Mafra, 30.7.04 – Um dos trechos mais crÃticos da BR-116, em Santa Catarina, é o que liga Mafra, na divisa com o Paraná, a Santa CecÃlia, no Planalto Norte catarinense. Neste trecho de 162 quilômetros morreram 15 pessoas nos últimos seis meses. Além da imprudência, a rodovia coleciona buracos, asfalto remendado, falta de sinalização e trechos sem acostamento. Os mesmos problemas se repetem nas BRs 282 e 280.
Os buracos maiores começam a aparecer no quilômetro 25 da BR-116, onde o desempregado Pedro Kaleskhi, 50 anos, passa quase todos os dias para visitar os parentes na localidade de São Lourenço. De bicicleta, ele pedala 12 quilômetros pelo acostamento. “Eu me cuido e rezo para que os motoristas também dirijam com cautela”, conta.
A equipe do DC presenciou dois carros com placas de cidades da Serra competindo, cada um querendo ultrapassar um caminhão do Rio Grande do Sul, num trecho em que a placa indicava ultrapassagem proibida. Nesse mesmo quilômetro, em Itaiópolis, se encontra um posto da PolÃcia Rodoviária Federal desativado há mais de seis anos e destruÃdo, que serve como abrigo para os andarilhos.
Trecho com neblina pela manhã e à noite
Ronaldo Prestes Ribeiro é gerente de uma lanchonete próxima do local que fica perto da divisa com o municÃpio de Papanduva. Ele alerta que esse trecho apresenta muita neblina pela manhã e quando anoitece. O acostamento é precário. “No quilômetro 59, o acostamento começa a estreitar que nem comporta a metade de um caminhão. No quilômetro seguinte, o mato toma conta do acostamento”, relata.
Motorista desvia de chão batido pela 470
SÃO JOSÉ DO CERRITO – Quem transita pela BR-282 entre os trechos de Vargem, no Meio-Oeste, e Ãguas Mornas, na Grande Florianópolis, percorre 290 quilômetros onde as diferenças não se resumem apenas a costumes e à natureza tÃpica de cada região. A rodovia também so modifica nos trechos de Vargem a São José do Cerrito e de Alfredo Wagner a Ãguas Mornas.
No trecho que liga a Serra Catarinense ao Meio-Oeste, são aproximadamente 90 quilômetros de estrada de chão. Há cerca de 500 dias, as obras foram retomadas e, desde então, somente 3,8 quilômetros foram asfaltados. Desde 1996 foram concluÃdos cerca de 20 quilômetros de rodovia, ou seja, 2,5 a cada ano ou 6,8 metros ao dia. “O 10º Batalhão de Engenharia de Construção assumiu as obras no sentido Cerrito a Lages há oito anos. Os militares pavimentam 7,8 metros por dia. Entre as duas cidades, faltam 13 quilômetros”, afirma o comandante Alexandre Rui Baralho Bianco.
Dos 32 quilômetros que separam os municÃpios, 19 estão pavimentados. Se estivesse concluÃda até o acesso à BR-470, a rodovia encurtaria a viagem do Oeste ao Litoral em 70 quilômetros. Enquanto isso não é possÃvel, os motoristas transitam pela BR-470. O guincheiro Gilberto Caxambu, 37 anos, já perdeu a conta de quantos acidentes atendeu. “Fico feliz quando só há perda material. Ver o sofrimento das pessoas é triste.”
Remendos na região de Rancho Queimado
A partir do quilômetro 30, em Ãguas Mornas, a situação da BR-282 começa a complicar. Segundo a PolÃcia Rodoviária Federal (PRF), a velocidade é o grande vilão dos acidentes. No quilômetro 32, há um estreitamento de pista. Nos últimos dois anos, morreram 18 pessoas em uma das curvas. Outro ponto perigoso é o quilômetro 48.
A estrada piora em Rancho Queimado. Cerca de 80% dos 26 quilômetros de asfalto apresentam remendos. Curvas com queda de cascalho e queda de pista são rotina no trecho.
A PRF ressalta que o excesso de velocidade faz com que os veÃculos saÃam da pista nas curvas. A fiscalização é por radar.
Liberação de verba para pavimentação
Gervásio Marcinicher, supervisor da unidade de Lages do Departamento Nacional de Infra-Estrutura em Transportes (DNIT), afirma que o governo federal já liberou R$ 2 milhões, no ano passado, para ajudar na conclusão do trecho da BR-282, de São José do Cerrito a Lages. Outros R$ 2 milhões serão entregues nos próximos dias.
A verba permitirá pavimentar 2,3 quilômetros este ano, deixando para 2005 apenas 10 quilômetros. Além disso, a verba auxilia na conclusão da terraplenagem do trecho até Vargem. Para conservação, já foram repassados mais R$ 200 mil.
Quanto à pavimentação de São José do Cerrito a Vargem, não há nem previsão de inÃcio. Marcinicher acrescenta que o DNIT está analisando os preços do antigo contrato.
Para o trecho da rodovia que liga Alfredo Wagner a Ãguas Mornas, o DNIT firmou contrato com o Ministério dos Transportes para fazer a manutenção do trecho mais crÃtico. A empresa Macadami ganhou a licitação e deve trabalhar na rodovia por dois anos. As obras começaram em junho. “O contrato inicial prevê recursos em torno de R$1,7 milhão. A prioridade é o muro de contenção das encostas entre Palhoça e Santo Amaro da Imperatriz.
No quilômetro 32, em Ãguas Mornas, pretendemos resolver o problema da meia pista”, explica o engenheiro Izaldo Carlos Kondlatsch. “Assim que for concluÃdo o trecho em manutenção, entramos com o processo de licitação para outros pontos crÃticos. Logo que for resolvido esse problema, partimos para o segundo tapume, em Alfredo Wagner”, completa.
Já para a BR-116, Kondlatsch salienta que o DNIT possui um contrato de manutenção em vigor, incrementado por recursos recebidos para operações emergenciais – os tapa-buracos. O trabalho começou dia 17 deste mês.
Cuidado ao volante
O policial rodoviário federal Andrei Luiz da Cunha trabalha há dois anos e meio no posto de Rancho Queimado, na Grande Florianópolis. O asfalto irregular e as curvas com queda de cascalho provocam acidentes no trecho de 115 quilômetros – que liga Palhoça a Alfredo Wagner. Cunha alerta para o cuidado no volante. “Cerca de 95% dos acidentes acontecem por imprudência do motorista”, afirma. Uma das histórias que mais marcaram o policial foi a que envolveu uma famÃlia de Urubici, na Serra Catarinense. “Mãe e filha estavam em um automóvel e o marido e outro filho em outro carro, atrás. A mulher bateu de frente com um Golf e morreram na hora.”
Obras paradas pelo menos há três meses
A BR-280, que liga o Porto de São Francisco do Sul a Porto União, na divisa com o Paraná, vive em situação crÃtica por causa dos buracos e desnÃveis na pista.
A PolÃcia Rodoviária Federal informa que em alguns trechos há obras paradas há pelo menos três meses e que a manutenção depende de acordos entre os municÃpios cortados pela rodovia e o Departamento Nacional de Infra-Estrutura em Transportes (DNIT).
A rodovia em pista simples tem acostamento ruim em diversos trechos, intenso movimento de veÃculos lentos (caminhões transportando toras e contêineres), muitos entroncamentos e presença de pedestres e ciclistas. O projeto de duplicação foi retomado pelo DNIT este mês e deve ficar pronto até maio de 2005, segundo o supervisor de Estudos, Projetos e Meio Ambiente do Dnit, César Augusto Santos.
Ainda não há nem promessa de quando o projeto será colocado em prática, mas ele compreende apenas o trecho entre São Francisco do Sul e Jaraguá do Sul, de quase 70 quilômetros, com custo de R$ 160 milhões. O DNIT considera o trecho até Jaraguá do Sul o mais crÃtico por causa dos caminhões rumo ao porto. Fonte DC