Trecho não-duplicado da BR-101 espalha traumas

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Trecho não-duplicado da BR-101 espalha traumas

Florianópolis, 27.08.03 – Viver às margens do trecho sul da BR-101 em Santa Catarina é temer a morte de um familiar ou amigo. São freqüentes entre os moradores histórias de perda e traumas não superados. Lutando pela duplicação do trecho a partir de Palhoça até Osório (RS), os catarinenses enfrentam uma guerra que vitima duas pessoas a cada semana – foram 59 mortos neste ano até julho.
São números frios diante do drama de pessoas como Nilva, de Sangão. Ela perdeu na estrada três filhos e a irmã. O quarto filho sobreviveu, mas teve a perna decepada. O trauma é exposto hoje na série de reportagens que teve início na segunda-feira e se estende até sexta-feira. A equipe da Agência RBS percorreu os 4.542 quilômetros da BR-101.

Da cozinha onde passa a maior parte do tempo, em Sangão, no sul de Santa Catarina, Nilva Cardoso Dias, 66 anos, ouve o ronco dos carros que cruzam a BR-101. O barulho lhe traz lembranças dolorosas: em abril de 1997 perdeu os filhos Gilson e Maria Aparecida e a irmã Delícia em um choque entre dois carros.

Nilva estava internada num hospital da vizinha Tubarão quando recebeu a notícia.

– Eles iriam me ver, mas não puderam chegar – lamenta.

A visita foi interrompida numa curva do trecho sem duplicação da BR-101, o mais violento da rodovia, onde no ano passado morreram 118 pessoas.

– Era noite e um homem tentou ultrapassar na curva. Foi aí que houve a batida – conta Nilva.

A perda de Gilson, de Maria Aparecida e da irmã Delícia fez Nilva reviver um passado amargo: no Carnaval de 1995, também em acidente na BR-101, havia perdido o filho Rogério.

Outro filho de Nilva foi atingido por carro –

O garoto estava no carro de amigos e seguia para Araranguá, a menos de 15 quilômetros ao sul, onde o grupo pretendia se divertir em um baile. Morreu antes de ser levado ao hospital. Naquela madrugada quente de fevereiro, Nilva era acordada com a má notícia.

– Eles só queriam passear e se divertir um pouco com os outros rapazes – diz.

Em 2000, Nilva tentava se recuperar das rasteiras que a BR-101 Sul havia lhe aplicado quando o trecho esburacado, de asfalto precário, com sinalização inadequada, vitimou outro filho.

Rodinei, o filho que lhe ajudou a enfrentar a vida depois das quatro perdas em cinco anos, foi atropelado por um carro até hoje desconhecido. O jovem estava de moto e foi atingido por traz, caindo em uma vala. Com a força do impacto, perdeu uma das pernas.
– Ele ficou lá embaixo, e ninguém parou para ajudar. Ninguém via ele lá. Então ele tentou se levantar para pedir socorro, mas viu que a perna estava partida. Os médicos disseram que ele sobreviveu por sorte, porque perdeu muito sangue. Se não fosse parrudo, teria morrido – relata a mãe.
Fonte: Zero Hora

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