Final feliz em seqüestro de empresário

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Final feliz em seqüestro de empresário

Joinville, 2.1.06 – Durou 11 dias o seqüestro do empresário joinvilense Sidnei Hahnemann, 35 anos, proprietário da Transportes Mann. Depois de momentos de tensão entre a família, sigilo policial e um clima de expectativa na cidade, o caso se encerrou no sábado, dia 31, com a vítima em liberdade – com saúde -, a prisão da quadrilha responsável pelo crime e a recuperação do dinheiro e jóias entregues por familiares aos bandidos.
“Achei que não seria libertado antes do final do ano. Mas, graças a Deus, deu tudo certo e vou poder ficar em casa com a minha família”, disse o empresário, ao meio-dia de sábado, algumas horas após o fim de um seqüestro marcado por terrorismo psicológico à vítima e seus familiares.
A libertação de Sidnei aconteceu entre a meia-noite e o começo da madrugada de sábado, logo após o pagamento do resgate, feito pelo pai, o empresário Hilário Hahnemann, em Curitiba. Os seqüestradores exigiam US$ 2 milhões (R$ 4,6 milhões). A família entregou cerca de R$ 545 mil e jóias, numa mala. O local da entrega determinado pelos criminosos foi o Parque Barigüi, conhecido ponto turístico da capital paranaense.
Foram presos todos os integrantes da quadrilha, em Curitiba e região metropolitana da capital do Paraná, São Francisco do Sul (litoral Norte catarinense) e na região de Joinville. O chefe da Polícia Civil de Santa Catarina, delegado Ilson Silva, disse que o grupo é internacional, especializado nesse tipo de crime e que os mentores do seqüestro foram os paraguaios Idelino Ramon Silvero, 35 anos, procurado pela Interpol (Polícia Internacional) e Elvio Gonzales, 38. Eles são de Ciudad del Este, cidade paraguaia que faz fronteira com Foz do Iguaçu (PR), e foram capturados numa casa do bairro Fazendinha, em Curitiba.
A investigação sobre a quadrilha era realizada desde a manhã do dia 20 de dezembro, quando o empresário foi rendido próximo à empresa, que fica no Distrito Industrial de Joinville – quatro criminosos que tripulavam um Astra fecharam a Mercedes-Benz da vítima (placas LNC-3287, de Joinville), que ia para o trabalho, se passaram por policiais federais e a renderam com metralhadoras e fuzis.
Hahnemann ficou 11 dias num cativeiro no bairro Jardim Paraíso, em Joinville, próximo à sede da empresa onde foi seqüestrado. Ele foi solto depois da meia-noite de sábado, no interior do município de Guaramirim (SC). Andou a pé cerca de uma hora e meia até chegar à BR-280 e pedir socorro a uma viatura da Polícia Rodoviária Federal.(topo)

“Pai, paga tudo. Eles são violentos”

Ameaças e torturas psicológicas marcaram os dias em que o empresário Sidnei Hahnemann ficou no cativeiro. No sábado, no quartel da PM, ao lado de delegados, ele contou numa entrevista coletiva como foram os momentos de terror que passou em poder dos seqüestradores. Estava aparentemente tranqüilo, sorrindo, mas não tirou os óculos escuros.
“Eles falavam que cortariam um pedaço da orelha, do dedo. E se eu tentasse fugir, aplicariam injeção de sal, choque elétrico ou afogamento. Mas me comportei bem para não sofrer violência”, desabafou. O medo maior, comentou, era quando tinha de gravar vídeos que seriam enviados como prova de vida à família. Nestes momentos, era obrigado a implorar ao pai o pagamento do resgate. “Pai, paga tudo. Eles são violentos”, dizia. Hahnemann ficou o tempo todo algemado e com os olhos vendados. Achava que não seria libertado antes do final do ano.
Ele atua diretamente na administração da Transportes Mann com o pai. É bastante conhecido no meio social joinvilense e, em outubro do ano passado, casou-se com Maria Eduarda Campos Schmalz, neta do ex-governador do Estado Pedro Ivo Campos, falecido em 1990. (DV)(topo)

Quadrilha era profissional

Os principais integrantes da quadrilha são criminosos profissionais, de alta periculosidade, e com uma trajetória de crimes violentos em estados brasileiros, Paraguai e Argentina. Apontado como o mentor do seqüestro, o paraguaio Idelino Ramón Silvero, 35 anos, estava foragido e era procurado pela Interpol (Polícia Internacional). Ele é quem teria arquitetado o crime contra o empresário joinvilense e liderado os bandidos.
O morador de Ciudad del Este, na fronteira com o Paraguai, estava atualmente em Curitiba e conhecia Joinville, em que escolheu o alvo para tentar arrancar US$ 2 milhões. Os detalhes de como os bandidos planejaram o crime ainda estão sendo apurados pela polícia catarinense.
O seqüestro é a especialidade de Idelino Ramón Silvero. No seu país, ficou conhecido por seqüestrar no dia 31 de julho de 2003 o empresário Cesar Cabral, proprietário de uma indústria de cigarros em Ciudad del Este. A quadrilha rendeu a vítima montando uma falsa barreira policial. O pedido de resgate foi de US$ 1 milhão, valor pago num caso que teve bastante repercussão no Paraguai.(topo)

Oito estão na penitenciária

Ontem, a Polícia Civil de Joinville informou que, dos 35 detidos, oito foram recolhidos à Penitenciária Industrial de Joinville. Eles estão com prisão temporária decretada por 30 dias e foram ouvidos ainda no sábado pelo delegado Dirceu Silveira Júnior. Os demais detidos prestarão depoimento e poderão ser indiciados como co-autores.
Foram apreendidas com a quadrilha três pistolas, uma sub-metralhadora calibre 40, munição, celulares, a filmadora que os seqüestradores usavam para fazer imagens da vítima e enviá-las para a família e máquinas para cartões de crédito.
Idelino Ramón Silvero havia sido preso em julho de 2004, em Foz do Iguaçu, cidade em que também é acusado de comandar um audacioso e violento roubo a banco, quando duas pessoas morreram e quatro ficaram feridas. A sua quadrilha, na época, teria 80 integrantes. Silvero estava foragido desde setembro, quando 15 presos foram resgatados da Casa de Custódia de Curitiba. (DV)(topo)

11 dias de agonia

Saiba como foi o seqüestro do empresário Sidnei Hahnemann

O ataque – O empresário Sidnei Hahnemann, 35 anos, dono da Transportes Mann, foi seqüestrado por volta das 8 horas do dia 20 de dezembro (uma terça-feira), quando dirigia a sua Mercedes Benz em direção à sede da empresa, no Distrito Industrial. A Mercedes foi bloqueada próximo da empresa por um Astra tripulado por quatro homens fortemente armados. Para render o empresário, os bandidos apontaram metralhadoras e disseram ser policiais federais (estavam todos vestidos de preto).
Investigação – As polícias Civil e Militar passaram a investigar o caso. Atuaram diretamente policiais militares da Corregedoria e Serviço de Inteligência (P-2) da PM de Joinville, policiais civis da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic), de Florianópolis, da Central de Polícia de Joinville e do grupo Cobra, da PM da capital. Os policiais montaram uma espécie de quartel-general num hotel em Joinville para investigar o seqüestro.

Negociação – O pedido de resgate à família, feito no primeiro dia do seqüestro, foi de US$ 2 milhões (R$ 4,6 milhões), mas a negociação não teria evoluído. Os policiais que atuaram na investigação evitaram falar com a imprensa sobre o caso, a fim de proteger a integridade da vítima.

Notícias – Atendendo apelo dos familiares e da polícia, A Notícia decidiu publicar informações sobre o seqüestro após o desfecho. A reportagem, no entanto, acompanhou o caso desde as primeiras horas.

Prova de vida – Ele foi forçado a fazer duas filmagens para os seqüestradores como prova de vida a seus familiares. A mando dos bandidos, implorava ao pai para que pagasse o resgate, afirmando que eles eram muito violentos. À família, o negociador do seqüestro ameaçava cortar a orelha e os dedos da vítima, caso o dinheiro não fosse entregue rapidamente. Hahnemann contou que, caso tentasse fugir do cativeiro, os bandidos lhe aplicariam injeção de sal, choque elétrico e o afogariam.

Resgate – Todos os dias, sempre à tarde, a quadrilha telefonava para o celular do pai de Sidnei pedindo o resgate em troca da liberdade do filho. Na noite de sexta para sábado (no último final de semana do ano), por volta da meia-noite, o pai viajou a Curitiba e fez o pagamento do resgate. Entregou uma mala com cerca de R$ 545 mil e jóias da família, no Parque Barigüi. O empresário foi solto uma hora e meia depois, no interior do município de Guaramirim (SC). De madrugada, ele andou uma hora e meia até a BR-280, onde recebeu socorro de uma viatura da Polícia Rodoviária Federal. Sidnei passava bem e foi para casa, no centro de Joinville.

Final feliz – Em seguida, ao pagamento do resgate, as polícias Civil, Militar e Rodoviária Federal de SC, além de policiais do PR, executaram a operação para prender a quadrilha. Foram detidas 35 pessoas (homens e mulheres), em Curitiba e região metropolitana, Joinville e São Francisco do Sul (área de prostituição). Todo o dinheiro foi recuperado. O bando tinha conexão internacional e bandidos de vários Estados do País (PR, SP e SC).

Violência – Depois de rendido, ele foi revistado, amordaçado, teve os olhos vendados e os punhos amarrados. Sem qualquer possibilidade de reação, foi colocado dentro do carro dos criminosos. Outro bandido entrou na Mercedes e a abandonou, em seguida, num portão nos fundos da transportadora (rua dos Franceses).

Testemunha – A polícia ficou sabendo do crime através de uma pessoa que passava pelo local e presenciou a ação dos bandidos. A testemunha ligou para o 190. Na mesma manhã, a Polícia Militar montou cerco na região do Distrito Industrial, inclusive com o helicóptero Águia, mas não conseguiu localizar os seqüestradores. O pai da vítima, Hilário Hahnemann, também acionou o 190 tão logo soube que o filho fora rendido.(topo)

Cativeiro era um pequeno banheiro

Uma casa comum, sem qualquer movimentação que pudesse levantar suspeitas, onde pessoas mantinham seus afazeres domésticos rotineiros. Tudo como manda o figurino, para que ninguém desconfiasse de nada. E a menos de 500 metros dela, um posto da Polícia Militar.
Assim era o cativeiro do empresário Sidnei Hahnemann, utilizado pelos seqüestradores, no bairro Jardim Paraíso, na zona Norte de Joinville. A casa fica na rua Apolinário Tomazi Muraro, uma lateral da movimentada Timbé, na região central do bairro, que é um dos mais violentos de Joinville.
Nos últimos dias, mesmo quem passava pela frente do imóvel não encontrava motivos para desconfiar de que ali poderia estar sendo desenvolvido um dos mais dramáticos seqüestros já registrados em Joinville. A alvenaria – sem pintura – segue os mesmos padrões de outras dezenas de residências da região. Em um lado do terreno há uma casa desocupada. Do outro, um vizinho que prefere não falar à imprensa. Na frente, um terreno baldio. Ontem, numa cena quase rural, um cavalo pastava tranqüilamente no terreno. Nem o proprietário do animal desconfiava do crime.
O pequeno banheiro onde a vítima permaneceu por 11 dias não tem mais do que dois metros quadrados. No local, o empresário seqüestrado contava apenas com uma pia, um vaso sanitário e um colchonete. Sidnei Hahnemann ficou o tempo todo com as mãos algemadas, os olhos vendados e vigiado por duas pessoas. Na pequena janela do banheiro, xampu e esponja pintavam um ambiente de normalidade para quem olhasse de fora. Nos outros cômodos, havia uma cama de casal, um sofá, uma televisão jogada em cima e uma estante, na sala. Na prateleira, uma conta de água demonstrava que a rotina não fora abandonada.

Rotina

As janelas laterais e traseiras foram lacradas com tábuas pregadas, que tapavam parcialmente a visão. Segundo um vizinho que não quis se identificar, a residência estava para alugar e, nos últimos meses, um casal passou a habitá-la. “A gente até ficou feliz quando viu que tinha alguém morando”, disse. Aposentado, ele conta que as duas pessoas evitavam contato com os outros moradores, ao contrário do costume dos moradores do bairro, que procuram enturmar-se com seus novos vizinhos.
Mesmo assim, o aposentado afirma que não era possível levantar qualquer suspeita. Ele disse ainda que chegou a ver o homem capinando na parte da frente da casa. Ou seja, um faz-de-conta que “quase” deu certo.(topo)

Prisões sem um tiro disparado

A polícia catarinense apresentou os 35 supostos envolvidos no final da manhã de sábado, no quartel do 8º Batalhão da Polícia Militar, em Joinville, sob forte aparato policial. Os presos chegaram com os olhos vendados e foram levados ao auditório. O chefe da Polícia Civil de SC, delegado Ilson Silva, e o comandante geral da PM/SC, coronel Bruno Knihs, destacaram o sucesso da operação integrada, que também teve o apoio do grupo Tigre, da polícia do Paraná.
“As investigações começaram com a equipe anti-seqüestro de Florianópolis, mas quando perceberam que os seqüestradores também eram de Curitiba, nós fomos acionados para trabalharmos em conjunto”, declarou o delegado do Tigre, Sílvio Rockembach, no site do governo do Estado do Paraná.

Equipe

Mas o trabalho mais intensivo foi dos policiais catarinenses. “Foi um dos maiores seqüestros ocorridos nos últimos anos em Santa Catarina. Trata-se de uma quadrilha assustadora, que aterrorizou a família e exigia US$ 2 milhões pelo resgate”, relatou o delegado Silva. “Eles fizeram uma espécie de gincana para a entrega do dinheiro, com várias pistas, para que o montante chegasse em segurança”, contou o delegado Renato José Hendges, da Delegacia Anti-Seqüestro de Florianópolis.
Ele e o coronel Knihs frisaram o trabalho de inteligência na investigação e que as prisões ocorreram sem a necessidade de um tiro sequer ser disparado. O comandante da PM comentou ainda que o resultado do trabalho policial mostrou que SC possui equipes altamente especializadas.

Executivos têm atraído criminosos

A cidade dos “Príncipes”, pólo industrial de Santa Catarina, convive nos últimos meses com uma onda de crimes que atinge a classe alta joinvilense. Empresários, executivos e seus familiares são vítimas do golpe da extorsão por telefone. Os bandidos ligam (geralmente a cobrar) para telefones residenciais das vítimas e fazem ameaças. O que mais assusta quem recebe esse tipo de ligação é a quantidade de informações que os criminosos têm de seus alvos.
Para isso, por exemplo, se passam por funcionários de empresas de telefonia, dizem que o morador foi contemplado com premiação em um suposto sorteio e tentam arrancar detalhes sobre os integrantes da família. Há casos também em que falam que o dono da casa sofreu um acidente e precisam rapidamente de mais informações da vida dele. São armas de uma estratégia na hora de intimidar e tentar tirar vantagem.
Um casal de executivos de Joinville foi recentemente vítima desse tipo de ação criminosa. Depois de muito nervosismo em casa, os dois acionaram a polícia através do setor de segurança da empresa.
“Foi terrível. Ligaram a cobrar ameaçando seqüestrar minha filha, que iam cortar a orelha dela e estuprar a mãe dela. Ficaram falando uns 15 minutos, mas não perceberam que estavam na secretária eletrônica”, conta a executiva joinvilense, que pediu para não ser identificada na reportagem. No final, o criminoso disse ser integrante do PCC (Primeiro Comando da Capital), conhecida facção criminosa de São Paulo.
Ele teria conseguido as informações pessoais e profissionais do casal após enganar por telefone anteriormente um familiar – se passou por operador telefônico, falou que havia sido contemplado num sorteio e que precisava os dados dos donos da casa para entregar os supostos prêmios.
Situações como essas têm sido constantes em Joinville. A intenção dos criminosos é amedrontar as vítimas e fazer com que façam depósitos bancários. Mas não é preciso entrar em pânico. A polícia diz que a grande maioria das ligações parte de criminosos que estão recolhidos em presídios de São Paulo e Rio de Janeiro, e que raramente as ameaças se concretizam. A orientação, entretanto, é não fornecer informações por telefone, não aceitar ligações a cobrar de desconhecidos, orientar secretárias e relatar o ocorrido às polícias Civil e Militar. (Diogo Vargas)(topo)

Pai ajudou na negociaçãocom os seqüestradores

Joinville – O pai de Sidnei, Hilário Hahnemann, 56 anos, acionou a polícia desde o início do seqüestro e não a afastou do caso em nenhum momento. “Fiz tudo o que me pediram, segui as orientações e sempre confiei nos policiais”, falou. Segundo Hilário, os bandidos contatavam a família ligando para o seu telefone celular, à tarde, e duas ou três vezes por dia.
O empresário chorou ao lembrar o fato de ter passado o Natal longe do filho seqüestrado. Ele se disse surpreso pelos criminosos terem escolhido o seu filho como alvo. “Não sei porque fomos escolhidos. Porque eu não estou nem entre os 200 maiores empresários de Joinville”, disse o dono da Transportes Mann, empresa que mantém 100% da frota de caminhões monitorada por rastreamento via satélite e tem 16 filiais.
Ao falar sobre o futuro e a segurança pessoal, tanto o pai como o filho ainda não decidiram se passarão ou não a adotar mais cuidados. O delegado Renato Hendges, da Divisão Anti-Seqüestro da Deic, comentou que a negociação foi difícil devido ao alto valor exigido para o resgate e porque alguns integrantes paraguaios falavam em guarani. A língua, entretanto, teria levado a polícia a suspeitar de Idelino Ramon Silvero.
Durante os 11 dias, o grupo Cobra da PM de Florianópolis – é formado por policiais especialistas em ações de risco – ficou preparado em Joinville para estourar o cativeiro, o que não foi necessário. Delegados ouvidos pela reportagem disseram que a investigação chegou a detectar o local, no bairro Jardim Paraíso. Porém, para garantir a integridade da vítima, a polícia caçou e prendeu a quadrilha após a sua libertação. Fonte: A Notícias

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