Rio de Janeiro,4.7.06 – O desgaste da malha rodoviária federal com caminhões que circulam transportando carga acima do peso permitido pela legislação gera perdas de aproximadamente R$ 1,5 bilhão por ano, revelou estudo do Instituto Militar de Engenharia (IME). O valor representa três vezes mais que os R$ 440 milhões investidos pelo Governo federal na Operação Tapa-Buraco, duas vezes o custo de construção do Arco Rodoviário do Rio de Janeiro e 80% dos gastos previstos pelo Ministério dos Transportes para recuperação de estradas neste ano.
Especialistas apontam a falta de fiscalização como responsável pela prática de sobrepeso das transportadoras. Existem apenas seis postos fixos e 34 móveis em operação nos 56 mil quilômetros de estradas federais, uma média de um ponto de pesagem para 1,4 mil quilômetros de rodovias da União. Na tentativa de reduzir as perdas, o Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (Dnit) lançará neste mês o Plano de Pesagem Nacional, que prevê novas balanças e legislação mais rÃgida.
Segundo o coordenador-geral de Operações do Dnit, Luiz Cláudio Varejão, serão instaladas 100 balanças fixas de pesagem espalhadas pelas rodovias federais, além de mais 69 balanças móveis. Serão necessários cerca de R$ 150 milhões para execução do Plano de Pesagem, mas o Orçamento da União não prevê recursos para sua implementação. Varejão explicou que o órgão buscará recursos com o Ministério dos Transportes e pretende assinar convênio para utilizar mão-de-obra do Exército.
“Também teremos mudanças no ponto de vista da legislação. Existe hoje tolerância com o caminhão que transporta 7,5% a mais de carga por eixo do que o permitido. Isso ocorre por causa da possibilidade de margem de erro da balança. Como as novas unidades serão aprovadas pelo Inmetro, pretendemos reduzir essa tolerância para 1%”, explica Varejão, afirmando que o projeto de engenharia dos novos postos de pesagem está em licitação e começará a ser executado a partir deste mês.
De janeiro a maio deste ano, foram fiscalizados 174.061 caminhões e 3.857 ônibus nas estradas, dos quais os irregulares apresentaram sobrepeso total de 28 mil toneladas. A frota brasileira é composta de 1,509 milhão de caminhões, segundo dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). A maior parte da fiscalização está concentrada na região Sudeste e Sul, onde a circulação de caminhões é maior. No novo plano todas as regiões serão contempladas, de acordo com o coordenador do Dnit.
Sem fiscalização – Dados da Associação Brasileira das Concessionárias Rodoviárias (ABCR) mostram que as estradas não fiscalizadas com balanças apresentam gastos de manutenção 30% maiores. Uma estrada pode durar dez anos com peso de 8,2 toneladas por eixo padrão de caminhão. Uma sobrecarga de apenas 5% por eixo padrão, tolerado como margem de erro da balança fixa, reduz a duração do pavimento em mais de três anos. No caso de sobrepeso de 7,5% para balança móvel, a vida útil cai pela metade.
“Em boa parte, o excesso de peso por eixo padrão ocorre por causa da má distribuição da carga dentro do caminhão. Nos últimos anos, várias resoluções reduziram as punições sobre os infratores. O resultado foi o aumento do desgaste do asfaltado e gastos em recuperação”, diz Gil Guedes, diretor técnico da ABCR. Nas seis estradas associadas à ABCR, num total de 1,4 mil quilômetros, existem 15 balanças: média de uma a cada 100 quilômetros. São grandes eixos de transporte de mercadoria.
O aumento de gastos com manutenção das estradas não é, no entanto, o único transtorno causado pelo excesso de peso nos caminhões. Estudo elaborado pela seguradora Pamcary aponta o excesso de carga como uma das principais causas de acidentes de trânsito envolvendo caminhões no Brasil. Transportando peso acima da capacidade permitida, eles levam maior tempo e necessitam de mais distâncias para frenagem. Com isso, em cada 10 caminhões envolvidos em acidentes nos últimos anos, seis estavam com excesso de carga. Fonte: Jornal do Commércio