O labirinto das placas

Dionisio Cerqueira, 10.9.07 – Na Mitologia grega, o Minotauro era uma criatura meio homem, meio touro que vivia em um labirinto. O lugar era cheio de divisões e de corredores, onde só a muito custo era possível achar a saída. Cenário parecido vivem os motoristas que trafegam pelas estradas catarinenses.
Guiar-se pelas placas de sinalização pode ser tão penoso como livrar-se de um labirinto. Ou tão fatal como o destino dos jovens enviados para alimentar o Minotauro.
Enferrujadas, apodrecidas, ilegíveis. O estado das placas – tecnicamente chamadas de sinalização vertical – é assustador em regiões como o Oeste do Estado. Algumas estão perfuradas por tiros; outras pichadas ou carcomidas. O desgaste pelo tempo é visível, assim como o matagal que as encobre nas margens das rodovias municipais, estaduais ou federais. Os sinais do fogo também são claros. As queimadas – sejam provocadas por cigarros acesos jogados pelas janelas dos veículos ou pela queima do mato para o preparo da lavoura – transformam a madeira em tição. Em meio a este panorama, motoristas trafegam.
Dez dias atrás, um encontro em Posadas, na Argentina, discutiu a questão da execução de obras de asfaltamento da BR-282 (São Miguel do Oeste-Paraíso) e da Rota 27 (Paraíso-San Pedro) no sentido de encurtar as distâncias entre São Paulo e Buenos Aires. As duas cidades são importantes no processo de escoamento de cargas para o Mercosul. O encontro contou com as presenças do presidente da Federação das Empresas de Transporte de Carga e Logística de Santa Catarina (Fetrancesc), Pedro Lopes, e do presidente da Federação dos Transportadores da Província de Misones, Rodolfo Néstor Sauer. Lopes defendeu não apenas melhorias na rodovia, mas também na sinalização:
– Quem transita por Santa Catarina, especialmente de Chapecó em direção a Dionísio Cerqueira, sente-se perdido – afirmou.
Lopes acredita que está na hora de os técnicos responsáveis pelos projetos de melhorias nas estradas incluírem também a sinalização vertical. Se não, diz, fazem uma coisa hoje – revestimento, asfaltamento, construção de refúgios – para amanhã terem que fazer outro projeto. Nisso, observa, vão-se tempo e dinheiro. Afinal, diz o presidente da Fetrancesc – entidade que representa 14,5 mil empresas e possui 13 sindicatos filiados no Estado – a questão também se reflete na segurança dos motoristas e dos passageiros.

Sinalização vira casinha de cachorro

Com seu carro estacionado em um posto de combustíveis em Cordilheira Alta, próximo a Chapecó, o vendedor Paulo Ritz Müller acha que metade das placas de trânsito da região foram colocadas há mais de cinco anos. Por isso, acredita, estão “em estado de calamidade pública”.
Acostumado a viajar por entre os municípios do Oeste e Extremo-Oeste, o vendedor acha que, em caso de acidentes, os órgãos de sinalização deveriam ser responsabilizados. Não sabe ele que o Estado gasta por ano R$ 485 mil em reposição e na adequação de placas nas rodovias estaduais. O principal motivo que leva as trocas é o vandalismo.
O roubo – algumas são levadas para a fabricação de casinhas de cachorro – está no topo das ações. A informação é de Romualdo França, presidente do Departamento Estadual de Infra-Estrutura (Deinfra).
Conforme França, o Deinfra aplica toda sinalização prevista pelo Código de Trânsito Brasileiro. Isso envolve a sinalização vertical e horizontal (linhas, marcações, símbolos, legendas, pinturas sobre o pavimento das vias).
O mais comum de ocorrer em rodovias que já estão em operação é a reposição de placas de sinalização.
– No entanto, sempre que se verifica um aumento significativo no volume de tráfego em uma rodovia estadual, ela passa por toda uma nova avaliação técnica, que determinará as possíveis alterações de segurança viária.
As placas substituídas retornam para as superintendências regionais do Deinfra (São Miguel do Oeste, Florianópolis, Joaçaba, Joinville, Chapecó, Lages, Criciúma e Blumenau). Ali, devem ser tratadas e pintadas para regressarem como novas. A compra de material de sinalização viária é, diz França, realizada através de processo público licitatório.

Problema tem que ser “visto”

A cada ano, cerca de 25% das placas expostas nas rodovias federais pelo Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT) precisam ser repostas.
Entre os principais motivos, estão, além do vandalismo, a colisão de veículos e a deterioração natural, informa o engenheiro Edemar Martins, supervisor de operações do DNIT. A malha federal pavimentada é de 2,3 mil quilômetros no Estado e cruza 123 dos 293 municípios catarinenses.
O engenheiro reconhece que, em algumas regiões, a situação é complicada. Mas destaca que, a partir do Programa de Sinalização nas Rodovias Federais (Pro Sinal), implantado em julho do ano passado, o quadro melhorou. O Pro Sinal visa melhorar a sinalização, garantir maior segurança e orientação adequada aos motoristas.
– De junho de 2006 a maio deste ano foram investidos em Santa Catarina mais de R$ 9 milhões (R$ 9.173.041,75). Isso equivale a 71% da sinalização do eixo de rodovias e é inédito no Estado – diz o engenheiro.
Para a substituição das placas, o DNIT usa como critérios o fato de elas não estarem mais legíveis e o apodrecimento do suporte de madeira. Para facilitar o trabalho, cabe aos responsáveis pelas sete unidades do órgão, localizadas em Chapecó, Joaçaba, Joinville, Lages, Mafra, Rio do Sul, São José e Tubarão, “perceberem a necessidade” e comunicarem o DNIT, na Capital.
A distribuição dos recursos – quanto cada unidade pode gastar na substituição das placas – leva em conta a importância da região. Sempre que possível, o material é recuperado e volta às margens da rodovias.

Fonte: Diário Catarinense

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