Joinville, 5.10.05 – O Brasil gasta em torno de R$ 1,5 bilhão por ano com manutenção e restauração das rodovias federais, dinheiro que por vezes precisa ser desviado de outros setores. Não fosse o excesso de carga que os caminhões costumam carregar, a deterioração da malha viária seria muita mais lenta do que é hoje. A afirmação é de Paulo Nunan, coordenador-geral do departamento de outorgas do Ministério dos Transportes, que ontem abriu o 10º Encontro Nacional de Conservação Rodoviária (Enacor) no Centreventos Cau Hansen, em Joinville. Além de detalhar o problema e apontar pontos básicos para resolvê-lo (controle e conscientização), Nunan falou sobre o novo Plano Diretor de Pesagens, que pretende implantar 200 pontos de pesagem de veÃculos fixos e móveis pelo PaÃs.
Segundo o coordenador, a durabilidade de um pavimento depende da qualidade de sua construção, mas a principal causa da deterioração é mesmo o tráfego de veÃculos com excesso de carga por eixo, que provoca um decréscimo da vida útil do pavimento de até 85%. O resultado direto disso não são simplesmente buracos e desnÃveis, mas a diminuição da segurança da população que utilizam as estradas. Por isso, o Ministério Público Federal está pensando em processar transportadoras e motoristas que trafegam em rodovias federais com excesso de peso. O motivo: dano contra o patrimônio da União. Nunan discorda. “Acho que um caminhão ou um motorista não pode ser o único culpado. Essa é uma questão para reflexão que coloco para quem está tratando do problema”, disse.
Para ele, o controle de peso por eixo é essencial para evitar o deterioramento precoce dos pavimentos e também de pontes antigas, que não foram projetadas para suportar essa sobrecarga diária. Outro dado interessante é que uma rodovia em que não existe pesagem tem um custo médio de manutenção 30% superior. “A degradação é ainda mais acelerada em rodovias em mau estado de conservação”, garantiu o engenheiro.
Educação
Assim, Nunan aponta que é preciso estabelecer uma infra-estrutura moderna de pesagem de veÃculos de carga nas estradas. Segundo ele, o Ministério dos Transportes lançará um edital para contratação de serviços de pesagem em 30 postos, além de colocar em ação outros 200, que serão integrados por um sistema eletrônico à Receita Federal. A isso soma-se o Plano Diretor de Pesagens, que existe há 25 anos e cujo sistema está sendo reestudado pelo Instituto de Engenharia Militar (IME) em parceria com o Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (DNIT), e um montante de recursos maior. “Pode não ser o suficiente, mas programação de intervenção existe. A malha rodoviária não está abandonada”, garantiu.
No entanto, o coordenador observou que é preciso fazer mais. Por exemplo, investir em educação, incentivando transportadoras e caminhoneiros a não praticar o uso de sobrecarga. E isso, para Nunan, precisa ser feito logo na origem, com portos e transportadoras dispondo de sistema de aferição de cargas. “Uma das principais causas (do impacto na vida útil das rodovias) é a falta de consciência dos transportadores que não pesam os caminhões. Nosso objetivo maior é criar consciência na origem da carga”, defende.
O Enacor segue até sexta-feira com palestras e mesas redondas. Legislação e segurança rodoviária são os temas que serão discutidos hoje. Ailton Brasiliense, diretor do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), é um dos palestrantes. Fonte: A NotÃcia