrícola. “Estima-se que a produção de soja cresça 5% ano de hoje a 2011; e o mais preocupante é a cana de açúcar: ela tem sofrido um aumento médio de produção desde 2005 da ordem de 14% ano”, enumera Fleury. Com isso, a percepção das grandes transportadoras em 81% dos casos é de que haverá uma grande demanda no setor e 19% apontam para um aumento da demanda por transportes rodoviários restrito a apenas alguns setores. Com este cenário em vista, 57% das transportadoras acredita que existe um risco real de “apagão” no setor. Para 32% delas esse risco existe, mas é parcial. Entre as 11% que descartam um risco de desabastecimento dos serviços rodoviários de carga estão exatamente as empresas que têm frota maior, trabalham para clientes de grande porte, geralmente sob contratos de carga e com maior produtividade em termos de quilometragem/veículo. Hoje a capacidade de oferta dessas empresas está no limite. Apenas 20% trabalham com alguma folga; 52% estão sem folga alguma no seu atendimento; e 28% simplesmente não conseguem dar conta de toda a demanda. A pesquisa do Coppead indica ainda que segundo as transportadoras, o maior risco de não atendimento dá-se nos seguintes setores: higiene e cosmético (71%); indústria farmacêutica 57%; e química e petroquímica, 60%. Assim, o setor de transporte de carga rodoviário está com a faca e o queijo na mão, dando-se ao luxo de até recusar encomendas e clientes. Em 82% dos casos, essas empresas negaram-se a realizar algum transporte pelo menos uma vez nos últimos 12 meses. Para 74% delas, os motivos alegados foram ganhos pouco atrativos, e 38% por falta de capacidade de atendimento.
Fonte: Gazeta Mercantil

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