A presença feminina no mercado de trabalho tem sido pauta de discussões nos mais diversos setores, inclusive no transporte rodoviário de cargas (TRC). Em sua pesquisa mais recente, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) estimou aproximadamente 2,3 milhões de trabalhadores no segmento em âmbito nacional, valor do qual apenas 17% são mulheres. No entanto, elas têm assumido mais cargos de liderança nos últimos anos em um panorama geral.
De acordo com a Relação Anual de Informações Sociais (Rais), um relatório de informações socioeconômicas demandado pelo Ministério do Trabalho, a ocupação de cargos de gerência e de diretoria no setor formal por mulheres entre 30 e 49 anos aumentou de 32,3% e 31,9%, respectivamente, para 39,2% e 42,4% de 2003 a 2017. Vale ressaltar que o Índice de Igualdade de Gênero do ano anterior indicou que, das 325 empresas pesquisadas, 39% possuem metas públicas para aumentar a liderança feminina.
Apesar de o segmento de transportes, no qual a executiva Ana Jarrouge atua há mais de 20 anos, ser considerado majoritariamente masculino, a força das mulheres no TRC e o apoio das entidades de classe junto às empresas de transporte têm proporcionado uma mudança neste cenário.
“As entidades de classe eram, sem dúvida, um ambiente dominado pelos homens. Entretanto, percebo que aos poucos as mulheres estão se interessando e gostando de participar quando são convidadas e apresentadas ao universo do associativismo. Os ganhos e os benefícios são de fato enormes, pois neste ambiente compartilhamos ideais, conhecimento e muitos desafios e, ainda, aprendemos a lidar com o networking, tarefa que nem sempre foi fácil para as mulheres”, explica Jarrouge.
A executiva também destaca que, mesmo que em um ritmo menos acelerado que os homens, as mulheres estão assumindo mais posições de liderança nas entidades. “Em nosso segmento, temos alguns exemplos de grandes mulheres que já ocupam cargos na presidência ou na vice-presidência. Temos como exemplos a Tania Drummond, vice-presidente da Federação das Empresas de Transporte de Cargas do Estado do Rio de Janeiro (Fetranscarga); a Roseneide Fassina, vice-presidente do Sindicato das Empresas de Transporte Comercial de Carga do Litoral Paulista (Sindisan); e a Nazaré Cunha, presidente do Sindicato das Empresas de Logística e Transporte de Cargas do Estado do Acre (Setacre), entre outras que ocupam cargos nas diretorias”, afirma a executiva.
Além do mais, a presença feminina também tem sido percebida em outras entidades de classe. “Ainda que não sejam entidades de classe ligadas diretamente ao TRC, é maravilhoso ver mulheres na liderança da Associação Brasileira de Operadores Logísticos (Abol), da Associação Brasileira do Segmento de Reforma de Pneus (ABR) e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de São Paulo, por exemplo. Agora, é torcer para que esta participação seja cada dia maior e mais representativa e que se torne uma verdadeira bandeira a ser conquistada pelo TRC nos próximos anos”, completa Ana.
Observando a importância de uma maior participação feminina no setor, Ana Jarrouge teve a iniciativa de idealizar um projeto voltado para a inserção de mais mulheres no transporte de cargas, principalmente nos cargos operacionais, que contam com uma aderência menor do gênero feminino. Assim nasceu o Vez & Voz – Mulheres no TRC, que foi prontamente abraçado pelo Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas de São Paulo e Região (Setcesp).
“Hoje diversas entidades, como a Federação das Empresas de Transporte de Cargas do Estado de São Paulo (Fetcesp), a Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística), a Federação das Empresas de Transporte de Carga e Logística no Estado de Santa Catarina (Fetrancesc), a Associação Nacional dos Fabricantes de Implementos Rodoviários (Anfir) e o Sindicato Nacional das Empresas de Transporte e Movimentação de Cargas Pesadas e Excepcionais (Sindipesa) já assinaram convênio conosco, o que dá muito mais visibilidade e credibilidade ao movimento”, completa.
Jarrouge reforça que é preciso tratar sobre esse assunto em primeiro lugar para que as entidades percebam e entendam a necessidade da adoção de políticas de inclusão e equidade de gênero, pois apenas falar para o público não é o suficiente. Para isso, a executiva aponta que o caminho é traçar objetivos e metas, formando uma rede de apoio por meio de parcerias, para então colocar essas políticas em prática. “Não basta dar a cadeira; há que se criar um ambiente verdadeiramente inclusivo onde as mulheres se sintam plenamente à vontade para falar, para contribuir e para trocar conhecimento e experiências”, ressalta Ana Jarrouge.
As expectativas para o próximo ano são positivas, reflete a executiva. “Espero que nosso movimento se espalhe rapidamente e que as mulheres se inspirem em diversos exemplos para ocupar suas cadeiras em nossas entidades, contribuindo para o desenvolvimento constante e sustentável do nosso setor. Elas já estão nas empresas, então agora é só mais um passo para irem para nossas entidades, passo este que, afirmo categoricamente, só traz benefícios e evolução”, completa.
Fonte: Grupo Mostra Ideias