O trecho de 212 quilômetros da BR 282 que faz a ligação entre Florianópolis e Lages, é o quinto colocado no estudo da Confederação Nacional dos Transportes (CNT) Rodovias Esquecidas do Brasil, divulgada nesta quarta-feira, 28 de março. E o custo operacional para manter o trecho, de acordo com o documento, quase dobrou de 2004 até 2017: de 27,9% aumentou para 42%.
Outro dado revelado no estudo é que o investimento público feito nesta estrutura rodoviária no mesmo período de tempo é de R$ 312 milhões, sendo uma média anual de R$ 105,32 mil/Km. Além disso, somente em 2017, o custo econômico por acidentes chegou a R$ 66 milhões, para um total de 657 acidentes e 28 óbitos.
Mas, o que leva uma Ligação Rodoviária a aparecer de forma frequente nas últimas posições da Pesquisa CNT de Rodovias durante 14 anos? O estudo teve, justamente, o propósito de responder a esta pergunta.
O levantamento selecionou as 15 ligações rodoviárias esquecidas das 109 avaliadas anualmente pela CNT. Como critério, adotou-se a regra de que a extensão deveria ser majoritariamente de jurisdição federal e que aparecesse por, pelo menos, quatro vezes entre as vinte últimas posições do ranking de classificação de ligações da Pesquisa CNT de Rodovias nas edições publicadas entre 2004 e 2017.
Durante esse período, foram realizadas 13 pesquisas utilizando os mesmos métodos de avaliação, o que permitiu a construção de uma base de dados ampla o suficiente para verificar a evolução da qualidade das ligações selecionadas.
O presidente da CNT, Clésio Andrade, disse que a superação desses problemas requer fortes investimentos em infraestrutura. “O quadro apresentado pela CNT nesse estudo é dramático, pois demonstra a incapacidade do Estado de promover a melhoria das rodovias brasileiras, o que leva à perpetuação das deficiências na infraestrutura de transporte”, comentou.
Já o presidente da Fetrancesc, Ari Rabaiolli, avaliou a pesquisa como um sinal de alerta. “Os índices de acidentes nesta rodovia já demonstram, há muito tempo, a necessidade de se atentar a melhorias. Agora temos mais uma constatação que deve, sim, ser considerada como uma chamada às autoridades competentes, até porque a violência no trânsito nesta região afeta a sociedade como um todo”, ponderou.
Veja as 15 piores ligações rodoviárias entre 2004 e 2017:
1 – Açailândia (MA) – Miranda do Norte (MA)
2 – Araguaína (TO) – Picos (PI)
3 – Barracão (PR) – Cascavel (PR)
4 – Dourados (MS) – Cascavel (PR)
5 – Florianópolis (SC) – Lages (SC)
6 – Governador Valadares (MG) – João Neiva (ES)
7 – Jataí (GO) – Piranhas (GO)
8 – Maceió (AL) – Salgueiro (PE)
9 – Manaus (AM) – Boa Vista (RR) – Pacaraima (RR)
10 – Marabá (PA) – Dom Eliseu (PA)
11 – Marabá (PA) – Wanderlândia (TO)
12 – Poços de Caldas (MG) – Lorena (SP)
13 – Porto Velho (RO) – Rio Branco (AC)
14 – Rio Brilhante (MS) – Porto Murtinho (MS)
15 – Salvador (BA) – Paulo Afonso (BA)
A conclusão mostra que as más condições das rodovias que compõem as ligações se devem ao baixo nível de investimento realizado pelo governo federal. Apesar de a maior parte dos recursos, 67,9% do orçamento público federal aportado especificamente nas ligações, ser destinada a ações de manutenção, o volume de recursos é insuficiente para promover a melhoria da qualidade oferecida aos usuários.
De acordo com o Estudo, ainda, o investimento na malha rodoviária federal de Santa Catarina é superior a R$ 6 milhões, o equivalente a 6,3% da participação nacional, com o propósito de atender a 1.816 km em estradas (3,3% do total nacional).
A CNT calcula que sejam necessários R$ 5,80 bilhões apenas para solucionar os principais problemas identificados nessas rodovias. Assim, para recuperar apenas as piores ligações rodoviárias do País, é necessário destinar a essas ações prioritárias o equivalente a 69,7% do recurso autorizado pelo governo federal para intervenções rodoviárias em 2017.
Vale ressaltar que os valores identificados podem não representar a totalidade dos investimentos feitos nas rodovias em questão. Isso pode ocorrer pela falta de transparência do governo na divulgação dos dados e pela ausência de identificação correta das BRs onde houve aplicação de recursos.
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Veja o resumo da análise por ligação rodoviária.