Florianópolis, 3.7.07 – Duzentos e oitenta e quatro pessoas morreram em acidentes de trânsito registrados durante o primeiro semestre do ano nas rodovias federais que cruzam Santa Catarina. No total, ocorreram 6.959 acidentes, envolvendo 12.563 veÃculos. No saldo desta carnificina de ação continuada, que a ninguém surpreende mais, pois prevista e anunciada, incluem-se 4.374 feridos, muitos dos quais mutilados que carregarão para o resto de suas existências a marca da insânia do trânsito. Registre-se que o levantamento dos óbitos contempla apenas os ocorridos no local do acinte, e não as vÃtimas que morrem a caminho ou dentro do hospital, o que, em média, significa algo entre 20% e 30%. As explicações para o recrudescimento dessas estatÃsticas, que confirmam o trágico e vergonhoso segundo lugar de Santa Catarina no ranking nacional da chacina no asfalto, perdendo tão-somente para Minas Gerais, são inúmeras. Mas a primeira, diante da qual as demais empalidecem, é a imprudência e o desamor à vida, à própria e à dos outros, dos condutores de veÃculos.
O motorista brasileiro em geral, e parece que o catarinense em especial, mantém um comportamento pouco civilizado e um tanto jeca com o carro. Não raro nele identifica antes um sÃmbolo de poder e status que um comezinho meio de transporte, algo tÃpico de pessoas inseguras que, quando atrás de um volante, se transformam em “donos do mundo”. Uma particularidade esclarecedora revelada em recente pesquisa divulgada pelo Departamento Nacional de Trânsito: a maioria dos acidentes em estradas, em torno de 85% deles, acontece em retas, durante o dia e com tempo bom. Além disso, a frota nacional de veÃculos experimenta um crescimento explosivo, enquanto a infra-estrutura viária permanece a mesma há quase uma década, e no atual governo até mesmo a sua manutenção deixou de receber investimentos necessários. Onde estão sendo aplicados os recursos arrecadados com a chamada Cide, criada a pretexto de dar ao paÃs “estradas de primeiro mundo”. A decrepitude da malha viária federal chegou a um limite letal.
Campanhas de educação para o trânsito já consumiram milhões de reais ao longo dos últimos anos. Nem por isso conseguiram diminuir os números do morticÃnio. Hoje, a maioria das vÃtimas fatais é composta por jovens entre 19 e 25 anos. O Código de Trânsito Brasileiro (CTB), no qual tantas esperanças foram depositadas, eis que considerado, internacionalmente, de excelente técnica, igualmente não teve força para conter a maré montante da carnificina, que se nutre também da impunidade dos infratores, e avança com a precariedade da fiscalização, cujos recursos humanos e materiais são escassos. Enquanto isso, a morte nas estradas federais de Santa Catarina assume escala quase industrial, e vai deixando para trás tragédias humanas e prejuÃzos materiais gigantescos. Até quando suportaremos calados este massacre?
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