BrasÃlia, 23.5.07 – A economista e doutora em Engenharia de Transportes, Ieda Lima, apresentou, na parte da manhã, uma radiografia atualizada e preocupante dos acidentes de trânsito no PaÃs envolvendo os caminhões no primeiro painel do VII Seminário Brasileiro do Transporte Rodoviário de Cargas, realizado até o fim do dia de hoje, no auditório Nereu Ramos, na Câmara Federal, em BrasÃlia.
O estudo mostrou a gravidade da situação. A estatÃstica revela o registro de um acidente com veÃculo de carga a cada cinco minutos no Brasil e um custo total dos acidentes com caminhões no território nacional calculado em R$ 7,7 bilhões, segundo o levantamento da especialista.
Ieda Lima, que foi pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), exibiu um cenário desafiador aos agentes públicos, privados e especialistas na área. Segundo a estudiosa, cerca de 35% dos acidentes nas rodovias federais envolvem pelo menos um caminhão.
O mapa dos acidentes apresenta uma estimativa de que passa de 110 mil acidentes envolvendo caminhões em todo o Brasil. Outro indicador demonstra: quase 40 mil ocorrências por ano com caminhões, o que resulta em aproximadamente 1 acidente com caminhões a cada 12 minutos BRs.
A estatÃstica apurada com a PolÃcia Rodoviária Federal (PRF) mostrou, entretanto, uma queda no número dos acidentes envolvendo caminhões. Em 2004, foram 112.457 ocorrências contra as 110.086 em 2005. Uma estimativa parcial apontou para o número de 100.920 registros no ano passado.
Dano às pessoas é maior que o material
O custo dos acidentes dos caminhões também foi analisado de forma minuciosa por Ieda Lima. Nas rodovias federais, o impacto financeiro total dos registros com os veÃculos de carga foi calculado em R$ 2,336 bilhões. O custo com as pessoas é muito superior que o dano material provocado. O gasto com as pessoas foi de R$ 1,6 bilhão contra os materiais, que atingiram R$ 725 milhões. Outras despesas foram dimensionadas em R$ 11 milhões.
Os dados da PRF mostram que 15% dos motoristas envolvidos em acidentes (o equivalente a 22 mil profissionais) dirigiam há mais de quatro horas e outros 15% a menos de 15 minutos. A grande maioria desses veÃculos cadastrados na estatÃstica das rodovias federais estava com carga.
Ranking dos acidentes: MG lidera
No ano de 2004, 1,36% dos acidentes em rodovias federais envolveu caminhões com cargas perigosas. Isso representa 3,8% dos registros com veÃculos de carga naquele ano. Desse universo, 4.711 se envolveram em acidentes com produtos perigosos, resultando em 131 mortos; 693 feridos e 3.887 ilesos.
Os tipos principais dos acidentes com os caminhões em 2005 foram: colisão traseira (26,2%); colisão lateral (24,5%); saÃda de pista (10,2%); tombamento (10,1%). Os estados com as principais ocorrências foram: Minas Gerais (7435); Santa Catarina (3968); São Paulo (3838); Rio de Janeiro (3483); Rio Grande do Sul (2860); Bahia (2661) e Paraná (2324).
O diretor do Denatran, Alfredo Peres da Silva, um dos debatedores do painel, disse que os dados apresentados pela técnica fizeram parte da pesquisa contratada pela repartição pública que dirige. O objetivo, conforme explicou, foi o de conhecer melhor a realidade para que fossem adotadas medidas, visando a conter as ocorrências.
Recuperação da malha
O secretário Nacional de PolÃtica de Transporte do Ministério dos Transportes, José Augusto Valente, disse que os governos federal e estaduais investem pesado para a recuperação da malha rodoviária, mas entende que é necessário atuar em cima das causas dos acidentes.
Na opinião de Valente, quanto melhor a rodovia maior o número e a gravidade dos acidentes. Como exemplo, disse que o custo das estradas paulistas têm o custo mais elevado, consumindo R$ 3 bilhões. Disse que existem 120 postos de pesagem (três deles estão parados e outros 27 estão em construção).
O secretário se mostrou otimista e acredita que a duplicação das rodovias deverá ser concluÃda até 2.010. Defendeu um polÃtica que promova a renovação de frota e um projeto de lei por parte do Congresso Nacional que trate de forma mais rigorosa a associação entre álcool e o volante. Para Valente, a nova lei nº 11.442, que instituiu normas ao transporte rodoviário de cargas, precisa ser fiscalizada; assim como a aprovação da duração da jornada dos motoristas e o combate do uso de drogas na direção dos caminhões.
Acidentes evitáveis
O presidente da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego), Fábio Racy, definiu os acidentes e mortes no Brasil como ?indecentes?. Denunciou que existem 8% dos motoristas que chegam a adquir os rebites (medicamentos que combatem o sono) na própria empresa onde trabalham ou prestam serviço. Racy defendeu condições de trabalho mais humanas aos motoristas.
O presidente da Federação Nacional dos Caminhoneiros (Fenacam) e do Sindicam/Paraná, Diumar Bueno, tratou da realidade do trabalho dos caminhoneiros e defendeu o projeto que limita a jornada de trabalho.
O diretor da Pamcary, Dárcio Centoducato, mostrou que os acidentes podem ser evitados. Centoducato disse que as iniciativas bem-sucedidas pela Pamcary mostram que o trabalho eficiente para conter os acidentes envolvem o embarcador, a transportadora e o motorista do veÃculo.
Para Centoducatto, o trabalho passa por um forte trabalho de conscientização e reeduação do condutor. A proposta é reduzir a fadiga dos motoristas e conter a velocidade dos veÃculos. Como um case de sucesso, citou o alto desempenho da operação logÃstica desenvolvida com segurança da Unilever, uma das vencedoras do Prêmio Volvo de Segurança. A freqüência de acidentes a cada 10 mil embarques na Unilever que era de 8 (antes da adoção das medidas) caiu para 2,6. Numa operação especial, apresentada como circuitos estáticos, a freqüencia das ocorrências despencou a apenas 0,2.
Cláudia Moreno, coordenadora de Desenvolvimento Profissional do Sest/Senat, mostrou ações desenvolvidas pela entidade visando a atender à demanda do segmento do transporte rodoviário de cargas, mas o empresário e diretor da NTC & LogÃstica e vice-presidente do SETCESP, Roberto Mira, foi aplaudido ao fazer uma acusação grave: “Até hoje o Sest/Senat não formou um único motorista. Os jovens que querem aprender não tem onde aprender. As empresas têm que formar seus próprios motoristas”, denunciou.
Mira foi contestado pelo representante da Confederação Nacional do Transporte da Seção Carga, Flávio Benatti, que apresentou uma realidade diferente da apresentada por Mira. O mesmo fez a própria Cláudia Moreno. Fonte: Redação NTC