São Paulo, 9.8.06 – Com menor volume de carga, caem as vendas de caminhões e fluxo de pedágio e sobe inadimplência. Reflexos provocados pela crise no transporte rodoviário de cargas contaminam vários lados. O mercado de caminhões novos caiu 11% de janeiro a julho, as vendas de carretas, em igual perÃodo, tiveram retração de 5%, as praças de pedágios pela primeira vez em muitos anos registram queda na passagem de caminhões. Além disso, o setor está com dificuldades de honrar compromissos assumidos com a compra de veÃculos junto a instituições financeiras.
Tanto transportadores como caminhoneiros acusam o baque. Edno Gonçalves, sócio da Transportadora Falcão, de Londrina (PR), calcula que da frota de cerca de 5 mil bitrens que trafegam nos mercados de Mato Grosso e do Paraná, apenas 50% estejam atuando. “Com a quebra da safra agrÃcola e a redução das exportações do setor industrial por conta do câmbio desfavorável, há um excesso de oferta de carretas no mercado, o que puxa os preços do frete para baixo”, diz ele, que tem frota de 150 caminhões.
O presidente da Federação dos Caminhoneiros (Fecam), do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, Eder Dal´Lago, diz que o baixo crescimento econômico do PaÃs, a crise da agricultura e o excesso de caminhões nas estradas têm levado a uma defasagem de 40% a 50% no valor do frete. “Como tem muito caminhão na estrada, é a lei da oferta e da procura. Se eu não levo por este preço, há outros sete ou oito caminhoneiros para levar”, diz Dal´Lago, dirigente sindical que responde por mais de 90% do transporte de soja no estado gaúcho.
As composições bitrens e os rodotrens, segundo Dal´Lago, são os novos vilões da categoria. “Um rodotrem que leva 70 toneladas faz o trabalho de quatro caminhões de 15 toneladas”. A Fecam congrega cerca de 180 mil caminhoneiros autônomos do Rio Grande do Sul e outros 70 mil em Santa Catarina.
O gerente de LogÃstica da Cooperativa TritÃcola Mista Alto Jacuà Ltda (Cotrijal), Ernildo Dalazen, diz que o frete esteve valorizado somente por 45 dias logo após o inÃcio da safra de soja. Depois, por causa do preço da soja, a comercialização parou e o frete caiu, diz o gerente da cooperativa de Não-Me-Toque, no Planalto Médio gaúcho, distante cerca de 600 quilômetros do Porto de Rio Grande.
“Além do aumento do diesel, os salários também tiveram correção, o que impactou em pelo menos 10% os custos. Mas nenhuma empresa está conseguindo repassar esse percentual”, acrescenta Fernando Klein Nunes, presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas do Paraná (Setcepar), que reúne 210 associadas.
Sem repasses
Mesmo quem atua em mercados que não foram afetados pela safra e pelo câmbio está com dificuldades para reajustar seus preços. Rui Cichella, dono da Tic Transportadora Ltda, que movimenta cargas do setor petroquÃmico, conta que a queda do frete agrÃcola contaminou outros segmentos. “Não conseguimos negociar aumentos”, afirma. Segundo Edno Gonçalves, da Transportadora Falcão. os preços caÃram 30% em 2006 em relação ao ano passado. No norte do Paraná, o valor do quilômetro rodado para carga industrial está cotado entre R$ 1,80 e R$ 2, mas, segundo Gonçalves, precisaria valer em R$ 2,80 para cobrir os custos das transportadoras. A solução tem sido negociar caso a caso com os clientes. A maior parte deles, no entanto, substituiu os contratos de longo prazo pela contratação spot.
Financiamento afetado
De acordo com Nunes, do Setcepar, algumas empresas que concentram sua atuação em cargas do agronegócio já começam a ter problemas para honrar seus financiamentos para frota de veÃculos. Dal`Lago, das Fecam, diz que a inadimplência também afeta os caminhoneiros. “Para uma viagem de mil quilômetros levando 15 toneladas, por exemplo, o valor certo seria R$ 2 mil brutos. Mas estão pagando até R$ 1,2 mil”. O resultado, admite ele, é a dificuldade de muitos em honrar o financiamento da compra do caminhão.
Trem para concorrer
A concorrência com a ferrovia também começa a ter impacto no setor. No porto de Paranaguá, cerca de 30% das cargas já chegam ao terminal por trens. O transporte ferroviário, diz Dalazen, da Cotrijal, está oferecendo menores tarifas que o caminhão.
kicker: “Como tem muito caminhão na estrada, se eu não levo por este preço, há outros sete ou oito caminhoneiros para levar”
Fonte: Gazeta Mercantil