Porto Alegre, 16.7.07 – Em determinado ponto da rodovia estadual RS-407 há uma placa solitária na beira da estrada com uma frase educativa, que repete o que todo o mundo sabe, mas os transportadores se fazem de desentendidos: ?O excesso de peso destrói a rodovia?. Curiosamente, este é o segmento que mais reclama das condições das rodovias e é também o grande responsável por tanta destruição.
A forma paradoxal como esse setor atua demonstra uma certa ambivalência, que faz lembrar o estranho caso de ?Mister Jekil e Mister Hyde?, o bondoso médico que se convertia num monstro predador.
O setor do transporte rodoviário de carga (TRC) sempre procurou demonstrar sua importância logÃstica e poderio econômico através de campanhas promocionais na mÃdia, do tipo: ?tudo o que o Brasil produz, o TRC transporta?. Só que o efeito dessas campanhas nunca conseguiram encobrir, da própria mÃdia, a forma incorreta e perversa como faziam o transporte, pois quase tudo que transportavam afrontava, de um modo geral, a lei da balança. Este é um fato incontestável, que o transformou num predador do sistema rodoviário nacional. O resto é proselitismo.
Ninguém pode negar, que o excesso de peso significa, além afetar o pavimento e diminuir a vida da rodovia em mais da metade, também causa grande parcela de acidentes rodoviários com vÃtimas. Os estudos de acidentalidade com base em registros policiais demonstram que nos acidentes quase sempre há um caminhão envolvido.
O excesso praticado de forma generalizada também tem se convertido num processo auto e hétero destrutivo dentro de próprio TRC, eis que todo aquele que transporta com excesso de peso está fazendo concorrência predatória a seus pares. Portanto, o excesso de peso muito além da ilegalidade que representa, é também uma deslealdade que diminui a oferta de fretes e provoca desemprego no setor.
A lei da balança sempre foi bem clara, o transportador é que nunca a cumpriu. Será que é porque sempre tiveram as costas quentes, com seus lobistas plantados muito próximos do governo, circulando e agindo com muita desenvoltura nos vários órgãos? Dessas ações resultava que, de repente, fiscalizações eram relaxadas, multas arquivadas sem pagamento, modificações nos regulamentos introduziam acréscimos de peso nos limites de peso originais.
Paralelamente, por coincidência ou não, o Plano Diretor de Balanças naufragava e as poucas balanças instaladas, ou quebravam ou eram sabotadas.
De nada adiantará o governo ter lançado o Programa de Aceleração do Crescimento, prometendo investir em rodovias, se ele não assumir o compromisso com os transportadores honestos, de adotar um novo modelo mais ágil e confiável de controle dos excessos de peso praticado por aqueles que há muito tempo vem destruindo rodovias e provocando um rombo permanente no erário público.
* Professor, M.Sc., especialista em Transportes.
Por *Mauri Adriano Panitz
Fonte: Intelog
Compartilhe este post