Motoristas tomam remédios para evitar o sono

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Motoristas tomam remédios para evitar o sono

Criciúma, 8.3.05 – Motoristas de caminhões acreditam que pelo menos 60% dos colegas de trabalho que viajam para as regiões Norte e Nordeste do país usam os chamados ?rebites? (remédios de tarja preta que têm venda proibida). A utilização dos medicamentos faz com que os trabalhadores consigam dirigir mais de três dias sem dormir e sentir sono.
Os motoristas que mais usam rebite são os que transportam cargas perecíveis, principalmente verduras. “Já tomei até sete cápsulas em uma viagem. Uso com conhaque para ficar acordado. O efeito colateral é que não é bom. Dá uma tremedeira e falta de ar”, explica o caminhoneiro L.T.B., 19 anos, na profissão há um ano e três meses. Sua rota: Criciúma São Paulo.

COCAÍNA
Conforme L.T.B., além de rebite, muitos caminhonheiros também usam cocaína durante a viagem. ?O objetivo é ficar acordado e seguir viagem. Nossa meta é entregar a mercadoria em bom estado no horário estipulado. Sei da amigos que cheiram cocaína?. contou.
INFARTO
O caminhoneiro F.G., 33 anos, com 14 anos de profissão, afirma que toma rebite há mais de 15 anos. “Tomo para ficar acordado e chegar com a carga no horário marcado. Já vi muitos motoristas consumindo bebida e rebite durante as viagens. Conheço dois companheiros que morreram de enfarto pelo uso constante da droga.”
Ele revela que cerca de 60% dos caminhoneiros fazem o uso do ?rebite? e reconhece o perigo do uso do medicamento. “Pode causar sérios danos à saúde e até levar à morte por infarto. Mesmo assim, continuo tomando. Faço a rota Criciúma Rondônia transportando madeira. São 4.300 mil quilômetros e três dias de viagem.”

Só os autônomos?

O presidente do Sindicato das Transportadoras de Cargas de Criciúma e região, Miro Manique Barreto, afirma que os empregados ligados às transportadoras não usam os medicamentos durante a viagem. Segundo ele, as empresas não obrigam os trabalhadores a dirigir além de sua capacidade física. “Os caminhões são vigiados via satélite e possuem tacógrafos. Só os autônomos tomam.” Em Santa Catarina, dados da Federação das Transportadoras de Cargas do Estado aponta para 30 mil pessoas que trabalham por conta própria.
O caminhoneiro S., de 35 anos, funcionário de uma transportadora da região, diz que conseguiu se livrar do remédio, mas que não foi fácil. ?Me deram a dica e fui atrás.? O motorista J., de 55 anos, afirma que em 15 anos de profissão nunca tomou, mas muitos amigos estão viciados no remédio.

Uso indiscriminado pode causar até a morte súbita

O uso de medicamentos como os rebites sem orientação médica podem causar doenças e até a morte. O alerta é do cardiologista Agenor Silvestre, que conhece casos em que motoristas ingeriam os remédios para não dormir e acabaram morrendo durante a viagem.
?Os remédios têm substâncias semelhantes à adrenalina e causam aceleração dos batimentos cardíacos, além da hipertensão arterial?, informa. Segundo Silvestre, dependendo da pessoa que ingere a substância, pode ocorrer acidentes de trânsito por causa de arritmias e pequenas tonturas.
Além dos transtornos diários que o caminhoneiro que ingere está sujeito, ao longo dos anos, pode ter que adotar um tratamento para controlar a hipertensão ou até mesmo desintoxicar o organismo, já que a pessoa tende a ficar dependente do remédio.

Rebite:
São medicamentos para emagrecer (anorexígenos ou moderadores de apetite), que só podem ser comprados com receita médica. Seus efeitos são similares aos da cocaína: sensação de força e disposição. Dependência psíquica que pode se desenvolver com o seu uso, que, se prolongado, pode favorecer o surgimento de doença mental (psicose anfetamínica).

Fonte: Tribuna do Dia

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