Florianópolis, 1º.11.16 – Com o objetivo de chamar a atenção para a necessidade de reduzir o número de acidentes com motocicletas em Santa Catarina, foi lançada a Campanha Moto pela Vida, neste sábado, 29 de outubro, durante evento no Senai em São José, que reuniu a comunidade da região, grupos e associações de motociclistas, estudantes, futuros motoristas e autoridades de trânsito. A campanha vai começar pela Grande Florianópolis, com foco no trecho da BR-101 que abrange Biguaçu, São José, Palhoça e Florianópolis. É uma iniciativa do Grupo de Trabalho BR-101 do Futuro, liderado pela Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), e integrado pela Arteris, ANTT, Crea/SC, Deinfra, Dnit, Fetrancesc, OAB-SC, Polícia Rodoviária Federal (PRF/SC) e Senge.
Dados da Arteris, concessionária que administra a BR-101-SC, mostram que cada 100 acidentes com motos geram, em média, 104 vítimas. Mais de um terço dos orçamentos dos hospitais dos maiores centros urbanos de Santa Catarina é gasto somente com vítimas de acidentes de moto. De cada 10 acidentados que chegam aos hospitais catarinenses, seis são motociclistas.
Conforme informações do Hospital Regional de São José, no período de 2002 a 2015 houve crescimento de 52% no número de atendimentos de vítimas de acidentes com motocicleta, que representam 37% do atendimento total na emergência do hospital. 68% dos atendimentos das vítimas de acidentes de trânsito são de motociclistas que, em média, ocupam 53% dos leitos disponíveis. Em 2015, foram realizados 267 atendimentos mensais a motociclistas acidentados, representando cerca de 9 atendimentos por dia.
“Chama a atenção o grande número de acidentes de trânsito envolvendo motos, com uma quantidade expressiva de ocorrências fatais. Um trabalhador que se acidenta leva, em média, 6 a 12 meses para se recuperar de um acidente. Além disso, fica afastado do emprego e tem redução na remuneração. Enfim, há consequências para o acidentado, a família dele e a sociedade”, afirma o presidente da Fiesc, Glauco José Côrte, lembrando que grande parte dos acidentados são pessoas que utilizam a moto para deslocamentos para o trabalho. “Queremos valorizar a vida, e queremos que todos tenham segurança, qualidade de vida e de transporte”, completou, ressaltando que o objetivo é envolver não só os motociclistas, mas toda a sociedade, motoristas de caminhão, veículos de passeio e todos que de alguma forma utilizam meios de transporte.
O presidente da Fiesc ressalta que há medidas que podem ser tomadas para reduzir substancialmente o número de ocorrências. Entre elas estão aulas de educação no trânsito aos estudantes, futuros motoristas; melhoria da sinalização, fiscalização mais rigorosa em relação ao uso de equipamentos de segurança e a regulamentação da profissão de motoboy nas cidades que ainda não regulamentaram, medida que ajuda na fiscalização. Veja abaixo a lista de propostas.
Neste sentido, a Fetrancesc contribui para a qualificação de motoristas e motociclistas. Com a parceria do SEST SENAT Santa Catarina, as entidades preparam os condutores para a prudência, evitando acidentes.
“Nós defendemos o preparo de motoristas antes de qualquer coisa. Ao abraçarmos iniciativas como esta, que atua diretamente na prevenção e redução de índices tão alarmantes, contribuímos para toda a sociedade e de diversas maneiras. Por isso, quanto mais preparado o condutor estiver ao sair às ruas, mais qualidade de vida ele terá. Reduziremos as mortes, as lesões, os afastamentos do trabalho por doença, os gastos do Estado em saúde em virtude de acidentes e teremos um trânsito mais tranquilo”, destacou.
“Pretendemos reverter uma situação que é muito crítica em Santa Catarina, buscando soluções conjuntas e não culpados. Estamos abertos para receber as sugestões da sociedade para que possamos elaborar um documento e desenvolver atividades que minimizem o número de acidentes”, afirmou o 1º vice-presidente da Fiesc, Mario Cezar de Aguiar, ao apresentar os índices alarmantes de acidentes: Santa Catarina possui 15 dos 100 trechos de rodovias federais mais críticos do País. Os km 200 e 220 da BR-101 em São José e Palhoça ocupam a segunda e a quarta posição, respectivamente, entre os mais perigosos.
Em 2015 foram registrados 14.150 acidentes em rodovias federais catarinenses. Desse total, 3.187 foram com motos – sendo 2.725 com feridos leves, 924 com ferimentos graves e 94 mortos. No trecho de aproximadamente 25 quilômetros entre Palhoça, Biguaçu e a Via Expressa em Florianópolis estima-se que a cada mês duas pessoas morrem em acidentes de moto; outras 77 têm ferimentos leves e 19 vítimas ficam gravemente feridas.
Em sua apresentação, o policial rodoviário federal, Ubirajara Martell Soares, disse que estudo recente mostra que o custo inicial de um acidente com vítima é de mais de R$ 100 mil. Em ocorrência sem vítima o custo é de R$ 3 mil a 4 mil. “A PRF tem entre suas funções institucionais trabalhar com educação para o trânsito. Estamos passando por um momento difícil em relação às estatísticas de trânsito, principalmente com as motos. Houve um aumento significativo na frota de veículos sobre duas rodas. Um trânsito mais humano passa pela cortesia, educação e obediências às regras. São medidas que reduziriam os acidentes e trariam reflexos para toda a sociedade”, afirmou.
Inicialmente, o movimento mobilizará a Grande Florianópolis, mas será estendido para todo o Estado nas próximas fases da campanha. Também estará permanentemente nas redes sociais. O evento deste sábado também teve orientação aos motociclistas, checkups de itens de segurança, simulador de pilotagem de moto, minicursos de manutenção na Unidade Móvel de Motocicletas do Senai, limpeza de capacetes, além de depoimento da atleta paraolímpica Josiane Lima e do sargento reformado das Forças Armadas, Adriano Miranda.
Natural de Florianópolis, em 2004 Josiane estava pilotando uma moto quando colidiu com um caminhão e sofreu graves ferimentos na perna esquerda, que foi operada sete vezes. Ela disputa a modalidade remo e tem entre suas conquistas medalha de ouro no mundial da Alemanha em 2007; bronze nas Paraolimpíadas da China em 2008 e prata no mundial na Polônia em 2009.
“A culpa do acidente foi da condição da estrada, que é a principal causadora dos acidentes de trânsito. Todos que estão envolvidos no trânsito estão com risco iminente de sofrer um acidente. Os jovens, principalmente, recorrem mais à moto por ser de baixo custo para ganhar a vida, e às vezes, a perdem sobre duas rodas”, afirmou Josiane, defendendo melhorias na sinalização e nas condições das rodovias e das estradas que cortam as cidades.
Miranda, amigo de Josiane, relatou que sofreu um acidente de moto no outro lado da rodovia onde foi realizado o lançamento da Campanha. “Não é fácil autorizar que o médico te leve para a sala de cirurgia para fazer amputação”, contou ele, que teve parte da perna amputada e hoje usa prótese. Ele também pratica a modalidade remo e toca saxofone. “Vou estar sempre à disposição para fazer o que for preciso para salvar uma vida. Cuidem-se”, declarou ele, emocionado.
Pedro Luis Sabaciauskis, da Associação dos Motociclistas da Grande Florianópolis, também foi enfático ao defender a regulamentação da profissão de motoboy. “É urgente e vai contribuir para a redução de acidentes, pois vai exigir itens de segurança nas motos que hoje não são obrigatórios, curso de qualificação para quem ganha a vida sobre rodas, além de melhorar a fiscalização. Segundo ele, Florianópolis, São José, Biguaçu e Palhoça têm cerca de 2,5 mil motoboys que fazem em média 25 mil serviços diários. “São cerca de 25 mil carros a menos circulando na região. Estamos vendo no trânsito um reflexo da sociedade. Precisamos ter amor e respeito pela vida e nos colocarmos no lugar do outro”, finalizou.
O gerente de Operações da Arteris, Ademir Custódio, defendeu a adoção de um comportamento mais defensivo nos deslocamentos diários. No início dos anos 1990, a frota de motos no Brasil era de aproximadamente 1 milhão. Hoje, saltou para 20 milhões. “Estudos mostram que cerca de 220 mil pessoas perderam a vida em acidentes com motos e outras 1,6 milhão ficaram com sequelas permanentes. É um problema do País e a sociedade tem que encarar isso com seriedade, buscando alternativas para minimizar as ocorrências”, declarou.
Jovens engajados: Estudantes de 9 a 15 anos do SESI utilizaram a robótica para criar soluções que reduzam o número de acidentes ou ofereçam mais qualidade de vida aos acidentados. Eles participaram da Hackathon Movimento Moto pela Vida, competição em que equipes de Criciúma e Joinville, com o uso de peças Lego, construíram protótipos inovadores.
Em Joinville, as equipes criaram prótese articulada para perna a custo mais baixo, cadeira de rodas para locomoção em terrenos difíceis e também uma espécie de caixa preta que registra as atividades do motociclista enquanto ele ainda utiliza a carteira nacional de habilitação provisória. Em Criciúma, os estudantes trabalharam em dois projetos de prevenção de acidentes: um sensor de aproximação de veículos e um ampliador de visão do motociclista. Os projetos dos estudantes foram apresentados ao público.
LISTA DE PROPOSTAS DA CAMPANHA:
– Promoção da educação para o trânsito na pré-escola e nas escolas de 1º, 2º e 3º graus, por meio de planejamento e ações coordenadas entre os órgãos e entidades do Sistema Nacional de Trânsito e de Educação, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, nas respectivas áreas de atuação;
– Em âmbito estadual, a Lei que trata do Sistema Estadual de Educação (Lei Complementar 170/98) define que a educação básica, nos níveis fundamental e médio, será organizada de acordo com regras comuns, dentre as quais, a inclusão nos currículos de conteúdos sobre educação para o trânsito;
– Regulamentar as profissões de “motoboy”, “moto-fretista” e “mototaxista” nos municípios da Grande Florianópolis que ainda não regulamentaram. A medida terá grande efeito na segurança para os usuários desses serviços, principalmente para os motociclistas autônomos, na medida em que estabelece o cumprimento de requisitos para o exercício da profissão, com ênfase na educação e segurança.
Sugestão da Associação de Motociclistas da Grande Florianópolis – AMOFLORIPA:
– Tomar as medidas necessárias visando ao aumento do contingente da Polícia Rodoviária Federal nas rodovias catarinenses, de acordo com critérios técnicos e demanda apresentada;
– Fazer levantamento dos pontos críticos nas rodovias federais e estaduais no Estado de Santa Catarina, no que diz respeito à sinalização, estado de conservação e segmentos com alto risco de acidentes, assim como implantar um programa de revitalização e melhorias na segurança.
– Fiscalizar intensivamente e cobrar o uso de equipamentos de segurança e a realização de manutenção preventiva das motocicletas;
– Avaliar a definição de um eixo exclusivo para motocicletas, conforme proposta da PRF/SC, cujo projeto piloto poderia ser implantado na Via Expressa de Florianópolis.
– Intensificar sinalização para motociclistas, no trecho da BR-101(SC) no segmento entre os municípios de Biguaçu e Palhoça, adicionando as placas do movimento “Moto pela Vida”, e painéis informando o número de vítimas e acidentes no trecho em determinado período e solicitando atenção e apoio dos motoristas para reverter o quadro.
– Dar celeridade na ampliação de capacidade da Via Expressa de Florianópolis (BR-282) e do segmento da BR-101 entre Biguaçu e Palhoça, assim como na implantação do Plano de Mobilidade Urbana Sustentável da Grande Florianópolis (PLAMUS).
Assessoria de Imprensa da Fiesc