O calvário da BR-101

Florianópolis, 23.1.07 – Os catarinenses estão escaldados por um sem-número de promessas descumpridas pelo governo federal quando o assunto é rodovia. Para começar, a BR-282, que deveria promover a integração de qualidade do território barriga-verde no sentido Leste-Oeste, está aí, em construção, há mais de século. O trecho Norte da BR-101, de 216,5 quilômetros, só foi duplicado após um intenso movimento que envolveu toda a sociedade catarinense e que resultou num abaixo-assinado com mais de 1 milhão de assinaturas entregue, em duas etapas, à Presidência da República, a primeira na gestão Itamar Franco, em setembro de 1994, e a segunda no exercício de Fernando Henrique, em junho de 1995. Estamos assim, então: a 101 começou a ser construída no Estado em 1958, só foi entregue ao tráfego em 1971 – para atender a uma demanda de 4,6 mil veículos/dia -, teve o trecho Norte duplicado no ano 2000, só em janeiro de 2005 iniciaram as obras de duplicação do trecho Sul, e agora há lotes da duplicação cujas obras estão atrasadas, estando o lote 29, entre Sombrio e Araranguá, abandonado desde março do ano passado.

É de se convir que a demora na conclusão da duplicação está a exigir uma paciência beneditina dos catarinenses. Pela BR-101 circulam atualmente, fora da alta temporada, cerca de 30 mil veículos por dia. No período de Verão, o movimento aumenta cerca de 30%, este ano quase 50%, em razão da prolongada crise no setor aéreo e do aumento previsível do turismo. Atrasos, portanto, significam maior risco de acidentes e mortes. No caso do lote 29, a empreiteira que abandonou o trabalho, e que por isso foi substituída, destruiu acessos municipais, danificou sistemas pluviais e, ao retirar as árvores que ladeavam a estrada, permitiu que a poeira tomasse conta do leito, dificultando a visibilidade dos motoristas. O perigo foi exponenciado.

Prometem autoridades e a nova empreiteira que em fevereiro os trabalhos ali serão reiniciados e que em 36 meses serão concluídos. Oxalá não seja mais uma promessa vã a somar-se às muitas que já ouvimos. Convivemos com a média de uma morte a cada três dias nesta estrada. Agora, com a multiplicação das armadilhas oriundas dos trabalhos de duplicação, entre as quais incluem-se desvios e retirada de placas de sinalização, os riscos aumentaram. Que o governo federal, para fazer valer o que escreveu no papel ao elaborar o Plano de Aceleração do Crescimento, ontem divulgado, e para preservar a vida humana, invista o necessário a fim de que esta obra tão aguardada seja concluída de uma vez por todas, e o quanto antes.

Diário Catarinense

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