Lages, 25.1.06 – Pouca coisa mudou na Serra Catarinense e na Grande Florianópolis em um ano. O Planalto Serrano, que aguardava a retomada das obras do Aeroporto Regional de Correia Pinto, viu as máquinas quase finalizarem a primeira etapa do projeto antes de os recursos acabarem e tudo ser paralisado de novo. A conclusão do trecho da BR-282 entre Lages e Campos Novos também pouco avançou. Apenas alguns quilômetros entre São José do Cerrito e Lages estão em obras. E as quedas de barreiras seguem intocadas.
Cercada por estradas federais em péssimas condições (BR-116, BR-282 e BR-470) e com um aeroporto regional que já teve as obras paralisadas duas vezes, a Serra Catarinense atrasa seu desenvolvimento econômico, perdido no emaranhado precário da infra-estrutura. Segundo o presidente da Associação Comercial de Lages, Antônio Floriani, em um ano, quase nada mudou.
– O aeroporto regional, que era nossa aposta para angariar investimentos privados na região, foi novamente paralisado e não há garantias de que as obras serão retomadas no curto prazo. A BR-282, que leva ao Litoral, tem quedas de barreiras há dois, três anos, sem que qualquer medida seja tomada. Fica difÃcil apostar no crescimento – lamenta.
Desde outubro do ano passado, as obras foram paralisadas por falta de repasse do governo federal. O pior é que as obras da primeira fase estavam praticamente concluÃdas.
O diretor de Transportes Aeroviários do Departamento Estadual de Infra-Estrutura (Deinfra), Dilney Cabral Filho, explica que a União tem que repassar R$ 6,3 milhões para a empreiteira responsável pela obra. Se isso for feito logo, em 90 dias a primeira etapa pode estar concluÃda, passando diretamente para a segunda fase, que já tem projetos prontos para o terminal de passageiros, acesso rodoviários e equipamentos de vôo.
– Esta obra já parou no ano passado também por problemas de repasse de verbas federais. A parte do governo estadual está em dia – destaca.
Vários projetos estão paralisados junto com as obras do aeroporto. O desenvolvimento do cultivo de flores em Urupema, alternativa econômica para a região, depende de uma logÃstica de transporte rápido para garantir que o produto, altamente perecÃvel, chegue aos destinos consumidores. Maior produtora de maçãs do paÃs, a Serra também lamenta a dificuldade de escoamento da produção pelas BRs 116 e 282 e a falta de armazenamento frigorificado nos portos para a fruta, que precisa de conservação constante a zero grau centÃgrado.
Paralisia da BR-282 já dura décadas
As obras de conclusão na pavimentação da BR-282 ainda dependem de análise sobre a possibilidade de superfaturamento. Uma pendência que dura décadas e mantém em completo isolamento comunidades inteiras, de Vargem a São José do Cerrito. O desenvolvimento econômico não tem como chegar nestes municÃpios, uma vez que a rodovia federal sequer tem o traçado definido. Conforme as chuvas, o trânsito se torna impraticável e a viagem de pouco mais de 70 quilômetros pode demorar até quatro horas.
– Para a Serra, a conclusão seria fundamental para revitalizar a economia das comunidades locais. O trânsito é desviado da região porque os motoristas optam por dobrar o percurso, trafegando pela BR-470, que é asfaltada – diz Floriani.
O trecho entre Lages e São José do Cerrito está quase concluÃdo, com o Batalhão de Engenharia de Lages garantindo o andamento das obras no local. Outra reivindicação dos empresários da região, que queriam utilizar o transporte ferroviário através dos ramais da concessionária ALL que atravessam a região, não foi atendida. As negociações iniciadas há um ano deram em nada.
Turismo precisa de investimentos
As obras de duplicação na BR-101 Sul na Grande Florianópolis são as mais atrasadas de todo o trecho catarinense. Sequer a vegetação foi retirada das margens da rodovia. Na Capital, os congestionamentos são cada vez mais freqüentes em gargalos como o acesso à Lagoa da Conceição e no afunilamento da ponte em direção à Via Expressa.
O coordenador do DNIT/SC, João José dos Santos, explica que a primeira empresa que recebeu a concessão dos lotes de Palhoça faliu e a atual assinou contrato em junho do ano passado, seis meses depois dos outros, acarretando atraso.
Na Grande Florianópolis, muitos municÃpios exploram o turismo como principal atividade econômica, porém os empresários do setor lamentam a falta de investimentos.
– Para que o turismo possa crescer é preciso que os turistas cheguem ao seu destino, por isso as rodovias federais são importantes, além da ampliação do Aeroporto HercÃlio Luz – diz o presidente da Associação Brasileira de Hotéis, João Eduardo Moritz. Já os engarrafamentos na Avenida das Rendeiras afetam o setor de restaurantes e bares, conforme o presidente da Abrasel/SC, Luciano Bartolomeu.
Pontos crÃticos
A estrada entre Campos Novos e Lages nem parece uma rodovia federal. Mas é um trecho de pouco mais de 70 quilômetros da BR-282, que há décadas espera por pavimentação. Trafegar na rodovia significa comer muita poeira ou, na pior das hipóteses, atolar na lama. Com suspeitas de superfaturamento, o projeto da obra se arrasta no Tribunal de Contas sem que nada seja feito para garantir o crescimento econômico da região. Conforme João Manoel dos Passos, morador de Vargem, municÃpio localizado à s margens da rodovia, o isolamento conduz ao êxodo rural na região. Grande fonte de esperança para revitalização da economia da Serra, o aeroporto de Correia Pinto está com as obras paralisadas por falta de repasses. Apenas três pintores ainda trabalhavam no canteiro de obras, fazendo a sinalização ao lado da pista já pronta. Faltam apenas a pavimentação e outros poucos retoques.
Entre São José do Cerrito e Lages, as obras da BR-282 estão quase concluÃdas. Foram liberados R$ 5 milhões do governo estadual e R$ 3 milhões da União. A comunidade local e deputados fizeram um apelo ao Deinfra para que liberasse os R$ 2 milhões que faltavam de parte da União para o asfaltamento. Só assim garantiram que o trabalho de terraplenagem já realizado não fosse perdido por causa das chuvas.
A descida da Serra Catarinense pela BR-282, em Alfredo Wagner, é um dos trechos mais perigosos da rodovia. Sem acostamento, com o asfalto em péssimas condições e sinalização encoberta pela vegetação, o local ainda tem muita neblina e vários pontos com queda de barreira. Ainda assim, muitos motoristas arriscam ultrapassagens perigosas, sem visibilidade, aumentando as estatÃsticas de acidentes no local.
Na Grande Florianópolis, um dos problemas recorrentes de infra-estrutura é a falta de saneamento básico. As praias que atraem milhares de turistas todos os anos são inundadas a olhos vistos por esgotos sem tratamento. A longo prazo esta situação vai acabar com uma das principais fontes de renda da região. Segundo a Secretaria de Infra-estrutura, o governo aguarda liberação de recursos para sanear todo o Estado.
A BR-116 teve uma das menores dotações orçamentárias para recuperação no ano passado e este ano o drama se repete. Recebeu apenas R$ 4,4 milhões para recuperação da pista e sinalização. A situação da pista é precária. Buracos enormes obrigam o trânsito a desvios perigosos, com circulação por uma única pista. Até o abrigo da PRF na BR-116 precisa de reformas, conforme o chefe do posto, Newton Machado. Na Serra do Espigão, um bueiro entupido causa erosão na pista.
Caminhoneiro há 6 anos, Durval Paim, de 27 anos, trocava o pneu estourado na BR-116, próximo a Santa CecÃlia. Carregado de toras de madeira, Paim estourou o pneu num buraco da estrada, a caminho de OtacÃlio Costa, no Planalto Serrano. – Estas estradas só dão prejuÃzo para a gente. Não vale mais a pena transportar madeira. Apenas de manutenção, se gasta R$ 2 mil por mês. Ou é pneu que estoura ou são as molas que não agüentam os buracos da rodovia. E o valor do frete não compensa mais isso e nem o risco que se corre dirigindo nas estradas do Estado – lamentou.
O asfaltamento do acesso a Frei Rogério por Curitibanos é uma iniciativa do governo estadual, que está pavimentando 36,6 quilômetros da SC-446, com previsão de término em agosto deste ano. O agricultor Vanderlei Franz, morador de Frei Rogério, comemora a obra. – Sem asfalto não tem como a gente trabalhar. Eu cultivava frutas e abandonei a produção porque ficava ilhado na propriedade em tempos de muita chuva e não tinha como escoar a produção. Agora posso retomar minha atividade – conta. Fonte: Diário Catarinense