São Paulo, 15.1.07 – Nos próximos 5 anos testemunharemos o desaparecimento de diversas empresas de transporte rodoviário de cargas no Brasil. Verdadeiros Ãcones do setor, que hoje faturam entre R$ 100 milhões e R$ 1 bilhão anualmente, simplesmente desaparecerão ou serão adquiridas por Operadores LogÃsticos norte-americanos, europeus e asiáticos. É o que acaba de ocorrer com o Expresso Mercúrio, que recentemente foi adquirido pela holandesa TNT.
Estamos vivendo a terceira e decisiva etapa do processo de amadurecimento do mercado de prestação de serviços de logÃstica e transportes no Brasil.
A primeira etapa, a mais longa até então, transcorreu desde os primórdios do transporte no Brasil nos anos 50, até a metade da década passada, mais precisamente em 1995, quando as empresas, apoiadas em investimentos em ativos operacionais, cresceram e ganharam a importância que têm hoje. Foi uma fase de prosperidade e riqueza, e em alguns casos, de esbanjamento. Muitos dos atuais lÃderes do setor cresceram dentro dessa realidade, e vem repetindo o mesmo modelo de gestão do passado.
A segunda etapa iniciou em 1995, com o advento do conceito de logÃstica integrada nas empresas e que coincidiu com a estabilização da inflação no Brasil e com uma desaceleração no ritmo de crescimento econômico, em comparação com as décadas de 70 e 80. Esses três fatores criaram uma combinação ?explosiva? no tocante à gestão dos custos de transportes, forçando os Embarcadores a otimizar os fretes pagos. A pressão das empresas encontrou ?respaldo? no setor de transporte, e os fretes despencaram radicalmente. A queda na receita foi acompanhada por um aumento de custos fixos e variáveis, que reduziu drasticamente os lucros. A chegada dos Operadores LogÃsticos internacionais e o avanço do modal ferroviário em função dos investimentos realizadas pelas concessionárias do setor, também contribuÃram para a queda dos fretes, porém em menor escala.
Esta segunda etapa, que durou 10 anos (portanto até 2005), foi o perÃodo em que as Transportadoras deveriam ter se estruturado adequadamente, se preparando para os desafios futuros, previstos nesta fase que estamos vivenciando. Margens de lucratividade ao redor de 20%, anteriormente praticadas, deram lugar a margens mÃnimas, de no máximo 5% na grande maioria dos casos, que inviabilizam um negócio que envolve o emprego de capital intensivo, e muito exposto a diversos riscos operacionais e financeiros.
Nesta nova fase, que deverá durar ao redor de 10 anos, ocorrerá um equilÃbrio natural entre oferta e demanda, além de uma melhor distribuição da matriz de transporte brasileira, independente de ações externas, mas à custa da falência de centenas e talvez milhares de empresas de transporte de cargas. Apesar das dificuldades, muitas empresas continuarão surgindo e desaparecendo, repetindo o tradicional modelo de gestão, exclusivamente apoiado em ativos.
Vários são os motivos que levarão ao aumento da mortalidade das empresas de transporte no Brasil. Envolvem causas relacionadas à falta de regulamentação do setor, estradas ruins, forte sazonalidade de final de mês, concorrência predatória, desunião no setor, representatividade dos autônomos na frota total, desequilÃbrio entre oferta e demanda, mas principalmente, pela incompetência na gestão das empresas, decorrente de erros estratégicos e da falta de uma visão integrada de pessoas, processos e tecnologia.
Ao final desta terceira etapa, prevista para terminar em 2015, restarão os escombros de uma indústria muito mal tratada pelo setor público, pelos seus usuários (Embarcadores), pelos sindicatos e também, pelos seus administradores.
Iniciar-se-á então uma nova era, onde as empresas de transporte terão a sua identidade cultural e empresarial consolidadas, estruturas enxutas e alta produtividade operacional, estando perfeitamente adaptadas aos desafios do mercado, operando com a premissa básica de qualquer negócio, a lucratividade.
Infelizmente poucos são os bons exemplos de gestão que presenciamos atualmente, mas aos poucos o mercado começa a enxergá-los. Nenhum deles próximo da perfeição. Ainda há tempo de reverter o processo de deterioração das empresas e provavelmente esta seja a última oportunidade. O remédio é amargo, mas ainda existe salvação… Façamos de 2007 o ano da virada!
*Marco Antonio Oliveira Neves, Diretor da Tigerlog Consultoria