Acidentes: 1.529 motoristas de caminhão morreram em 2004

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Acidentes: 1.529 motoristas de caminhão morreram em 2004

São Paulo, 4.7.06 – Os buracos estão lá. A sinalização,nem sempre. O sono e o cansaço são velhos companheiros de quem dirige até 24 horas cruzando o país para fazer com que as cargas cheguem a seu destino. Esse conjunto de fatores faz com que a vida dos caminhoneiros no Brasil realmente se transforme numa profissão de perigo. De acordo com levantamento da Polícia Rodoviária Federal feito com base em dados de 2004, dos 112.372 acidentes registrados naquele ano, 40.107 envolviam veículos de carga, o equivalente a 35,6%. E dos 6.119 mortos, 1.529 eram motoristas de caminhão, ou seja, uma em cada quatro vítimas dirigia um veículo de carga. “A solução para o problema das estradas está nessas estatísticas”, afirma a economista Iêda Lima, doutora em Engenharia de Transporte pela USP (Universidade de São Paulo).
Segundo Iêda, que é consultora e coordenadora da unidade de gerenciamento do projeto Impactos Sociais e Econômicos dos Acidentes de Trânsito nas Rodovias Brasileiras do Ipea/Denatran (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada/Departamento Nacional de Trânsito), para se ter uma noção de como os números podem contribuir para a solução desse problema, apenas 6 das 104 rodovias federais monitoradas pela PRF foram responsáveis por 52% dos acidentes totais em 2004 e por cerca de 47% dos acidentes com vítimas fatais.

Dos 6.119 mortos, 19% eram pedestres; 50% eram condutores e 31% eram passageiros. “O conhecimento dessas informações, que podem levar à identificação das rodovias e trechos de maior ocorrência, dos tipos de acidentes mais freqüentes, da correlação entre os tipos de acidentes e da gravidade das vítimas, permitem focar as ações preventivas e corretivas para redução da gravidade e da quantidade dos acidentes”, diz Iêda.

Outro grande problema apontado pela consultora é a ausência da autoridade policial nas rodovias. “É fundamental a monitoração das rodovias por câmeras e por meio de viaturas, circulantes e paradas, em locais estratégicos, para inibir as infrações, especialmente a relacionada com a velocidade acima da máxima permitida por lei. Embora o excesso de velocidade participe com apenas 11% das causas dos acidentes ocorridos
em 2004 nas rodovias federais, esse tipo é o mais grave.”

A PRF tem um projeto para a instalação e distribuição de viaturas, postos e delegacias ao longo das rodovias federais, com o objetivo de garantir que 90% das ocorrências atendidas tenham tempo de resposta inferior a 30 minutos e que o tempo máximo não ultrapasse 60 minutos.

O balanço de 2005 ainda não está fechado, mas, de acordo com o chefe do Núcleo de Estatísticas da PRF, José Nivaldino Rodrigues, já é possível saber que o ano passado apresentará números maiores, a partir do que revelam as prévias do primeiro semestre. De janeiro a junho do ano passado, foram 20.199 acidentes com veículos de carga, com 1.427 mortos, 7% maior do que a média de mortos de um período equivalente a seis meses em 2004 (1.333).
“É fundamental seguir a algumas recomendações como manter a distância de segurança em relação a outro veículo, que é de 15 a 20 metros, evitar horários críticos de sono, não correr, observar a sinalização e o momento ideal de ultrapassar e manter-se sempre em estado de alerta”, afirma Rodrigues.
De acordo com dados da Polícia Rodoviária Federal, enquanto os buracos e defeitos nas vias foram responsáveis por 4% dos acidentes com caminhões em 2004, a falta de atenção foi a causa em 28% dos casos. Somando com os fatores sono (4%), excesso de velocidade (8,6%) e ultrapassagem indevida (5%), a falha humana responde por 44% dos acidentes, sem contar fatores como desobediência à sinalização (3,5%).
De acordo com Dárcio Centoducato, diretor de gerenciamento de riscos da Pamcary, empresa que realizou um estudo sobre acidentes envolvendo caminhões, a verdadeira culpada é a oferta de mão-de-obra ser maior do que a procura pelo serviço. “Mensalmente, nosso cadastro nacional de motoristas, que já possui 1,02 milhão de nomes, recebe o acréscimo de cerca de 6.000 novos profissionais. Como a procura não cresce na mesma proporção, o custo do frete normalmente é muito baixo. O caminhoneiro, por isso, busca carregar o máximo possível, dilatando sua jornada de trabalho. Assim, o número de acidentes alcança um patamar elevadíssimo, e as principais causas são o excesso de velocidade e o cansaço do motorista”, analisa Centoducato.
Pelos cálculos da Pamcary, empresa especializada em gerenciamento de logística e seguro para transporte de cargas, a cada cem sinistros com mercadorias, verifica-se um prejuízo médio de 28% no valor transportado. Anualmente, as resultantes dos acidentes com veículos de carga chegam a R$ 9,7 bilhões no Brasil.
De acordo com o chefe do Núcleo de Estatísticas da PRF, José Nivaldino Rodrigues, embora as condições das estradas sejam realmente precárias, os campeões são colisões traseira e lateral, juntamente com saída de pista e tombamento. Em 2004, dos 40.107 acidentes registrados pela PRF, esses fatores foram respectivamente responsáveis por 10.022, 9.557, 3.993 e 3.889 acidentes.
Para não cair nas armadilhas das estradas, que pegam até os mais experientes, alguns motoristas desenvolvem técnicas próprias de prevenção de acidente. Dimas da Silva Ferreira, 44 anos, trabalha como caminhoneiro há 19 anos. Ele, que já perdeu muitos amigos vítimas de acidentes, conhece bem os perigos que a profissão oferece e segue normas que ele mesmo estabeleceu. “Sempre procuro trabalhar de 5h às 22h, pois de 22h às 5h tenho sete horas para dormir. Além disso, a cada duas horas e meia paro para descansar durante 15 minutos. Desço, dou a volta no caminhão para relaxar. Outra técnica é estacionar o veículo um pouco longe do local do almoço ou em paradas para banho, assim sou obrigado a fazer uma pequena caminhada”
As transportadoras também fazem a sua parte para combater os acidentes. De acordo com Luiz Paulo Viana, coordenador de segurança da Usifast, as campanhas educativas internas são fortes aliadas. “Além da conscientização, pelo menos uma vez por ano oferecemos um curso de reciclagem, com dicas de direção defensiva.”
Para incentivar os transportadores a serem verdadeiros funcionários padrões, a Usifast criou um sistema de pontuação que contabiliza as falhas e a produtividade. Quem soma mais pontos é premiado, com folgas, por exemplo, e ainda tem direito a foto com a família.

“Outras precauções que tomamos diz respeito a exigências de velocidade,
que não pode ultrapassar 80 km/h e é devidamente fiscalizada pelo tacógrafo”, diz Viana. O presidente da ABTC (Associação Brasileira dos Transportadores de Carga), Newton Gibson, destaca que as empresas dão total apoio aos motoristas, inclusive com suporte de treinamento e requalificação constante. “Temos parceria com o Sest/Senat, que oferece cursos para os motoristas e apostamos na conscientização para amenizar problemas como as más condições das rodovias e o estresse da profissão”, diz Gibson.
Minas Gerais ocupa o primeiro lugar em acidentes com caminhões de carga. De acordo com o levantamento da PRF, com base em dados de 2004, as rodovias federais que cruzam o Estado foram palco de 7.506 acidentes, 18% do total nacional. O resultado: 541 mortos. São Paulo é o vice-campeão do ranking das tragédias nas estradas, com 4.290 (10,6%) e 152 mortos. Em terceiro lugar aparece Santa Catarina, com 3.826 acidentes (9,5%) e 246 vítimas fatais.
De acordo com José Nivaldino Rodrigues, Minas lidera o ranking porque tem a maior malha viária do país. “Além de trechos perigosos como nas BRs 381, 262 e 116.” Já São Paulo aparece em segundo lugar porque é responsável pelo maior fluxo de veículos de cargas, uma vez que é a capital econômica brasileira. “No caso de Santa Catarina, a explicação é a configuração do traçado da estrada, com muitas curvas perigosas”, diz.
Ao analisar os trechos, o maior índice de periculosidade está em São Paulo, na BR-116, entre o km 200 e o km 250. Sozinhos, esses 50 km registraram 316 acidentes, 7% das tragédias nas rodovias paulistas. O segundo trecho mais perigoso está em Minas, na BR-381, entre o km 450 e o km 500. Em 2004, foram 285 acidentes, 3,7% do total de
sinistros do Estado.

SEGURANÇA
Dicas para o caminhoneiro
Observar as normas regulamentares de circulação
Descansar 15 minutos a cada 2h30 dirigidas
Manter a distância de segurança, de 15 a 20 metros do outro veículo
Não abusar da velocidade, o indicado é 80 km/h e 60km/h em caso de chuva
Praticar direção defensiva e procurar cursos de reciclagem
Evitar dirigir em horários que favoreçam o sono
Não esquecer que os veículos maiores são responsáveis pela segurança dos veículos menores

Fonte: Datatran /DPRF/Ipea

PRODUTOS QUÍMICOS

Eles não são campeões de estatísticas, mas os estragos que causam são
maiores do que qualquer outro tipo de acidente. Os sinistros envolvendo cargas químicas correspondem a menos do que 0,01% dos números oficiais. No primeiro semestre de 2005, dos 190 mil veículos acidentados, apenas 1.590 transportavam produtos perigosos, de acordo com a Polícia Rodoviária Federal. Ou seja, uma participação de 0,008%. “Além dos riscos de vida, eles provocam danos ambientais e exigem um cuidado especial da PRF e dos técnicos dos órgãos ligados ao meio ambiente”, ressalta Glória Benazzi, assistente técnica de produtos perigosos da NTC (Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística).
De acordo com Glória, os motoristas que transportam tais produtos são obrigados a fazer treinamentos especiais para aprender a armazenar corretamente a carga e estar preparados para eventuais acidentes. “Esta é uma exigência muito importante e simples de ser cumprida, pois o tempo de duração é curto e o custo é baixo”, enfatiza.
O Sest/Senat oferece cursos específicos com 16 horas de duração. Associados pagam R$ 34. Quem não for sócio paga R$ 90. E aqueles que comprovarem que são autônomos, não pagam nada. Além da direção defensiva, eles aprendem como arrumar a carga, noções de primeiros socorros, de meio
ambiente e combate a incêndios.
De acordo com a coordenação dos cursos do Sest/Senat Carandiru, em São Paulo, somente nessa unidade formam-se no mínimo 20 alunos por mês. Segundo Glória, uma das principais causas de acidentes envolvendo não apenas produtos perigosos, mas também o transporte de qualquer outro tipo de produto, é a falta de fiscalização. “A responsabilidade é da PRF, mas muitas vezes o contingente humano é insuficiente”, destaca.
O chefe do Núcleo de Estatísticas da PRF, José Nivaldino Rodrigues, esclarece que os policiais rodoviários são devidamente treinados, mas não têm um preparação específica para lidar com os acidentes com cargas perigosas. “Nosso papel é isolar a área, fazer a sinalização, prestar os primeiros socorros e acionar os órgãos ambientais
responsáveis por cuidar desse tipo de acidente”, diz Rodrigues.

FONTE: Revista da CNT

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