TRC: nobre, gigante e sem rumo

Brasília, 23.2.06 – Arrepia governantes o menor movimento para regulamentar a atividade de carga rodoviária. No último dia de janeiro a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) fez um balanço sobre o tamanho do setor de transporte rodoviário de cargas inscrito no RNTRC, o registro nacional que cadastrou o setor. Só de empresas, em todos os estados, há 115 mil inscritas. Considerando-se que o País tem 5,5 mil municípios, se a distribuição fosse eqüitativa daria 20 empresas por cidade. Poucos setores exibem tal magnitude. A ANTT se mostrou surpresa com o tamanho – imaginava em torno de 40 mil. Entre a imaginação e a realidade a diferença foi de 80 mil empresas.
Além de errar grotescamente os cálculos, o governo está desnorteado sobre o próximo passo a dar em relação aos registros. Enfim, o que se poderia fazer com essa montanha de dados? Limites de toda ordem impedem qualquer passo adiante por parte do poder público.
Primeiramente, como fiscalizar uma atividade tão gigantesca e pulverizada como o transporte de cargas? Exigiria um aparato de tal ordem que o governo não teria condição de assumir. E, se assumisse, certamente pouco faria e cairia em mais descrédito.

O transporte rodoviário de passageiros tem regulamentos, ao contrário do rodoviário de cargas, que é regulado pelo mercado, eficaz de um lado, mas bastante tolerante e permissivo de outro.

Arrepia governantes o menor movimento de articulação de transportadores em favor da regulamentação da atividade de carga rodoviária. Sempre se temeu engessar a atividade pelo poder que representa.
Nem na época em que o Brasil foi governado pela linha dura do regime militar – e em ambiente de economia fechada – o setor rodoviário conseguiu seu regulamento.

No vizinho Chile, no início dos anos 70, um dos agentes econômicos que contribuíram para a queda do presidente Salvador Allende teria sido o mobilizado setor rodoviário de cargas.
Além de 115 mil empresas, donas de 621 mil caminhões, a atividade, no levantamento do RNTRC, tem cadastrado 637 mil caminhoneiros autônomos, donos de 819 mil caminhões. O número de cooperativas, comparativamente às empresas e caminhoneiros, é bastante tímido. São 545 cooperativas, donas de 7.732 caminhões.
Há um grande número de transportadores – o que a um só tempo acirra a competitividade, engessa o valor do frete e dificulta a renovação da frota. Os dados do RNTRC revelam que a idade média da frota de quase 1,5 milhão de caminhões em poder de caminhoneiros, empresas e cooperativas, é de 17,2 anos.
Os caminhoneiros autônomos estão com a frota mais envelhecida 20 anos, o dobro da idade média das empresas. Entre transportadoras e caminhoneiros, o meio-termo, em idade média, é a frota de caminhões das cooperativas, com 12,7 anos.
Autônomos e pequenos empresários que se organizaram em cooperativas bem administradas encontraram uma saída para acelerar a renovação de seus caminhões e, em conseqüência, para sobreviver na nobre atividade de transportar as riquezas que o Brasil produz e comercializa.

Gazeta Mercantil

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