Joinville, 6.10.05 – Não são só os Ãndices anuais de mortalidade no trânsito brasileiro que impressionam – em torno de 35 mil óbitos por ano. Os custos materiais com acidentes, que incluem desde o transtorno no trânsito até os cuidados hospitalares com vÃtimas, são estimados em R$ 30 bilhões por ano. Um prejuÃzo que, normalmente, é debitado na conta de motoristas e pedestres em forma de impostos e culpabilidade. No entanto, o professor da Universidade de BrasÃlia (UnB) e presidente do Instituto de Segurança no Trânsito, David Duarte Lima, aponta, em alto e bom som, que boa parte da responsabilidade pela tragédia diária do trânsito brasileiro é do Estado.
Lima foi um dos palestras de ontem do 10º Encontro Nacional de Conservação Rodoviária (Enacor), que acontece em Joinville até amanhã. Seus estudos apontam para uma situação caótica: além dos 35 mil mortes anuais e da sangria econômica exorbitante, o trânsito nacional fere 500 mil pessoas e deixa 100 mil com lesões irreversÃveis. Segundo ele, a frota brasileira mata sete vezes mais que a americana, que é muito maior. Lima não exime motoristas, motociclistas, ciclistas e pedestres por esse quadro, ao afirmar que a má educação desses quatro elementos é uma realidade incontestável. Porém, seu dedo também aponta para os governos, a quem considera omissos no que diz respeito à falta de uma polÃtica nacional de trânsito. “Esse segmento está a mÃngua, em termos de obras, educação e fiscalização”, garante.
Lima verifica, por exemplo, falhas na conscientização, através de campanhas superficiais que não atacam os principais pontos de segurança. “O que o governo faz, não sei por incompetência ou negligência, é dizer ´se dirigir não beba` ou ´respeite o pedestre`. Ele precisa falar sobre o código de trânsito e fiscalizar”, afirma.
Fiscalização
O professor da Universidade de BrasÃlia (UNB) e também coordenador do Fórum Permanente Permanente pela Paz no Trânsito, também critica a falta de fiscalização e estatÃsticas e até a questão das calçadas, que, cheias de buracos, desnÃveis e obstáculos, praticamente obrigam os trauseuntes a disputar espaço com os veÃculos na rua – metade dos óbitos no trânsito são de pedestres, lembra o professor. “Nosso Estado falta pouco para ser chamado de assassino”, frisa. “Não é ele que dirige meu carro, mas o Estado precisa me fiscalizar”, afirma Lima, ressaltando que a fórmula pistas perigosas+veÃculos mal conservados+pedestres e motoristas mal educados é fundamental para a gravidade da situação brasileira.
Ainda assim, diz que o Estado tem seu grau de responsabilidade até mesmo quando, aparentemente, o erro é exclusivamente humano. Segundo o professor, o Estado tem que criar condições seguras para a circulação, ou então manter uma fiscalização ostensiva para controlar excessos e evitar acidentes. Nos Estados Unidos, lembra, o trânsito é regido pelo trinômio conscientização-engenharia-punição. “A multa deveria ser o último recurso, mas aqui é o primeiro”, lamenta.
O secretário de Infra-estrutura de Santa Catarina, Mauro Mariani, fez questão de frisar que até o final do ano que vem o governo Luiz Henrique terá pavimentado e reabilitado mais de mil quilômetros de rodovias. “Há um investimento constante em infra-estrutura”. Mariano destaca que os maiores problemas no Estado estão em rodovias federais. Quanto à fiscalização, lembra da lei que proÃbe radares eletrônicos nas estradas, o que provocou aumento no número de acidentes. Fonte: A NotÃcia