Palhoça, 4.10.07 – Uma manifestação liderada por deputados estaduais contra a cobrança de pedágio em rodovias catarinenses fechou a BR-101 durante meia hora na tarde de ontem, no trevo entre Palhoça e Santo Amaro, e formou fila de dois quilômetros, no sentido Norte-Sul. O protesto contou com cerca de 70 pessoas, na maioria vinculadas a movimentos sociais e aos parlamentares.
Apesar da concessão, na última terça-feira, de liminar pela Justiça Federal para uma empresa argentina adiando o prazo de entrega das propostas dos interessados em explorar os trechos das rodovias federais, o movimento foi mantido, segundo os parlamentares, pela possibilidade de cassação do documento, já que a data do leilão, dia 9, foi mantida.
As crÃticas à instalação de sete praças de pedágio em Santa Catarina, quatro ao longo da BR- 101 e três da BR-116, contaram com a participação de deputados do PT.
De acordo com Décio Góes, do partido governista, as rodovias em questão são muito urbanizadas para abrigar a cobrança de pedágio. Ele criticou, ainda, a forma como foi elaborado o edital e sugeriu que ele fosse suspenso para que a sociedade avalie o modelo atual de privatização das estradas.
– Já pagamos impostos sobre os combustÃveis com a finalidade de construir e manter as rodovias. Pedágio é bitributação – reclamou.
Representantes da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e do Movimento dos Usuários das Rodovias do Brasil (MURB) justificaram a manifestação mostrando dados da Associação Nacional de Transportes de Cargas que apontam que o Brasil possui 6% da malha rodoviária asfaltada com pedágios, enquanto a média mundial é de apenas 2%.
– Seria favorável à privatização das estradas se elas tivessem sido construÃdas pela iniciativa privada, como ocorre em paÃses da Europa, em que as empresas fazem a construção, cobram pedágio durante anos e devolvem ao governo – comentou Sérgio Popper, coordenador do MURB.
Objetivo era fechar a rodovia por uma hora – A justificativa do coordenador estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Altair Lavratti, que participou em menor número de manifestantes, foi de que a privatização vai de encontro à dignidade da população, que já tem que pagar por tudo.
O objetivo era fechar a BR-101 durante uma hora, mas a PolÃcia Rodoviária Federal negociou com os manifestantes e permitiu o bloqueio por apenas 30 minutos.
Locais que terão praças de pedágio
BR-101
Garuva Km 2
Araquari Km 78
Tijucas Km 162
Palhoça Km 221
BR-116
Monte Castelo Km 80
Santa CecÃlia Km 152
Correia Pinto Km 235
Apoio apenas de militantes e assessores
A participação popular no manifesto foi pouca. A maioria dos participantes estava identificada com emblemas da CUT, do MURB, do MST ou como assessor parlamentar, mas as opiniões entre os motoristas entrevistados na fila se dividiram.
Na direção de uma ambulância que voltava com passageiros para Urussanga, no Sul do Estado, José Martins considerou o protesto exagerado. Como saiu de lá de madrugada para transportar pessoas doentes até a Capital, entre elas pacientes que haviam feito quimioterapia, disse que deveriam ter prioridade na passagem, mesmo bloqueada.
A indignação não se restringiu aos que estavam cansados. Compromissos inadiáveis em risco também tiraram do sério quem, além de lamentar o congestionamento, é favorável ao pedágio, como no caso da estudante Vanessa de Souza. Para ela, que levava um palestrante a um evento em andamento no horário da manifestação, o ato foi um desrespeito.
– Acho que o pedágio só vai melhorar a qualidade das estradas. Queria ver se fossem os estudantes parando a BR! -exclamou.
Diferentemente de Vanessa, os comerciantes Elói Ramos e Júlio César Santos, ambos de Palhoça, saÃram dos carros para conversar, apesar dos compromissos agendados.
– O transtorno é compensado pelo objetivo do protesto, porque já se paga muito imposto nesse paÃs. Concordaria em pagar pedágio se não pagasse mais o IPVA – argumentou Júlio César. Os valores máximos cobrados devem ser de R$ 4,18 para a BR-101 e de R$ 2, 75 para a BR-116. Fonte: DC