Joinville, 27.1.06 – No último dia da nova série de matérias sobre a infra-estrutura no Estado, o DC destaca os investimentos que foram realizados na região Norte no perÃodo de um ano. O empresariado local ainda reclama das condições precárias da BR-280, mas celebra a implantação de um porto privado em Itapoá, a modernização do Porto de São Francisco do Sul e a pavimentação da Rodovia do Arroz.
Região mais industrializada do Estado, o Norte catarinense recebe obras de recuperação na BR-280, rodovia essencial para o escoamento da produção, com acesso direto ao terminal portuário de São Francisco do Sul. Segundo o empresariado, no entanto, tais obras estão longe de atender as necessidades de expansão da economia local. Em um ano, as mudanças mais significativas na infra-estrutura são a implantação de porto privado em Itapoá e da Rodovia do Arroz.
Conforme o empresário Eduardo Horn, que presidia um ano atrás o Conselho de Desenvolvimento do Eixo Joinville e Jaraguá do Sul, entidade hoje extinta, toda a proposta da operação tapa-buracos do governo federal é um engodo. Ele explica que, se o total de recursos disponibilizados for setorizado pelas rodovias federais localizadas em território catarinense, é possÃvel verificar que o montante destinado ao Estado este ano não é muito diferente do que tem sido destacado para Santa Catarina em anos anteriores.
?Em nÃvel federal, os investimentos são praticamente inexistentes. Estas obras de recuperação não acrescentam nada para a região. A BR-280 está desgastada e só tapar buracos não é solução para o principal gargalo do Norte do Estado. Precisamos duplicar a rodovia?, diz.
O extinto conselho e a comunidade empresarial local, há um ano, quando o DC produziu os cadernos sobre infra-estrutura, estavam engajados na confecção de projetos para duplicação da BR-280 e para a retirada dos trilhos dos trens de dentro de municÃpios como Jaraguá do Sul e Joinville, com a implantação de anéis ferroviários.
De acordo com Horn, as duas propostas não têm como sair do papel, embora os projetos de engenharia devam ficar prontos no segundo semestre deste ano.
?Com toda a carga tributária que pagamos, o governo se preocupa mais em pagar o próprio custeio, os juros da dÃvida e a Previdência. Nada retorna como deveria em investimentos de infra-estrutura, tão necessários para garantir o crescimento econômico do Estado e do paÃs?, reclama.
Obras estaduais e privadas contentam empresários – Para o presidente da Associação Comercial e Industrial de Joinville, Sérgio Rodrigues Alves, os atuais investimentos do governo federal na BR-280 não passam de remendos que deveriam ter sido feitos há muitos anos. Alves lamenta que a representatividade de Santa Catarina no Produto Interno Bruto (PIB) do paÃs não garanta retorno em modernização da infra-estrutura do Estado.
?Os investimentos do governo do Estado, no entanto, estão andando, com as obras da Rodovia do Arroz e do acesso ao Porto de Itapoá. A gente só tem a lamentar que os investidores do porto privado tenham esperado 10 anos para receber a liberação do governo federal, enquanto, durante todo este perÃodo, a economia do Norte sentiu falta de um novo terminal?, salienta.
Conforme Alves, com a instalação do Porto de Itapoá, que prevê investimentos de US$ 100 milhões e operação de 500 mil contêineres por ano, a modernização do Porto de São Francisco do Sul e projetos que já aventam a implantação do Porto de Laranjeiras, próximo a Araquari, a região Norte poderá se tornar um centro de distribuição logÃstica. Com as obras iniciadas pelo Grupo Battistella, o Terminal de Contêineres de Santa Catarina (Tecon SC), em Itapoá, deve iniciar as operações a partir do primeiro trimestre do ano que vem, transportando exclusivamente cargas conteneirizadas.
?A vantagem do Porto de Itapoá será a entrada de navios direto do alto-mar, sem a preocupação de manobras em canais, como ocorre nos outros portos catarinenses?, destaca Alves.
Exército recupera berço São Francisco do Sul
O Porto de São Francisco do Sul conseguiu bater o recorde de movimentação de cargas apesar de estar operando sem o berço 103, em obras realizadas pelo Exército desde 2005.
O terminal conseguiu recursos da ordem de R$ 56 milhões dos governos federal e estadual para recuperação estrutural e deve receber mais R$ 150 milhões em investimentos privados.
De acordo com o diretor de LogÃstica, Gilberto de Freitas, a recuperação do berço 103 tem conclusão prevista para agosto deste ano. Além disso, com a verba de R$ 56 milhões, o terminal vai recuperar o berço 102 até setembro deste ano, derrocar a Laje da Cruz, recuperar o sistema elétrico, construir um centro operacional e fazer um viaduto de interseção da BR-280 com a avenida de acesso.
Com investimentos de R$ 150 milhões da iniciativa privada, está prevista a implantação dos berços 401, 401A e 402. O porto ainda pleiteia, no Orçamento da União de 2006, mais R$ 116 milhões para derrocamento e dragagem do canal de acesso, construção do berço 201 e implantação de acesso rodoferroviário.
Problemas e soluções
A BR-280 está recebendo recapeamento asfáltico em diversos pontos do Norte e Planalto Norte catarinenses. As obras fazem parte do programa de Revitalização Integrada do governo federal, mas são consideradas insuficientes. Os empresários da região, principalmente os moveleiros do Planalto Norte, desejam a duplicação da rodovia para garantir o escoamento da produção rumo aos portos. Um dos trechos que estão com a recuperação quase concluÃda fica no acesso a Canoinhas e Três Barras.
A SC-415, que liga Garuva a Itapoá, está sendo recuperada pelo Estado para dar condições de acesso ao porto de Itapoá. Estão sendo alargados 17 quilômetros com nova pavimentação. Mas a obra contempla outros 27,7 quilômetros partindo da divisa do Paraná até Itapoá e na direção do novo porto, numa obra de R$ 39 milhões.
Embora não satisfaçam nem a comunidade local, nem o empresariado catarinense, as obras de recuperação da BR-280 no Planalto Norte estão avançadas. De acordo com o DNIT/SC, a rodovia terá disponibilização de R$ 13 milhões este ano, mais R$ 8 milhões dentro do programa Creminha do governo federal, para toda a sua extensão desde Porto União no Planalto Norte, até o Porto de São Francisco do Sul.
As obras estaduais de pavimentação da Rodovia do Arroz, que liga Joinville a Guaramirim e Jaraguá do Sul, estão bastante adiantadas no trecho do bairro Vila Nova, em Joinville. Conforme o diretor da indústria de beneficiamento Arroz Vila Nova, Arcelino Antônio Poffo, a pavimentação ampliará as exportações, já que a poeira e a lama no transporte do produto antes impediam a qualificação no mercado externo.
O acesso entre a BR-101 Norte e o Porto de São Francisco do Sul é feito pela BR-280, passando por Araquari. Máquinas na pista mostram o processo de recuperação do trecho mais abalado da rodovia, que recebe o trânsito pesado de caminhões em direção ao terminal portuário. Até o ano passado, a BR-280 recebeu apenas R$ 2,8 milhões para manutenção e R$ 3,6 milhões para execução do projeto de duplicação do porto a Jaraguá do Sul.
A construção de viaduto na interseção da BR-280 com a avenida de acesso ao porto está com o projeto básico já concluÃdo em fase de apreciação pelo DNIT. A obra deve ser executada em 240 dias e pretende eliminar o conflito existente entre a extremidade inicial da BR-280 e a ferrovia que serve ao porto, responsável por constantes engarrafamentos e pelo bloqueio da circulação da comunidade ao Centro do municÃpio. A licença ambiental prévia já foi solicitada e algumas melhorias nas calçadas e trilhos próximos ao porto já estão sendo realizadas.
As desapropriações estão atrasando as obras da Rodovia do Arroz no trecho entre Joinville e Guaramirim. De acordo com o presidente do Deinfra, Romualdo França Júnior, a previsão inicial da conclusão da obra é setembro de 2006. -A pior parte é da divisa entre Joinville e Guaramirim ao Centro urbano de Guaramirim, por causa dos moradores – explica. Quando estiver pronta, a estrada vai reduzir o tráfego da BR-280 já que diminui em 12 quilômetros o acesso à BR-101.
A comunidade do Planalto Norte reclama do abandono da ferrovia que corta a região. Muitos ramais foram desativados pela concessionária América Latina LogÃstica e os trilhos estão em péssimo estado de conservação. Ainda assim, composições atravessam a região levando toras de madeira de um ponto a outro do Estado. O perigo reside nas travessias urbanas, como em Mafra, onde os trens cortam estradas por onde circulam pedestres, ciclistas e carros. Projeto para retirada dos trilhos de dentro dos municÃpios ainda não saiu do papel.
Fonte: Diário Catarinense