BR-101 à noite, perigo constante

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BR-101 à noite, perigo constante

Florianópolis, 27.7.06 – Os motoristas que trafegam à noite pelo trecho Sul em obras da rodovia BR-101 são obrigados a redobrar a atenção, a cautela e a paciência para evitar acidentes. No último dia 20 de julho, a reportagem do DC percorreu 360 quilômetros nos trechos da rodovia que mais sofreram intervenções das obras de duplicação para apresentar os perigos principalmente do tráfego noturno. A saída aconteceu às 19h, de Passo de Torres, na divisa com o Rio Grande do Sul.

Confira
19:20
No início da noite, o motorista precisa estar mais atento para o movimento de pedestres e ciclistas nos acostamentos, porque o trecho Sul da rodovia corta diversas comunidades. Logo após o trevo principal de acesso a Sombrio, km 436, o pedreiro Alexandre Gonçalves, 34 anos, morador de Araranguá, pedia carona numa parada de ônibus, como faz diariamente.
– De manhã é mais fácil. De noite, depende da sorte – diz o servente, desde às 18h no local.
19:40
O primeiro desvio do percurso, no km 434,5 (Sombrio), criou uma pequena fila de veículos no sentido Norte-Sul. A alteração no traçado foi motivada por uma obra de drenagem. Balisadores e cones luminosos sinalizam o trecho, mas a velocidade é reduzida (20 quilômetros por hora) devido à proximidade lateral entre veículos pesados que trafegam em sentido contrário. Motoristas de caminhões em sentidos opostos até aproveitaram para conversar.
19:50
O funcionário era Alex Antônio Duarte, 23 anos, que fazia “serão” para despejar óleo queimado em tonéis usados para reforçar a sinalização durante a madrugada, quando a neblina dificulta a visibilidade dos cones luminosos.
– Esse desvio foi feito hoje (quinta-feira) – relata, ao lado do vigia Daniel Knopp, 39 anos, que pernoitaria no local para cuidar do material de sinalização.
21:00
O caminhoneiro gaúcho Flávio Oliveira, 25 anos, fala no celular para tentar resolver um problema mecânico na carreta com produtos de limpeza. Ele retornava de São Paulo e foi obrigado a parar no acostamento logo após o trevo Sul de acesso a Criciúma.
– Tá bem complicado. Outro dia vi uma carreta desviar de uma patrola que estava na contramão e bater de frente com uma 113 (caminhão Mercedes Benz) – conta o motorista, que passa pelo trecho Sul duas vezes por semana.
21:16
O km 384, acesso a localidade Poço Oito (Içara), dá início a uma sucessão de desvios, resultantes das obras de duplicação mais adiantadas em solo catarinense. O maior e mais complexo dos desvios está no quilômetro 381, no acesso a Vila Nova (Içara), que concentra um trafégo maior de veículos. Bem sinalizado, o desvio peca apenas pelas condições da pista, com ondulações e buracos.
21:30
Com a proximidade da madrugada, a neblina começa a aparecer no desvio de mão dupla do km 378, imediações da Fazenda Guglielmi (Içara), ainda no trecho de acostamento nivelado da rodovia, que termina no km 375 (trevo de acesso a Morro da Fumaça), com outro grande desvio, mas de mão simples. O último desvio do lote está no quilômetro 365, que dá acesso a localidade de Morro Grande (Sangão). Após o desvio, e neblina volta a atrapalhar a visibilidade, desta vez agravada pela fumaça negra expelida pelas olarias situadas às margens da rodovia.
22:40
Na lanchonete de um posto de combustível na entrada de Tubarão, o motorista de caminhão Rodrigo Mendes, 30 anos, compra um suco e um lanche antes de seguir viagem até Florianópolis. Ele prefere viajar à noite para evitar a “tranqueira” causada pelo movimento intenso de veículos durante o dia:
– A neblina e o estado precário da pista, que causa muita trepidação, são os maiores perigos para quem dirige à noite – aponta o motorista de Tubarão.
23:40
Logo após o trevo de acesso a Vila Nova, em Imbituba, no km 290, travestis fazem ponto às margens da rodovia, na entrada de um posto de combustível. Kelly, 29 anos, diz que mora às margens da rodovia e já viu alguns acidentes, na maioria saídas de pistas de caminhões seguidas de tombamento. A prostituição também acontece nos trevos de acesso a Sombrio, Araranguá e Laguna.
– Falta sinalização. Com a obra ficou mais perigoso – constata o travesti, natural de Imbituba.
23:50
No km 283, localidade de Nova Brasilia, Imbituba, uma máquina está ligada para simular uma carga específica sobre a pista e avaliar a qualidade do pavimento. É um trecho experimental, o primeiro a receber asfalto no trecho Sul. A carga é simulada através de um rodado duplo com acionamento hidráulico, sem auxílio de trabalhadores.
0:30
O início da madrugada indica a presença de neblina em grandes extensões. Caminhões ligam o pisca-alerta. O retorno até Criciúma é feito sob constante neblina. Os veículos trafegam a 30 quilômetros por hora. A chegada em Criciúma, via trevo de acesso a Morro da Fumaça, acontece só às 3h30min. Ou seja, os 150 quilômetros que separam o trevo de acesso a Paulo Lopes e o trevo de acesso a Morro da Fumaça foram percorridos em quase três horas.

Até a polícia aconselha evitar a viagem no Sul [

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) aconselha os motoristas a evitar uma viagem noturna no trecho Sul da rodovia BR-101. Sinalização deficiente, acostamentos estreitos, trevos com iluminação deficiente e a irresponsabilidade de motoristas são alguns dos motivos que justificam a orientação.
De acordo com o responsável pela comunicação social da PRF, Luiz Graziano, a sinalização atual está defasada em relação a nova legislação, o Código Brasileiro de Trânsito, de 1997. Faltam placas reflexivas que facilitariam a visualização para o motorista que viaja à noite:
– Como a sinalização é deficiente, o motorista não respeita e aí começa o caos na rodovia – explica.
O policial também salienta que a diferença de nível entre a rodovia atual e a área que está sendo preparada para a duplicação tem transformado simples saídas de pista em tombamentos e capotamentos.
A aquaplanagem é outra situação agravada à noite, quando o motorista não enxerga as poças de água formadas pela chuva.
– Por isso a nossa recomendação é evitar viajar à noite – destaca Graziano.

Álcool e droga aumentam os problemas

O policial também destaca que o movimento de ciclistas e pedestres nos acostamentos e trevos representam perigo para todos.
Na avaliação dele, as casas de prostituição localizadas nas margens da rodovia acarretam em outros dois perigos para os motoristas que trafegam à noite: o álcool e as drogas.
– Esse é um problema sério. Eles chegam a esses locais, consomem álcool e drogas, e depois voltam para a rodovia – diz Graziano.
O policial acrescenta que a prostituição de beira de estrada, constatada nos trevos de acesso a algumas cidades, desvia a atenção dos motoristas.
– Ainda tem aquele motorista que pára em local inadequado para falar com esse pessoal, colocando em risco os demais motoristas que trafegam na rodovia – destaca.

Alerta máximo

O que você precisa saber sobre o trecho Sul em obras da BR-101, principalmente se for dirigir à noite:
Os veículos pesados (caminhões, cegonhas, carretas) são responsáveis por 90% do tráfego. Algumas transportadoras não trafegam após a meia-noite.
Antes de viajar, confira as condições de funcionamento das sinaleiras e faróis. Uma lâmpada queimada pode fazer a diferença para os outros motoristas.
A neblina é constante a partir da meia-noite em todo o trecho Sul. Ligue o pisca-alerta para sinalizar as condições ruins de visibilidade, a redução brusca de velocidade, e as filas ocasionadas pela neblina.
Os desvios estão localizados entre Sombrio e Jaguaruna. Alguns apresentam ondulações na pista e exigem atenção do motorista. Mantenha uma distância segura do veículo que está a sua frente.
O movimento de pedestres (moradores e andarilhos) e ciclistas nas margens da rodovia é comum até as 23h, principalmente entre São João do Sul e Araranguá.
Não ultrapasse nos desvios. Tenha paciência com os veículos pesados que trafegam nesses trechos com velocidade bastante reduzida.

DNIT vai melhorar sinalização

O Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (DNIT) vai reforçar a sinalização no trecho Sul da BR-101, disse ontem o gerente regional em Tubarão, engenheiro Avani Sá. Ele garantiu que o trabalho começa até a próxima semana.
As reformas incluem a pintura da sinalização horizontal, a instalação de tachões na entrada das pontes, além do reforço na sinalização vertical.
Na avaliação do engenheiro, a sinalização realizada pela empreiteira Queiroz Galvão, no lote 27, que concentra a maioria dos desvios da rodovia, é “muito boa”, pois conta com sinalizadores luminosos à noite. Nos demais lotes em obras, Aguiar de Sá classifica a sinalização apenas como “razoável”.
As duas lombadas eletrônicas estragadas devem passar por reparos nos próximos dias, segundo o engenheiro do DNIT. Elas estão localizadas nos quilômetros 413 (Araranguá) e 326 (Capivari de Baixo, em ambos os sentidos). O trecho Sul em obras ainda tem outras três lombadas eletrônicas em funcionamento, onde o limite máximo de velocidade é 50 quilômetros por hora: quilômetros 420 (Araranguá), 341 (Tubarão) e 313 (Laguna).

Fonte: Diário Catarinense

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