Brasil perde dinheiro e vidas

São Paulo, 16.7.07 – Todos os anos, 2.500 motoristas de cami-nhão morrem nas estradas brasileiras. Os acidentes com veículos de transporte de cargas representam um prejuízo para o país de R$ 9,7 bilhões por ano. De olho nestas estatísticas, empresas e entidades do setor de transporte de cargas estão pensando na segurança como investimento, identificando as causas do pro-blema e buscando soluções que passam pela melhoria da infra-estrutura das rodovias e pelo treinamento de motoristas. A segurança como investimento foi o tema deste ano do Fórum Volvo de Segurança no Trânsito, realizado no início deste mês, em São Paulo.
As pesquisas dão conta de que a maioria dos acidentes são provocados por falha humana. Segundo o con-sultor de Riscos de Transportes da Chubb Seguros, Euler Oliveira Alvarenga, os fatores humanos que contribuem para os acidentes são: excesso de velocidade (presente em mais de 80% dos acidentes anali-sados pela Chubb); fadiga (causada principalmente pelos baixos fretes e curtos prazos de entrega); e o uso de rebites, medicamentos que mantêm o motorista acordado.
Geraldo Vianna, presidente da NTC & Logística (Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística), cita que 95% dos acidentes são atribuídos a falhas humanas. “Não quero tirar a responsabilidade do motorista, mas muitas vezes o que se classifica como falha humana tem um componente de infra-estrutura”, completa ele. “Uma ultrapassagem poderia não terminar em tragédia se a pista fosse dupla. Buracos e falta de sinalização também provocam situações em que, depois, a responsabilidade acaba sendo atribuída ao motorista”, reclama Vianna.

Causas

Alvarenga, da Chubb, diz que os fatores estruturais que contribuem para os acidentes são a má condição das estradas; prazos curtos de entrega; frete baixo; idade e manutenção inadequada do veículo; e fiscali-zação e punição ineficientes. Apesar das rodovias mal conservadas, a maioria dos acidentes graves acon-tece nos trechos em boas condições.
Para Alvarenga, a explicação estaria no fato de que, nestas estradas, os motoristas tentam recuperar o tempo perdido nas rodovias mal conservadas.

Redução de até 70% nos acidentes

As empresas que decidiram investir em segurança garantem que este é um bom negócio. José Guilherme Carvalho, gerente de Segurança, Saúde e Meio Ambiente da Transportadora Veronese, de São José do Rio Preto (SP), conta que em dez anos houve redução de 70% no número de acidentes envolvendo os transpor-tadores da empresa. Segundo ele, o investimento não é pequeno, mas sem ele é impossível a companhia dis-putar espaço no mercado.
Júnior Gasparin, diretor da Transportadora Nossa Senhora de Caravaggio, de Colombo, na região metropo-litana de Curitiba, diz que a empresa montou, há 6 anos, um centro de treinamento de motoristas. Neste perí-odo, de acordo com ele, o número de acidentes graves diminuiu 50%. Os motoristas iniciantes são treinados durante 30 dias. Depois, a reciclagem é feita a cada 6 meses.
O gerente de Frota da Rodoviário Schio, Rui Gasparetto, conta que a preocupação com a segurança surgiu da necessidade de a empresa oferecer um diferencial. A Schio passou a treinar os motoristas; comprou veículos novos; a velocidade máxima foi estipulada em 80 km/h; e a manutenção preventiva e corretiva passou a receber atenção especial. O índice de sinistralidade diminuiu 50% entre 2003 e 2006 na transportadora gaúcha que hoje tem sede em São Paulo.

Aqui e nos Estados Unidos, desastres são atribuídos a falhas humanas

Os problemas enfrentados pelo setor de transporte de cargas no Brasil não são muito diferentes daqueles verificados nos Estados Unidos. Dirigentes da American Trucking Associations (ATA) participaram do Fórum Volvo de Segurança no Trânsito e apontaram as semelhanças e diferenças entre os dois países. A entidade, formada em 1933, reúne 37 mil empresas que empregam mais de 600 mil motoristas. A ATA realiza fóruns, faz pesquisas permanentes em segurança, defende a concessão de financiamentos e promove o comprometimento da indústria com a segurança.
Dave Osiecki, vice-presidente da entidade, menciona que 90% dos acidentes nos EUA estão relacionados a fatores humanos. Esta é uma semelhança com o Brasil. Mas a idade média da frota norte-americana é de pouco mais de 6 anos. No Brasil, a idade da frota das empresas supera os 15 anos.
O presidente da ATA, Ray Kuntz, que está no cargo há pouco mais de um mês, apontou outro problema enfrentado pelas transportadoras norte-americanas, que também é verificado no Brasil: a dificuldade para contratar motoristas. Ele trata do assunto com propriedade porque é dono de uma empresa especializada no transporte de mobílias e tapetes. Só 8% dos candidatos a motorista são contratados pelas transportadoras nos EUA. A Ata estima que, em 2014, vão faltar 110 mil motoristas no país.
Segundo Kuntz, as empresas norte-americanas estão procurando motoristas entre determinados segmentos. As mulheres, os grupos de minoria étnica e os casais com idade a partir dos 50 anos estão na mira das trans-portadoras. A única exigência feita ao candidato é que ele saiba ler e escrever. Dave Osieck lembra que o salário médio de um motorista é de US$ 45 mil por ano.
Geraldo Vianna, presidente da NTC & Logística (Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística), confirma a falta de motoristas no Brasil. De acordo com ele, durante muito tempo a “mediocridade do desen-volvimento (econômico)” não exigia tantos profissionais. Agora a situação mudou.(VF)

Números

60% das cargas no Brasil são transportadas pelas rodovias.
São 1,65 milhão de quilômetros, mas só 10% pavimentados.
75% da malha rodoviária brasileira apresenta algum tipo de imperfeição, segundo a pesquisa CNT 2006.
3,4 milhões de motoristas atuam nos Estados Unidos, sendo 3,1 milhões em empresas e os outros são independentes.
13 vezes maior do que o número de acidentes com carro de passeio é o de sinistros com caminhões.
14 vezes maior é o índice de mortes no Brasil em comparação com o registrado nos Estados Unidos.1,5 milhão de caminhões formam a frota brasileira.
O setor de transporte de cargas fatura o equivalente a 6% do PIB.
3,75 milhões de empregos são oferecidos pelas companhias do setor de transporte de cargas no Brasil.
10 vezes maior do que com o roubo de cargas é o prejuízo que as empresas têm com acidentes de trânsito.
49% dos acidentes provocam perda total do caminhão. Numa batida mediana, o veículo fica parado cerca de 14 a 15 dias.

Compartilhe este post