Transportadores reclamam de falta de investimento em infra-estrutura

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Transportadores reclamam de falta de investimento em infra-estrutura

Brasília, 16.3.06 – Os transportadores de cargas, principalmente as empresas que movimentam volumes pesados, estão preocupados com as condições das rodovias brasileiras. O presidente da Associação Brasileira dos Transportadores de Cargas (ABTC), Newton Gibson, lamenta que as condições da infra-estrutura brasileira não evoluíram com o passar do tempo.
?A economia progrediu, mas o governo não se preocupou em fazer com que as condições de transporte também se desenvolvessem?, diz Gibson. Ele lamenta que as rodovias, ferrovias e hidrovias nacionais encontram-se em uma situação precária. Gibson calcula que seria necessário um investimento de cerca de R$ 20 bilhões apenas para recuperar a malha rodoviária brasileira. ?A Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) já arrecadou um volume de recursos como esse. O problema é de que ao invés dele ser destinado à infra-estrutura, como estava previsto inicialmente, o investimento está sendo desviado para outras finalidades?, lamenta Gibson.

Ele argumenta que antigas estradas nacionais, de mais de 30 anos, apresentam dificuldades para suportar transportes de cargas superiores a 70 toneladas. Além disso, Gibson critica a demora na dragagem de vários portos brasileiros. O vice-presidente executivo do Sindicato Nacional das Empresas de Transporte e Movimentação de Cargas Pesadas e Excepcionais (Sindipesa), João Batista Pinheiro Dominici, concorda que se não houver investimentos na infra-estrutura a economia brasileira sofrerá prejuízos e o País correrá o risco de sofrer um ?apagão logístico?.

Dominici informa que hoje existem veículos capazes de transportar até 600 toneladas por rodovias. ?Equipamentos com esse peso são utilizados por hidrelétricas e siderúrgicas, por exemplo?, destaca Dominici. Para realizar um transporte como esse são utilizados um ou mais cavalos mecânicos de maior potência e tração e vários eixos. Veículos para grandes cargas podem chegar a utilizar cerca de 300 pneus.

Para o transporte de cargas excepcionais são necessárias autorizações e normalmente um acompanhamento do órgão governamental responsável com escolta policial. ?Em operações desse porte, 70% do custo do frete se deve a tarifas públicas?, diz Dominici.

Conforme o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagens (Daer), todas as cargas com peso acima de 57 toneladas devem ter uma autorização especial para trafegar fornecida pelo órgão de trânsito que tem jurisdição sobre a via, seja federal, estadual ou municipal. O peso máximo que um veículo pode transportar é definido pela capacidade de carga por eixo que o veículo dispõe, estabelecido pela lei da balança para um veículo padrão ou pelo fabricante do veículo quando for inferior ao estabelecido em lei. Cada combinação de veículo e números de eixos tem uma capacidade de carga permitida diferente.

Para cargas excepcionais ou fora de dimensões, do tipo transformador, peças mecânicas e outras, o peso deve ser distribuído pela capacidade de cada eixo, ou seja, a composição que vai transportar a carga deverá ter o numero de eixos necessários de forma a distribuir o peso da carga, conforme exigido pela lei da balança.

Uma empresa que necessite transportar uma peça de grandes proporções, deve procurar um escritório de engenharia que fará o estudo do trajeto de sua carga, deslocando-se pelo itinerário com menores obstáculos do tipo pontes, viadutos ou passarelas. Após é solicitado junto aos órgãos de trânsito com jurisdição sobre a rodovia (trecho federal o Dnit e trecho estadual, o Daer) uma Autorização Especial de Trânsito (AET) onde deverá fornecer o trajeto da carga e um laudo técnico assinado por um engenheiro mecânico. O órgão de trânsito fornecerá uma AET que durante o trajeto da carga será fiscalizada pela Polícia Rodoviária Federal ou Estadual, podendo ser exigido velocidade de no máximo 20 km/h e serviço de escolta, proporcionando maior segurança no trânsito dessa composição.

Excesso de peso impacta lucro das companhias

Se o transporte de grandes cargas pode ser considerado um bom negócio para as transportadoras, isso não quer dizer que as empresas devam abusar quanto ao peso da carga a ser movimentada. O assessor técnico da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística), Neuto Gonçalves dos Reis, argumenta que o caminhão que trafega com peso excessivo perde seu lucro devido aos custos elevados que essa atitude implica.

?O veículo leva muito mais tempo para cumprir a viagem diminuindo o número de movimentações que ele poderia realizar em um período de um mês?, destaca Gonçalves dos Reis. Ele acrescenta que se soma a esse fato o aumento de custos com manutenção e combustível, além do aproveitamento ineficiente do motorista.

A segurança também é prejudicada com o desgaste que os freios do veículo sofrem com a sobrecarga. O excesso de peso serve de justificativa para uma seguradora não pagar os prejuízos de uma transportadora em caso de um possível acidente. O assessor da NTC&Lo-gística explica que o segredo para um transporte bem feito é distribuir a carga de modo equilibrado pelos eixos do veículo. Ele relata que alguns caminhoneiros passam o limite de peso permitido porque sabem que as balanças têm uma tolerância de 5% quanto à carga máxima legalizada. ?Mas essa margem é concedida para diminuir o risco de um erro da balança. O transportador que pensa em abusar da sorte pede para ser multado?, diz Gonçalves dos Reis.
Outro fator nocivo provocado por cargas excedente é o desgaste do pavimento que pode ter sua vida útil encurtada em vários anos. ?Isso depois é repassado em impostos ou através de pedágios?, lamenta Gonçalves dos Reis. Ele diz que a legislação brasileira é muito tolerante e benéfica ao transportador já que cargas de até 57 toneladas podem ser deslocadas sem necessidade de autorizações especiais. Na Suíça, por exemplo, o limite para o transporte de cargas convencionais é de 29 toneladas, informa o assessor da NTC&Logística.

O peso da carga acima da capacidade de suportabilidade do caminhão provoca danos em todos os elementos integrantes do modal rodoviário. A estrada é projetada e o seu pavimento construído para suportar uma carga tomando por base o eixo de um veículo padrão, quando há veículos transitando com excesso de carga no seu eixo provoca um desgaste prematuro da rodovia, reduzindo sua vida útil. Estudos já efetuados por diversos profissionais e estudiosos no Brasil estimam que se 10% dos veículos que passariam na rodovia, durante sua vida útil, passassem com excesso de peso, haveria uma redução na vida útil de até 30%. Por exemplo, uma rodovia construída para durar dez anos, se 10% dos veículos de carga passarem com excesso de peso, terá a sua vida útil reduzida para sete anos ou a intervenção que seria necessária no décimo ano, do tipo recapeamento total do pavimento, deverá ocorrer no sétimo ano antecipando uma despesa para os cofres do Estado de onde sai o recurso para conservação das rodovias.

Jornal do Commercio

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