Florianópolis, 6.12.05 – Na última Operação Verão, 174 pessoas perderam a vida nas rodovias federais e estaduais em Santa Catarina. Para tornar menos trágica a temporada que começa oficialmente no próximo dia 21, os motoristas vão precisar de muita atenção e, especialmente, paciência ao volante. Com as obras de duplicação no trecho sul da BR-101, o péssimo estado de conservação das rodovias em geral e um fluxo até duas vezes maior de veÃculos durante os próximos meses, as estradas podem ser o grande vilão da alegria no Verão.
O maior perigo está na BR-101, a mais violenta do Estado, onde foram registradas 52 mortes na temporada passada. A expectativa da PolÃcia Rodoviária Federal é que o fluxo de veÃculos por dia chegue a 60 mil no trecho norte e 40 mil no trecho sul, o dobro da média em dias comuns.
Outras quatro rodovias federais apresentam maior movimento no verão: BR-470, BR-282, BR-280 e BR-116. Na segunda rodovia federal mais violenta em 2004, o verão na BR-470, no Vale do ItajaÃ, deve haver congestionamentos constantes no trecho urbano entre Gaspar e Indaial.
Já na BR-282, rota para turistas argentinos, o maior problema na rodovia se concentra entre Alfredo Wagner e Ãguas Mornas. No trecho de aproximadamente 70 quilômetros é comum muita neblina à noite.
Na BR-280, a preocupação está no trânsito próximo a Jaraguá do Sul, cidade do Norte catarinense que ficou em terceira mais violenta no paÃs em acidentes e mortes no trânsito a cada 100 mil habitantes em 2004. Outro ponto de atenção será o acesso a São Francisco do Sul.
Filas prometem ser longas nos acessos às praias
Da parte da Serra até o Extremo-Oeste, as polÃcias rodoviárias não apontam grandes problemas para o verão. Um ponto de atenção para a PolÃcia Rodoviária Federal é o encontro da BR-282 e BR-153, em Irani, no Meio-Oeste.
Motoristas costumam se confundir para dar a preferencial e, com isso, os acidentes no trevo são constantes.
Nas rodovias estaduais, a PolÃcia Rodoviária Estadual aponta cinco trechos complicados no Verão. Em Florianópolis, os caminhos para as praias do Norte e o Sul da Ilha, SC-401 e SC-405, respectivamente, devem ter filas longas e trânsito carregado quase todos os dias.
No Sul do Estado, os problemas se concentram nas SC-444, entre Balneário Rincão e Criciúma, e SC-445, que liga Urussanga a BR-101. No Norte, a SC-301, que liga Joinville a São Francisco do Sul, é outro ponto de congestionamento nos finais de semana.
No Sul, falta segurança no acostamento
O auxiliar de serviços gerais Gilmar da Silva Sorato, 42 anos, relembrou esta semana, mais uma vez, a morte do filho Alexandre Sorato. O rapaz de 17 anos foi atropelado na Rodovia Genésio Mazon (SC-445) a 200 metros de sua casa, em setembro. O motorista, embriagado, perdeu o controle do veÃculo e atingiu o rapaz.
Gilmar e outros moradores das comunidades próximas à rodovia, com apoio da Câmara de Vereadores de Urussanga, Sul do Estado, reivindicam ao Departamento Estadual de Infra-Estrutura (Deinfra) taxões e lombadas eletrônicas.
Superintendente regional do Deinfra, Lourival Pizzolo diz que cerca de 100 lombadas eletrônicas estão em processo de licitação no Estado e que uma delas foi solicitada para o trecho. Não há previsão de outras serem instaladas no local.
Somente este ano, a SC-445, ligação da BR-101 a Urussanga, a PolÃcia Rodoviária Estadual registrou quatro mortes e 34 feridos.
Como a estrada é plana, sem muitas curvas ou morros, os motoristas trafegam em alta velocidade. De acordo com o vereador Edson Manuel (PP), o Deinfra esteve no local, mas até agora nada ficou definido.
– Não há acostamento. Os pedestres e ciclistas, quando vêem um veÃculo transitando em alta velocidade em sua direção, ou morrem atropelados ou se atiram no mato – alerta Gilmar, que espera não perder mais os amigos em acidentes.
Serra tem trechos intransitáveis
No trecho da BR-282 que liga a Serra ao Litoral o pior cenário está entre o entroncamento da BR-470, em Campos Novos, e São José do Cerrito.
Ali, a rodovia federal é intransitável devido à inexistência de pavimentação. De Lages até Palhoça, o pior percurso é entre os municÃpios de Alfredo Wagner e Rancho Queimado. O asfalto, irregular, está cheio de remendos.
Já a pista da BR-116 não suporta mais o intenso movimento de caminhões. A rodovia é um dos principais corredores do escoamento da produção das indústrias do Nordeste gaúcho e das regiões serrana e Planalto Norte.
De Caxias do Sul, o caminhoneiro Valmor Soares dos Santos, 47 anos, passa uma vez por semana na BR-116. Ele reclama da situação da rodovia, principalmente nos trechos entre Lages e Vacaria (RS) e de Santa CecÃlia até a divisa com o Paraná.
– Não gosto de passar por aqui. É uma estrada perigosa.
Meio-Oeste sofre com o asfalto velho
Enquanto os motoristas do Litoral Sul de Santa Catarina convivem com a duplicação da BR-101, o que prevalece no Meio-Oeste são as operações tapa-buracos.
Para a PolÃcia Rodoviária Federal, que na região tem postos em Campos Novos e Vargem Bonita, os buracos são apontados como um dos principais causadores de acidentes e as restaurações, mesmo sem chuva, não são suficientes, segundo os patrulheiros.
Nos 340 quilômetros das três BRs (282, 470 e 153) que a PolÃcia Rodoviária Federal fiscaliza no Meio-Oeste, a média anual é de 500 acidentes e 30 mortes. Na BR-282, o problema é a sua idade. Com mais de 30 anos, esta estrada não tem mais condições de suportar o tráfego pesado, oriundo do escoamento da produção das agroindústrias e indústrias alimentÃcias.
Buracos são armadilhas na BR-282
A BR-282 é a principal rodovia que liga o Oeste ao litoral catarinense. No Verão, além do fluxo normal de caminhões que escoam a produção, e o trânsito local, a rodovia recebe milhares de turistas que migram da região para as praias.
A BR-282 serve ainda como rota de argentinos que entram por DionÃsio Cerqueira, no Extremo-Oeste. As condições da rodovia, no entanto, não estão adequadas para suportar o aumento de fluxo. Entre São Miguel do Oeste e Maravilha a rodovia tem vários buracos e falta acostamento em alguns pontos.
A ponte sobre o Rio das Antas está com o piso cheio de remendos. E a ponte sobre o Rio Chapecó, entre Nova Itaberaba e Nova Erechim, está em meia-pista devido à s reformas. Quem viaja constantemente pela região, como o taxista Valdir Sales de Abreu, de Chapecó, que vai duas vezes por ano com a famÃlia para Balneário Camboriú, reclama.
Travessia da BR-101, uma façanha para moradores
Preocupado com os constantes acidentes na BR-101 que passa em frente à sua casa, em Palhoça, Fernando dos Santos, 23 anos, não desgrudava do sobrinho Leandro dos Santos Júnior enquanto os dois caminhavam pelo perigoso acostamento da rodovia na tarde de terça-feira. A preocupação não é em vão. A BR-101 figura como a mais violenta do Estado e recebe o maior número de veÃculos na temporada. Apenas neste primeiro semestre, acidentes na rodovia tiraram a vida de 120 pessoas.
O trecho de 248 quilômetros de pista simples, entre Palhoça e Passo de Torres, é o mais violento, com a estatÃstica sangrenta de 72 mortes de janeiro a junho de 2005. A média de 20 mil veÃculos que trafegam por dia no local, aponta a PolÃcia Rodoviária Federal, deve dobrar no Verão.
– Aqui tudo fica parado nos finais de semana. Principalmente aos domingos, quando ocorre a maioria dos acidentes – diz Fernando dos Santos, que mora próximo ao acesso à Praia de Fora, no municÃpio de Palhoça.
Além do aumento de tráfego, as obras de duplicação dessa parte sul da BR-101 exigem que o trânsito seja interrompido ao menos três vezes por semana para a detonação de rochas. Nesta temporada de Verão, a PolÃcia Rodoviária Federal avisa que as obras prevêem seis pontos de detonação na rodovia.
Caminhoneiros pensam em trocar de rota na temporada
Os motoristas, porém, podem se prevenir contra prováveis transtornos e filas de veÃculos, uma vez que as detonações tem horários e dias pré-determinados.
O perigo da BR-101 não fica restritos ao trecho com pistas simples. Sinalização precária, pontes estreitas, aquaplanagem e trânsito lento são problemas também do trecho duplicado, de Palhoça para o Norte do Estado, que já registrou 48 mortes apenas no primeiro semestre deste ano.
Há uma década carregando produtos agrÃcolas entre Juazeiro (BA) e Porto Alegre, o caminhoneiro gaúcho Marcelo José Schneider, 31 anos, denunciou a precária sinalização na BR-101 na parte que já está duplicada.
– A sinalização do trecho é muito precária. Em estados como São Paulo e Minas Gerais, há quatro placas informando a mesma coisa. Quem não conhece se perde fácil por aqui – diz.
Como outros colegas, ele pretende evitar trafegar pela BR-101 no Verão. Muitos motoristas gaúchos, disse, devem utilizar a BR-116 como alternativa para atravessar SC.
SC-301 esconde curvas perigosas
O caminhoneiro Assis Santos, de 31 anos, trabalha há seis anos no trecho da SC-301, na Serra Dona Francisca, entre os municÃpios de Três Barras e Joinville, Norte catarinense. No calor, ele conta que dá uma parada no mirante, antes da curva que é considerada a mais perigosa do trecho, para esfriar a lona do freio, um dos principais problemas dos caminhões que descem a Serra.
Santos afirma que já passou por diversos acidentes ao longo desses seis anos e que geralmente eles ocorrem de madrugada, principalmente por causa da neblina e de imprudência dos motoristas.
– Eles vêem que tem uma reta e se esquecem de reduzir nessa curva perigosa.
Vendedores de caldo de cana há três anos, o casal Vanir e Araci Toledo cansam de ver esse tipo de acidente na velha Dona Francisca. Como no local não há telefone público e não funciona o telefone celular, eles tentam ajudar os motoristas que se acidentam e pedem que a PolÃcia Rodoviária Estadual, cujo posto fica em Campo Alegre, seja avisada por outros motoristas.
De acordo com a PolÃcia Rodoviária Estadual, o trecho de serra da SC-301, de cerca de 15 quilômetros, foram registrados, desde o começo do ano, 60 acidentes. A maioria deles na curva do mirante, fechada e logo após uma reta, e no inÃcio da serra. Nesses acidentes, duas pessoas morreram.
Na BR 280, trecho entre Joinville e São Francisco do Sul, Litoral Norte catarinense, a duplicação das pistas é a maior reivindicação dos motoristas que passam diariamente pela região. O projeto ainda está em fase de análise e não há previsão de quando sairá do papel. Enquanto isso, caminhoneiros como Edilson Caxak, de 32 anos, são obrigados a viajar com a atenção redobrada para chegar ao Porto de São Francisco do Sul.
– Muitas vezes os motoristas invadem a pista contrária para fugir de buracos ou fazer ultrapassagens forçadas e se jogam para cima do nosso caminhão – afirma.
Motoristas são chamados a fazer sua parte na campanha
As ações dos governos federal e estadual para alertar os motoristas nas estradas catarinenses no Verão serão discutidas terça-feira no Fórum Catarinense de Rodovias. Entre as alternativas, o Departamento Nacional de Infra-Estrutura e Transportes de Santa Catarina (DNIT/SC) pretende lançar uma página na Internet para informar ao motorista as condições do trecho sul da BR-101.
A página na Internet segue em construção. O endereço será www.duplicacaoBR101sul.com.br. A expectativa do DNIT/SC é lançar as informações a partir do dia 15 de dezembro.
Além do site, João José dos Santos, coordenador do DNIT/SC, informa que será lançada uma campanha intitulada Duplique Sua Atenção. Em espanhol, a campanha será chamada de Viaje Bien.
Dos 2,3 quilômetros de rodovias federais em Santa Catarina, Santos informou que o DNIT já recuperou 500 quilômetros de pista e acostamento e que ainda outros mil quilômetros crÃticos esperam a inclusão de recursos no orçamento da União.
Ele diz que para renovar a precária sinalização do trecho norte está sendo feita uma licitação pelo Ministério dos Transportes, válida para todas as estradas federais.
O Departamento Estadual de Infra-Estrutura (Deinfra) já começou a fazer os alertas aos motoristas desde o inÃcio de dezembro. Com fôlderes e cartazes, faz uma comparação dos acidentes as últimas temporadas. Deusdedit Santos, chefe da engenharia de tráfego do Deinfra, diz ainda que palestras em universidades e em escolas feitas por técnicos do Deinfra e policiais rodoviários estaduais.
As mais perigosas
Acidentes no primeiro semstre
Rodovias Mortes
BR-101: 120
BR-282: 62
BR-470: 55
BR-280: 18
BR-116: 13
Colabore – Você pode denunciar abusos e irregularidades
O motorista que flagrar em sua viagem ultrapassagens pelo acostamento, condução perigosa, alta velocidade, motoristas dirigindo embriagados e outras irregularidades nas estradas catarinenses pode ajudar na fiscalização. Qualquer abuso pode ser denunciado à s PolÃcias Rodoviárias Estadual e Federal. As autoridades do setor garantem que quem for denunciado não será multado, mas será parado e advertido.
Luiz Graziano, chefe do Núcleo de Comunicação Social da PolÃcia Rodoviária Federal, diz que a fiscalização será mais ostensiva nos finais de semana, principalmente sextas-feiras e domingo. Mas como as longas filas atrapalham o trabalho de fiscalização, ele avisa que os próprios motoristas podem colaborar com denúncias.
– Os motoristas podem nos ajudar indicando quem são os infratores que estão tornando o trânsito mais perigoso. Pelo telefone de emergência 191, quem encontrar alguém cometendo irregularidades pode fazer a denúncia. O motorista denunciado não será multado, mas será parado e orientado – diz Graziano.
Fonte: Diário Catarinense