Florianópolis, 18.9.06 – Uma série de reportagens destaca os desafios de Santa Catarina para os eleitos em 1º ou 29 de outubro. Nos próximos dias, abordaremos assuntos como transportes, segurança, educação, agricultura, entre outros. São os catarinenses e profissionais dos setores que expõem a situação destas áreas e as necessidades de melhorias.
Com graves sinais de esgotamento, a infra-estrutura de transportes em Santa Catarina vai exigir do próximo governante muito mais do que promessas.
As rodovias estão malconservadas, várias sem pavimentação. A duplicação da BR-101 Sul consome quase toda a verba federal destinada ao Estado, os projetos de ampliação das linhas ferroviárias nunca saÃram do papel e os aeroportos regionais estão com obras paralisadas. Ainda que sejam de âmbito federal, os portos catarinenses exigem constante modernização.
Vital para o desenvolvimento do Estado, a infra-estrutura de transportes, se permanecer como está hoje, pode comprometer o crescimento das exportações, o escoamento da produção e até mesmo o trânsito de motoristas, pedestres e passageiros. Num Estado com mais de 500 quilômetros de costa, cuja Capital é sediada numa ilha, quase não existem opções de transporte coletivo marÃtimo. A própria cabotagem, transporte de cargas pelo mar, ainda é incipiente.
Como a logÃstica de transporte é fundamental para reduzir o chamado Custo Brasil e garantir a competitividade dos setores produtivos do Estado, prejudicado pela defasagem de investimentos, o setor é alvo de reivindicações dos empresários catarinenses.
Empresários reivindicam definição de normas
Segundo o diretor de Desenvolvimento da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), Henry Quaresma, o Estado precisa da aplicação de recursos de investimentos em obras de infra-estrutura fÃsica de competência estadual, destinados a assegurar a eficiência do setor industrial, com destaque para a modernização das redes rodoviárias, aquaviária, ferroviária e aeroportuária, incluindo medidas que favoreçam o desenvolvimento equilibrado entre todas as regiões.
– Santa Catarina precisa de uma definição de normas abrangentes para segurança jurÃdica do transporte de cargas. A Fiesc elencou uma série de medidas extremamente necessárias ao setor, entre elas a privatização da BR-153 do trecho de Passo Fundo (RS) a Porto União (SC), a conclusão da BR-282 até a ponte internacional, no municÃpio de ParaÃso, e do trecho de São José do Cerrito a Campos Novos, ainda sem pavimentação – explica.
Buracos Consomem R$ 2 bi ao ano
Diretamente interessada na modernização das rodovias, a Federação dos Transportes de Cargas de SC (Fetrancesc) calcula em R$ 2 bilhões anuais os prejuÃzos do setor com a má conservação das estradas que cortam o Estado. Cerca de 30% da movimentação anual de R$ 7 bilhões ficam nos buracos das rodovias, que representam altos custos de manutenção.
De acordo com o presidente da Fetrancesc, Pedro Lopes, as rodovias estaduais estão em melhores condições do que as federais e o policiamento é melhor. Entretanto, a sinalização é precária e não condiz com a realidade. Desde que foram liberados os chamados bitrens (caminhões com sete eixos e duas carretas, para até 57 toneladas), as pontes do Estado foram sinalizadas com limite máximo de 45 toneladas.
?Isso exige que peçamos autorização para passar com bitrens por elas. Mas se pode passar com autorização, por que não pode sem??, indaga Lopes.
O que o setor quer é uma avaliação real da capacidade de todas as pontes do Estado e não a uniformização do limite em 45 toneladas. Outra problemática levantada pela Fetrancesc diz respeito à concentração dos recursos federais na duplicação da BR-101 Sul.
?Com isso, sobram recursos apenas para a operação tapa-buraco nas outras rodovias, também vitais para o escoamento da produção, como a BR-280, BR-282 e BR-470?.
Portos precisam de melhores acessos
A não obrigatoriedade de parada nas balanças de pesagem é outro fator que compromete o setor no Estado. O que se quer é uma forma de fazer o transbordo de carga, além da multa, quando for verificado o excesso de peso. De nada adianta, diz Lopes, cobrar multa e deixar o caminhão com excesso continuar trafegando, sob pena de comprometer as condições das rodovias e tirar a carga de outro caminhão.
Acesso facilitado aos portos, para ganhar rapidez no carregamento dos navios, é outra reivindicação.
?A velocidade média no Estado caiu de 75 quilômetros por hora para apenas 54. É um desperdÃcio de tempo e dinheiro por falta de fluxo?, lamenta Lopes.
Ainda fora dos trilhos
Santa Catarina tem pouco mais de 1,3 mil quilômetros de ferrovias, operacionalizadas por apenas duas concessionárias. Existem dezenas de projetos para melhor aproveitamento do modal, mas nenhum deles conseguiu sair do papel.
Segundo o presidente da Federação das Associações Comerciais e Industriais de SC (Facisc), Luiz Neves, não há como manter o crescimento do comércio exterior sem um contato viável e eficaz entre o Leste e o Oeste catarinenses. A federação aposta na Ferrovia do Frango, que ligaria todo o Estado aos portos.
– Há perda de competitividade em função do custo do frete – diz.
Uma ligação entre os portos, através da Ferrovia Litorânea, aproveitaria os trilhos existentes que desembocam nos portos, interligando-os para melhor aproveitamento do transporte de cabotagem.
A Facisc também cobra empenho do governo do Estado junto ao Fórum Parlamentar Catarinense para garantir dotação orçamentária para a duplicar a BR-470 e outras rodovias federais, além de agilidade nas Parcerias Público-Privadas (PPPs), para viabilizar essas obras.
O presidente da Associação Comercial e Industrial de Blumenau, Ricardo Stodieck, destaca que a BR-470 é a espinha dorsal que liga o Oeste aos portos de Itajaà e de São Francisco do Sul, além de atender toda a movimentação do Vale.
Em Chapecó, a conclusão da BR-282, implantação da terceira pista em determinados trechos e o contorno viário do municÃpio são as principais reivindicações.
No Norte do Estado, o gargalo é a BR-280: a pista é simples e absorve todo movimento do Porto de São Francisco do Sul. Há um movimento pró-duplicação entre Jaraguá do Sul e São Francisco do Sul e recursos já foram liberados para estudos de viabilidade. Entretanto, a dependência de acordos com o governo federal ainda emperram do projeto.
Fonte: Diário Catarinense