São Paulo, 2.10.07 – Estradas esburacadas, mal sinalizadas e congestionadas fazem parte do cotidiano de qualquer motorista brasileiro. Essas condições precárias de conservação elevam os preços do transporte e contribuem para mais acidentes. Entre janeiro e agosto, mais de 82 mil acidentes foram registrados nas rodovias federais, com 4.602 mortes e 52.063 feridos. Os custos chegam a R$ 20 bilhões por ano.
Segundo a Confederação Nacional do Transporte (CNT), 75% da malha federal e dos principais trechos estaduais e concedidos à iniciativa privada têm deficiências. As mais comuns envolvem deficiências de sinalização, acostamento e pavimentação.
A falta de dinheiro público para construir e manter rodovias está na raiz desses problemas. Uma solução seria a cobrança de pedágios para conservação de estradas a partir de concessões e parcerias público-privadas, também usadas para diminuir congestionamentos e acidentes e até a poluição em áreas urbanas em muitos paÃses.
“Esses modelos são justos porque só paga quem usa a estrada e quem polui o meio ambiente, e os lucros privados podem ser rapidamente investidos em infra-estrutura nas vias com maior movimento”, diz Antonio Diez Rivera, diretor-executivo da Associação Espanhola de Concessionárias de Rodovias – Aseta.
Dos 13 mil quilômetros de estradas espanholas de grande capacidade, 3,2 mil estão concedidos ao setor privado. Os pedágios variam de R$ 0,21 por quilômetro rodado para carros a R$ 0,31 para caminhões.
No Brasil, 62% das cargas circulam sobre rodovias e o restante em ferrovias, navios e outros meios. São comuns caminhões com excesso de carga e dificuldades para trafegar, realizar curvas e frear. Segundo João Widmer, membro do Fórum Internacional sobre Tecnologia de Transporte Rodoviário, as “trilhas de rodas” nas estradas são causadas por má qualidade do asfalto ou por problemas de drenagem de pistas, mas principalmente por peso excessivo. “A sobrecarga de caminhões é o calcanhar de Aquiles das rodovias nacionais”, diz.
Na Alemanha, desde janeiro de 2005 caminhões pesando a partir de 12 toneladas pagam pedágio por distância percorrida nos doze mil quilômetros das famosas Autobahns e demais trechos de grande tráfego. Quanto mais pesados, mais eixos tiverem e mais poluentes forem, maiores os preços. Os valores variam de R$ 0,25 e R$ 0,40 por quilômetro percorrido. Por enquanto, outros veÃculos estão isentos.
O sistema usa satélite (GPS) para calcular a distância percorrida pelos caminhões e computadores de bordo enviam os dados para uma central por GSM, modelo comum para comunicação celular. As contas chegam todo mês à s transportadoras. Não há engarrafamentos ou postos de pedágio. “A maioria do comércio flui na Alemanha por caminhões, mas são eles que mais destroem as estradas. Por isso foi adotado um sistema justo de taxas e que não usa nenhuma estrutura nas rodovias”, diz Alain Stiot, diretor de qualidade da concessionária Toll Collect.
A cobrança foi provocada pela preocupação do governo alemão com o alto fluxo de cargas que degradava estradas e aumentava a poluição. Por volta de 1,5 milhão de caminhões circulam nas rodovias do paÃs. A alternativa livra impostos públicos da construção e manutenção de estradas. A Alemanha foi um dos primeiros paÃses a cobrar pedágio. Isso aconteceu após a 2ª Guerra Mundial, para recuperar estradas destruÃdas por bombardeios.
Em 2006, a Toll Collect arrecadou cerca de R$ 8,2 bilhões, bem mais que os R$ 5,5 bilhões coletados por todas as concessionárias brasileiras no perÃodo. O rastreamento por satélite também ajuda a localizar veÃculos roubados. Estima-se que cinco mil empregos foram criados na Alemanha com o pedágio automatizado. No Brasil, há 11,4 mil empregados diretos nas concessionárias de rodovias.
Nos Estados Unidos, a agência Miami-Dade Expressway Authority – MDE usa pedágios eletrônicos nas cinco rodovias mais movimentadas do sul da Flórida, onde está implementando um corredor com mais de 100 quilômetros totalmente livre de postos de pedágio. Modelos semelhantes são usados em rodovias no Texas e em paÃses como Canadá e Austrália.
O chamado Sistema de Transporte Inteligente (ITS, sigla em inglês) usa uma tecnologia de comunicação sem fios, já aplicada em painéis de mensagens variáveis, monitoramento das condições de trânsito e acionamento de equipes de emergência em acidentes.
Os veÃculos cadastrados são identificados por dispositivos eletrônicos ou pelas placas. Cerca de 80% dos usuários já são identificados eletronicamente. A cobrança cai diretamente na conta bancária, correspondente ao trecho percorrido. Motoristas podem usar estradas alternativas, de qualidade inferior. Em 2006 a concessionária coletou US$ 75 milhões. “Os recursos são investidos em melhorias das estradas e ampliação da cobrança eletrônica, que será expandida até 2012”, diz Teresita Garcia, vice-presidente da MDE.
Pedágios não são cobrados apenas em rodovias, capitais estrangeiras como Estocolmo (Suécia), Santiago (Chile) e Londres (Inglaterra) já usam taxas urbanas. O modelo pode ser automático, bastando o veÃculo entrar em determinada área para que seja identificado para cobrança. “A capital inglesa reduziu o trânsito central em 30% e a poluição em 15%”, revela Eduardo Coutinho, diretor para a América Latina da norueguesa Q-Free. A empresa atua em mais de 20 paÃses com sistemas eletrônicos de comunicação e cobrança.
Segundo o executivo, não houve queixas das populações e nem prejuÃzos ao comércio nas cidades que adotaram o pedágio urbano. Capitais brasileiras podem seguir o mesmo caminho. “Creio que São Paulo, Rio de Janeiro e outras grandes cidades adotarão taxas. Mas isso depende de posições polÃticas, da qualidade do transporte coletivo e da aplicação dos recursos do pedágio em melhorias no trânsito”, diz Coutinho. Fonte: Valor Econômico
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