Florianópolis, 3.7.09 – Criada com a justificativa de frear o furto e o roubo de automóveis, a instalação obrigatória de rastreadores e bloqueadores em todos os veÃculos zero-quilômetro no Brasil deverá aumentar os preços nas concessionárias em cerca de R$ 1 mil. E não há garantias de que a medida tenha eficácia. Portaria do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) determina que o sistema de rastreamento adotado pela indústria brasileira seja o Global Positioning System (GPS).
Uma resolução anterior do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), divulgada em 1º de agosto, havia estabelecido a obrigatoriedade da instalação do kit antifurto em todos os carros novos a partir de agosto de 2009. Agora, o governo federal especificou as normas técnicas que os equipamentos devem seguir. O perÃodo de dois anos para a decisão entrar em prática servirá para a indústria automobilÃstica se adaptar.
O GPS é um dispositivo instalado nos carros que, ao enviar sinais a satélites e recebê-los de volta, permite localizar os veÃculos. A maioria dos modelos custa R$ 1 mil. Para habilitá-lo, é necessário pagar uma mensalidade ao redor de R$ 100.
Como a habilitação do serviço não é obrigatória e boa parte da frota brasileira é segurada, pagarão esse valor os motoristas que desejarem manter o rastreador em funcionamento. Os demais, porém, acabarão arcando com o custo de um aparelho que não terá utilidade.
O bloqueador – dispositivo que impede o funcionamento do veÃculo em caso de furto ou roubo – sairá obrigatoriamente em funcionamento da fábrica. Os modelos mais simples custam entre R$ 90 e R$ 260.
As montadoras já haviam anunciado que repassariam o custo de aquisição do kit antifurto aos consumidores. Se isso se confirmar, em valores atuais o acréscimo no bolso dos motoristas ficaria entre R$ 1 mil e R$ 1,2 mil. Para o consultor e professor universitário Marcos Rolim, o custo é compensado pelo impacto da medida no mundo do crime:
– Roubo e furto de carros são crimes de oportunidade. Quando essa ação é dificultada, a tendência é que esse tipo de delito caia muito.
O corretor de seguro de automóveis Moacir Ferreira não acredita na eficácia do kit antifurto:
– Poucos farão a manutenção do serviço, pagando mensalidades. Por ser de alto custo, acredito que será lançado, mas não utilizado.
Ele conta que hoje apenas 5% dos veÃculos segurados, na Capital, contam com rastreadores.
Tire suas dúvidas
Quando começa a vigorar a exigência de rastreador e bloqueador?
A partir de agosto de 2009, todos os veÃculos novos deverão sair da fábrica com esses aparelhos instalados.
Todos terão de instalar o rastreador e o bloqueador?
Não. Os carros fabricados antes de agosto de 2009 não precisarão instalar os equipamentos.
O rastreador por satélite sairá funcionando da fábrica? É obrigatório pagar pelo serviço?
Não. O rastreador será instalado em todos os carros, mas o motorista só vai colocá-lo em funcionamento se quiser. Se desejar colocar o rastreamento de seu carro em funcionamento, deverá contratar o serviço de uma empresa de monitoramento e pagar mensalidade. Hoje, ela fica em torno de R$ 100.
Qual o tipo de bloqueador que será instalado?
O Denatran não determinou um tipo especÃfico. A norma diz que ele poderá ser acionado localmente pelo motorista, ou de maneira remota.
A instalação dos aparelhos terá impacto nos seguros?
Teoricamente, sim, porque o rastreador de satélite aumenta o Ãndice de recuperação dos veÃculos. Há seguros que já oferecem desconto de 30% para quem instala rastreador. Isso deve se manter. Também poderia haver uma redução generalizada no valor dos seguros se a medida provocasse uma redução nos furtos e roubos de automóveis no paÃs.
Vale a pena habilitar o rastreador para reduzir o valor do seguro?
Depende. No caso de um seguro oferecer 30% de desconto, por exemplo, o valor economizado teria de ser superior ao gasto com a mensalidade do GPS ao longo de um ano. Isso deverá ser compensador apenas para seguros mais elevados – ao redor de R$ 4 mil.
Há possibilidade de os ladrões removerem o rastreador?
Sim, visto que a maior dificuldade atualmente é a de localização dos equipamentos nos carros. Se forem instalados em série, no mesmo local para cada modelo, essa informação logo chegará às quadrilhas.
Especialista vê com ceticismo a medida
Especialista em segurança no trânsito e presidente do Movimento Nacional de Educação no Trânsito (Monatran), Roberto de Sá, destaca que o kit antifurto será analisado somente após a concretização da implantação já que a iniciativa pode ser abortada, como ocorreu com o kit de primeiros-socorros. – Só acredito quando for realmente executado. Pode ser de grande importância. Mas será que as indústrias automobilÃsticas vão aceitar ficar com as despesas? – questionou.
Instalador de acessórios para veÃculos na Capital, Adriano Foletto afirmou que a medida de instalar os rastreadores nas fábricas pode dificultar a ação dos ladrões.
– A princÃpio não facilitaria pois viria com o lugar adequado e de difÃcil remoção – disse.
Mas considera que as lojas de equipamentos de segurança poderão oferecer o serviço com um menor valor.
No inÃcio do ano, Adriano passou por um curso para instalar aparelhos de GPS em veÃculos diretamente com o fabricante. Até agora, instalou em três veÃculos, todos da Capital.
– Em quatro horas, o rastreador é implantado no veÃculo. Para a operação, o proprietário desembolsa R$ 1 mil. Mas não acredito que o serviço terá grande procura.
A Associação Nacional dos Fabricantes de VeÃculos Automotores (Anfavea) informou que está analisando as determinações do governo federal.
Fonte: Diário Catarinense