BR-101 rica desafia BR-101 pobre

  1. Início
  2. Notícias
  3. BR-101 rica desafia BR-101 pobre

BR-101 rica desafia BR-101 pobre

Florianópolis, 16.8.04 – Rodovia dos contrastes, a BR-101 atrai investimentos e gera empregos no Norte do Estado, enquanto, sem a duplicação, atrasa o desenvolvimento do Sul catarinense, onde também mata e fere centenas de pessoas. Apenas as cinco maiores indústrias que se instalaram no trecho Norte, desde que foi duplicado, há quatro anos, investiram R$ 2 bilhões. Sem definição para a duplicação, o Sul contabiliza prejuízos de R$ 1,2 bilhão anuais com perda de investimentos.
Segundo dados da Secretaria do Planejamento, Orçamento e Gestão, das 27 indústrias com faturamento acima de R$ 12 milhões por ano que se instalaram no Estado de 2002 a 2003, 23 se fixaram no Norte do Estado e apenas quatro foram ao Sul. Empresas de grande porte como Coteminas, Vega do Sul, Aeston Brasil, Mabel, Marcegaglia e Cebrace preferiram a logística de transporte do Norte, que conta com a BR duplicada, dois portos (São Francisco do Sul e Itajaí) e dois aeroportos (Joinville e Navegantes).
No mesmo período, além de uma cooperativa industrial, o Sul recebeu apenas a indústria de confecção Ease, a carbonífera Rio Deserto e a Americanas Molduras, empresas que se identificam com a vocação econômica da região.
– Hoje, a condição logística é um dos fatores determinantes para os investimentos. Colocar uma empresa no Sul de SC, com o estrangulamento rodoviário e a falta de aeroportos, é inviável – admite o secretário do Planejamento, Armando Hess de Souza.

Sul do Brasil precisa da duplicação para crescer

As lideranças empresariais do Sul do Estado sabem disso. Segundo o presidente da Associação Comercial e Industrial de Criciúma (Acic), Edilando de Moraes, se já não é fácil convencer os investidores a visitar os municípios do Sul, atrair investimentos é muito mais difícil. Levantamento da Federação das Empresas de Transporte de Cargas de Santa Catarina (Fetrancesc) aponta que o Sul perde R$ 1,2 bilhão por ano em investimentos que não são concretizados na região. Considerando uma carga tributária de 40%, isso representa uma perda de R$ 500 milhões em arrecadação.
– Perdem as transportadoras, os investidores, os municípios e os governos. A duplicação da BR-101 Norte provou que uma rodovia em boas condições pode alavancar a economia da região. E o Sul precisa disso – afirma o diretor da Fetrancesc, Pedro Lopes.

Garantia de valorização da área
Além de atrair investimentos milionários que geram muitos empregos, a duplicação do trecho Norte da BR-101 garantiu a valorização dos terrenos, a proliferação de pequenos negócios, como shoppings de beira de estrada, e o reaquecimento da construção civil nas margens da rodovia.
Diretora do Grupo São Paulo, Eliane Mesquita Nichilo, explica que a incorporadora desenvolveu o projeto do condomínio Grupo Empresarial Mercosul, no município de Barra Velha, no qual a primeira grande investidora é a indústria Cebrace.
Com 2 milhões de metros quadrados, o condomínio tem várias empresas em negociação para a implantação de novas indústrias e de empresas terceirizadas que pretendem se instalar próximo a elas.
– A duplicação se tornou mais um atrativo, pois o condomínio é localizado entre dois portos e dois aeroportos, e os investidores querem uma rodovia eficiente e segura para ligar suas empresas a eles. O interesse pela região e o crescimento econômico dependem da estrada – afirma Eliane, diretora do Grupo São Paulo.

Terrenos foram supervalorizados

Os terrenos às margens da BR-101 também foram valorizados com a duplicação. Conforme o diretor da Guzzi Pré-Moldados, Elvis Vargas, os clientes que o procuram para levantar edificações ao longo da rodovia sofrem com o preço solicitado pelos proprietários dos imóveis.
A empresa, que atualmente é responsável pela edificação de um shopping na rodovia BR-101 e de duas pequenas indústrias, realiza obras de 1,5 mil metros quadrados por mês, sempre nas margens da estrada.
– Os pedidos para esta região aumentaram muito desde a duplicação, que detonou um boom de investimentos na construção civil. O único problema enfrentado é a supervalorização dos terrenos. Quem tem propriedades nesta área está pedindo muito por elas – ressalta o diretor da Guzzi Pré-Moldados.

Localização estratégica é fundamental
A localização estratégica próxima a uma rodovia duplicada para escoar a produção é fator fundamental para a instalação da grande indústria.
E a duplicação da BR-101 Norte pesou na decisão de, pelo menos, cinco grandes empresas que escolheram os municípios do Norte catarinense para investir quase R$ 2 bilhões, criar centenas de empregos e garantir crescimento econômico à região.
A indústria de vidros planos Cebrace, em Barra Velha, injetou U$ 120 milhões num complexo industrial com 70 mil metros de área construída. A empresa garante 150 empregos diretos, mas pode aumentar o número de postos de trabalho, dependendo do nível de exportação, segundo o gerente de fábrica, Marcelo Fehleisen.
Com US$ 15 milhões, a Takata Petri deve começar em outubro a produzir cadarços para cintos de segurança.
– A área total é de 245 mil metros quadrados e nesta primeira fase temos área construída de apenas 12,2 mil metros quadrados. Por isso, há previsão de ampliar a fábrica de cadarços e até de construir unidades fabris de outros componentes do Grupo Takata – anuncia o gerente jurídico da empresa, Rodrigo Ronzella.
Cerca de 98% da produção da unidade catarinense irá para as fábricas do grupo no México e nos EUA, via Porto de Itajaí, por onde chega a matéria-prima 100% importada.

Garuva recebe mais R$ 83,4 milhões
Desde 2000 em atividade em Garuva, a Marcegaglia anunciou mais investimentos. A empresa pretende investir mais R$ 62,9 milhões na ampliação do parque industrial, hoje com capacidade para produzir 3 milhões de condensadores por ano e 70 milhões de metros de tubos de aço para refrigeração. Outra indústria de componentes para refrigeração, a Reflex Rolibond Evaporadores pretende investir mais R$ 20,5 milhões no município.
Em Araquari, a indústria de biscoitos Mabel considerou a logística da cidade para injetar R$ 51 milhões na construção da unidade que vai atender todo o Sul do país.

Sem duplicação, prejuízo é de R$ 1,2 bilhão
O imbróglio na liberação de verbas para a duplicação da BR-101 Sul retarda o crescimento econômico de vários municípios.
O abandono é visível, placas de “vende-se” se multiplicam ao longo da rodovia e os empresários da região calculam em R$ 1,2 bilhão o prejuízo anual com as perdas em investimentos.
Segundo o presidente da Acic, Edilando de Moraes, é cada vez mais difícil convencer empresários a visitarem o Sul pela insegurança de trafegar na 101. Ele lembra que uma indústria de baterias de moto, fornecedora das marcas Honda e Yamaha, chegou a comprar um terreno em Içara, mas os diretores desistiram quando verificaram as condições da BR-101.
– Não temos um porto grande próximo, nem aeroporto, portanto a BR-101, em péssimas condições, é a única ligação com o resto do mundo – diz Moraes.
Pólo industrial no setor cerâmico, a região Sul vê os recursos de investimentos em ampliação seguirem destinos variados. De acordo com o presidente do Sindicato das Indústrias de Revestimento Cerâmicos da Região Sul, Alexandre Zugno, várias empresas estão redirecionando seus investimentos para as unidades localizadas em outros estados.

Sul fica à espera dos investimentos

As perdas da região Sul de Santa Catarina não se limitam aos investimentos das grandes indústrias que optam por outros locais, mas também ao que se deixa de ganhar por estar próximo aos grandes conglomerados. Indústrias de insumos, comércio e, principalmente, o setor de serviços ficam estancados, aguardando pelos grandes clientes que não chegaram sem as obras de duplicação da rodovia BR-101.
A constatação é do presidente da Zona de Processamento de Exportações (ZPE) do município portuário de Imbituba, Manoel Vitor Cavalcanti.
A própria ZPE, hoje com todas as instalações prontas numa área de 50 hectares (do total de 250 hectares disponíveis), poderia alavancar mais empresas interessadas em se instalar no retroporto. Entretanto, continua vazia.
Conta apenas com um vigilante, que cuida das instalações da ZPE. O guarda Cláudio Moraes da Silva trabalha há um ano e meio na ZPE e tem 3,5 quilômetros de área desocupada para fazer sua ronda.
Segundo o presidente Cavalcanti, três projetos já foram aprovados, mas esperam o pedido de alfandegamento, ainda tramitando em Brasília.
– Três empresas, uma de calçados, outra de móveis e uma terceira de eletrodomésticos, que vão gerar juntas 941 empregos, estão aguardando apenas o desembaraço burocrático para se instalarem. Mas a área que temos com infra-estrutura pronta daria para abrigar outras 15 empresas – explica Cavalcanti.

Garantia de incentivos tributários para operar

A Zona de Processamento de Exportações garante incentivos tributários para funcionar como um retroporto e dar retaguarda industrial ao Porto de Imbituba.
Tais zonas foram criadas para incentivar investimentos, principalmente em exportações, em regiões que carecem de atrativos, como a região Sul do Estado.
Cavalcanti está convicto de que, se a BR-101 fosse duplicada, ou, se ao menos, houvesse uma perspectiva concreta para o início das obras, o interesse pela ZPE seria muito maior.
– Se todas as empresas que fizeram carta de intenções se instalassem na ZPE seriam US$ 70 milhões de investimentos com geração de cerca de 3 mil empregos. Além disso, teríamos o reaquecimento da economia local, com terceirizadas e prestadores de serviços para atender estas indústrias – completa o presidente da ZPE, Cavalcanti. Fonte: DC

Compartilhe este post