BrasÃlia, 28.10.05 – A Câmara dos Deputados aprovou nesta quinta-feira a Medida Provisória 255, transformando em lei os benefÃcios fiscais da chamada “MP do Bem”. O texto final, com 134 artigos, incorpora não só os incentivos originalmente criados pelo Ministério da Fazenda para estimular os investimentos e as exportações como também uma série de penduricalhos enxertados pelos parlamentares e que poderão agora ser vetados pelo presidente da República.
O governo concordou com praticamente todas as alterações que o Congresso quis fazer, pois seu objetivo era garantir a aprovação da MP esta semana. A MP 255 perderia a validade segunda-feira. Agora, os pontos mais polêmicos serão vetados.
Todo o esforço do governo foi no sentido de preservar os estÃmulos ao setor produtivo que constavam do texto original da “MP do Bem”. O principal é o que garante, a empresas que façam investimentos em novas fábricas, o direito de importar equipamentos com isenção tributária. Também há um conjunto de regras que facilita à s empresas recuperar mais rapidamente, na forma de crédito tributário, parte dos impostos que vêm embutidos nos preços das máquinas e equipamentos. Além disso, há incentivos à pesquisa e inovação tecnológica.
A “MP do Bem” também contemplou medidas para agradar à classe média, como a isenção do PIS-Cofins sobre computadores de preço mais baixo e uma regra que permite à s pessoas deixar de pagar Imposto de Renda sobre a valorização de seu imóvel, se a intenção, ao vendê-lo, for comprar outro imóvel no prazo de seis meses.
O principal ponto de discórdia na fase final de votação da MP foi a emenda do senador José Sarney (PMDB-AP) que isenta de IPI a produção com matérias-primas locais em microrregiões dos Estados do Amapá, Pará, Roraima, Rondônia e Amazonas. Esse benefÃcio fiscal, parecido com o da Zona Franca de Manaus, havia sido aprovado na véspera pela ampla maioria dos senadores, mas na Câmara não conseguiu se sustentar.
Na votação dos destaques ao texto, os deputados governistas e oposicionistas se uniram para derrubar a emenda de Sarney, assumindo, em troca, o compromisso de discutir com mais tempo um projeto de lei para incentivar a industrialização da região amazônica.
A tentativa de estender os benefÃcios fiscais da Zona Franca para essas outras regiões amazônicas enfrenta resistência não só dos governos estaduais do Centro-Sul do Brasil como até da maioria do setor empresarial, que teme pela desorganização industrial que uma isenção tributária dessa magnitude poderia provocar. Por isso, são remotas as chances de a promessa de um novo projeto de lei sobre esse assunto prosperar.
A fragilidade polÃtica do governo acabou prevalecendo durante todo o processo de negociação e isso se refletiu na colcha de retalhos em que se transformou a medida provisória, agora convertida em lei. O custo fiscal da MP, inicialmente estimado em R$ 3 bilhões, pode chegar ao dobro disso.
Pessoa JurÃdica na Comunicação
De acordo com os lÃderes governistas, o Palácio do Planalto deverá vetar vários dispositivos aprovados, como aquele que busca dar maior suporte legal à contratação de serviços de natureza intelectual – como o exercido por jornalistas, artistas, economistas e advogados – por meio de empresas individualmente constituÃdas.
Atualmente, muitas empresas – principalmente nos meios de comunicação – têm estimulado seus funcionários a se transformarem em “pessoas jurÃdicas” para escapar da tributação sobre a folha de pagamento. A Receita tem identificado e autuado várias dessas empresas, o que motivou o lobby empresarial a inserir no texto da MP um artigo garantindo tratamento tributário de pessoa jurÃdica a esses profissionais.
Durante a negociação no Senado, a equipe econômica chegou a sugerir um regime de tributação especial para esses profissionais, mas a proposta – que implicaria aumento de tributação – não recebeu nenhum respaldo.
O PC do B ainda tentou barrar a legalização propondo um destaque para que o artigo fosse votado em separado, mas a maioria da Câmara manteve a redação que beneficia as empresas.
Principais pontos da MP do Bem, aprovada pelo Congresso
Exportações – Isenção de PIS/Cofins na compra de máquinas e equipamentos para novas empresas, desde que elas destinem ao mercado exterior 80% da produção de seus três primeiros anos de funcionamento. Para o setor de software, esse perÃodo será de cinco anos.
CSLL – Prorrogação por um ano, até o final de 2006, do benefÃcio pelo qual as empresas tributadas com base no lucro real possam pagar menos CSLL, por conta do desgaste de máquinas e equipamentos.
Pequenas e Micro – Empresas instaladas em áreas carentes do Norte e do Nordeste terão as bases de cálculo do Imposto de Renda e do PIS/Cofins reduzidas. Os créditos tributários gerados na compra de bens de capital serão compensados mais rapidamente, e o desgaste de máquinas e equipamentos será abatido integralmente no IR.
Imóvel residencial – Proprietários que venderem seu imóvel para adquirir outro no prazo de até seis meses não precisa recolher IR sobre o ganho de capital; o valor dos imóveis para declaração de IR passará a ser corrigido em 0,35% ao mês.
Computadores – Os computadores com valor de até R$ 2,5 mil ficarão isentos de PIS/Cofins, o que representa um potencial de desconto no preço final de 9,25%.
Recolhimento – Ampliação dos prazos de recolhimento de tributos federais e do FGTS, para adequá-los ao capital de giro das empresas.
Energia – Deduções mais rápidas do desgaste de máquinas e equipamentos no cálculo do IR de empresas geradoras de energia. O recolhimento do PIS/Cofins desse segmento ocorrerá apenas pelo modelo cumulativo, com alÃquota de 3,65%.
Simples – O teto de enquadramento das empresas no sistema integrado de pagamento de impostos e contribuições será dobrado, passando de R$ 120 mil anuais para R$ 240 mil, no caso das microempresas, e de R$ 1,2 milhão para R$ 2,4 milhão, no caso das pequenas empresas. Esses novos tetos só terão efeito, entretanto, quando o governo estabelecer por medida provisória as novas faixas de alÃquota do Simples, o que está previsto para ocorrer até o final do ano.
Prefeituras – Os municÃpios endividados com o INSS poderão parcelar seus débitos em 20 anos, recebendo um abatimento de 50% sobre o total da dÃvida. As parcelas pagas ao INSS estão limitadas a 9% do Fundo de Participação dos MunicÃpios (FPM).
Taxistas – O prazo da isenção de IPI sobre automóveis-táxi, que terminava no final deste ano, foi prorrogado, e o perÃodo para adquirir um outro veÃculo isento cai de três para dois anos.
LaticÃnios – A alÃquota do PIS/Cofins para alguns tipos de queijo e leite em pó será zerada.
Planos de Previdência – O prazo para quem tem plano de previdência privada optar pelo regime de tributação regressiva (alÃquota decrescente com o tempo de permanência) permanece aberto até 31 de dezembro.
Prestador de Serviço Intelectual – Fica garantido o regime tributário de pessoas jurÃdicas para a prestação de serviços intelectuais em caráter “personalÃssimo”; ou seja, busca-se legalizar a contratação de serviços por meio de empresas individuais, em vez de trabalho assalariado. Fonte: Agencia Estado