Crimes relacionados aos roubos de cargas no Brasil continuam sendo uma preocupação para as empresas de transporte rodoviário de cargas (TRC), que, mesmo com os investimentos contínuos em segurança e tecnologia, continuam relatando o problema. Dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo revelaram que o estado de São Paulo sofreu aumento de 4,71% nos roubos de cargas de janeiro a agosto deste ano em comparação ao mesmo período em 2020.
O levantamento apontou que o total de casos foi de 4.131 no estado durante os oito primeiros meses do ano, de modo que 1.909 foram registrados na capital paulista, representando 46,21% das ocorrências. A região metropolitana, que compreende 39 municípios, foi palco de 1.273 casos de furtos e roubos de cargas, correspondendo a 30,82% dos crimes.
Entretanto, mesmo com a alta em São Paulo, esse tipo de crime tem apresentado queda no Brasil. Divulgado em maio deste ano, o estudo anual realizado pela Associação Nacional do Transporte de Cargas & Logística (NTC&Logística) destacou o total de 14.150 registros de ocorrências em rodovias e áreas urbanas do país no ano anterior, uma queda de 23% em relação a 2019. Contudo, o cenário ainda é de preocupação para os transportadores, que precisam arcar com os prejuízos, os quais permeiam a casa dos 1,2 bilhão, de acordo com a entidade.
Ana Jarrouge, executiva do segmento de transporte de cargas com mais de 25 anos de experiência no setor, ressalta que esse tipo de crime ainda não conseguiu ser controlado e que a tendência é que ele se agrave diante de crises socioeconômicas, além da relação com outros tipos de transgressões. “O crime de receptação continua alimentando o roubo de cargas, pois as mercadorias são rapidamente desovadas e comercializadas de forma ilegal. Enquanto não houver combate de forma rígida e exemplar à receptação, os roubos continuarão existindo”, afirma Jarrouge.
Alguns mecanismos para inibir o crime são apontados pela executiva, desde uma boa organização e treinamento constante dos colaboradores da empresa até a instalação de diversos equipamentos tecnológicos nos veículos, como sistemas de rastreamento, autuadores, alarmes, câmeras e travas, marcação de chassi, codificação de peças a laser, grades nas janelas, padronização da cor da frota, entre outros.
“O controle logístico rigoroso, a contratação de seguro especializado e de gerenciadora de riscos, o envolvimento e o planejamento de mitigação de riscos com cliente não podem ser deixados de lado. Enfim, a organização e a estratégia da empresa são o que fará a diferença, minimizando os riscos de ocorrências”, ressalta.
No entanto, mesmo seguindo as medidas de proteção e de combate ao roubo de cargas, as empresas de transporte estão suscetíveis ao crime e precisarão estar aptas para gerenciar esta crise. “No ato da ocorrência, é preciso seguir uma série de medidas e etapas, sempre com orientação da seguradora e da gerenciadora de risco da transportadora. Além disso, a empresa deve acompanhar de perto, junto ao seu motorista, a elaboração do boletim de ocorrência e da investigação policial decorrente. É extremamente importante seguir regras de gerenciamento de riscos para evitar dissabores e negativa de cobertura por parte da seguradora, portanto, deve-se treinar muito bem toda equipe envolvida, tanto motoristas quanto o pessoal operacional, os líderes, a área de recursos humanos e todas as outras”, aconselha a executiva.
Jarrouge destaca ainda a importância da participação do empresário em entidades de classe, possibilitando a troca de informações e de experiências. “Deste modo, é possível conhecer a fundo os números e a situação deste tipo de crime, além de ajudar a encontrar caminhos para combatê-lo por meio de ações discutidas, definidas e executadas pela entidade de classe que o representa, meio mais eficaz de se agir e de se cobrar respostas e atuação do poder público como sociedade organizada”, completa.