Tubarão, 2.10.08 – A conversa entre funcionários e fregueses de uma pequena lanchonete localizada à beira da BR-101, no trecho urbano de Tubarão, em Santa Catarina, deixa clara a preocupação dos moradores com os riscos de acidentes na rodovia. O atendente do estabelecimento, por exemplo, não tem dúvidas de que as placas de sinalização e os desvios em função das obras de duplicação da rodovia mais atrapalham que ajudam os motoristas. “Eles confundem bastante. Muitas vezes a pessoa só vê a placa quando está em cima dela praticamente e pode não dar tempo de desviar”, diz. A funcionária responsável pelo caixa completa: “Já vimos vários acidentes na região justamente por causa disso”. Não foi difÃcil constatar a situação de risco exposta pelos funcionários da lanchonete. O atendente e sua colega não sabiam, mas alguns minutos antes e bem perto dali, um acidente entre dois caminhões, em um dos trevos de acesso à cidade de Tubarão, no horário de pico – 18h -, acontecia exatamente num local cuja sinalização, confusa, era um convite a colisões. “A sinalização feita por causa da obra, seja aqui em Tubarão, seja em outros trechos da BR-101, atrapalha bastante”, afirma o motorista de caminhão Fábio Grando, funcionário de uma transportadora que percorre a BR-101 semanalmente. “Outro problema é a falta de acostamento em locais onda as obras começaram. É muito perigoso”, reforça André Antunes, motorista de caminhão, chamado pelos colegas de ?Terceirinha?. A situação da rodovia em Tubarão – sinalização malfeita, além da existência de trechos em péssimo estado ou cujas obras nem começaram – se repete ao longo de boa parte dos 348 quilômetros da rodovia BR-101, entre Osório (Rio Grande do Sul) e Palhoça (Santa Catarina), conforme constatou a reportagem da Gazeta Mercantil. E alguns contratempos podem prolongar ainda mais a sensação de caos, especialmente em certos trechos, como o de Maquiné, no Rio Grande do Sul. Isso porque anteontem o Tribunal de Contas da União (TCU) solicitou a interrupção da obra de duplicação da BR-101 em Maquiné. Segundo o órgão, houve acréscimo indevido de 20% no valor total de R$ 350 milhões reservados à construção de um túnel na região. A justificativa do Departamento Nacional de Infra-Estrutura (DNIT) é de que o aumento se deu porque o projeto original foi alterado, em função das dificuldades de escavação no local. O Tribunal também requisitou a suspensão do repasse dos recursos federais. O relatório do TCU aponta irregularidades em 48 obras no PaÃs. IncluÃda no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal, a duplicação e ampliação de capacidade da BR-101 é considerada pelo DNIT como uma das maiores obras de base em andamento no PaÃs, com um custo total de R$ 1,2 bilhão – dos quais R$ 410 milhões nos sete municÃpios do lado gaúcho e R$ 810 milhões em 17 cidades de Santa Catarina. Até a divulgação do relatório do TCU, o discurso do DNIT era de que o cronograma da obra seguia “em ritmo adequado”. Conforme informou recentemente a assessoria de imprensa da instituição, a conclusão se daria em 30 meses, ou seja, no inÃcio de 2011, embora diversas placas ao longo da rodovia apontem dezembro de 2008 como prazo para conclusão dos trabalhos O trecho entre Osório e Palhoça integra o corredor do Mercosul, que pretende incrementar o turismo entre os estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul e melhorar o acesso entre o Brasil, Uruguai e Argentina. “O corredor trará novos padrões para o transporte de cargas em todo o Brasil, por considerar o acesso aos principais portos das regiões Sul e Sudeste”, diz o DNIT. Em Santa Catarina, o último balanço do PAC informa que já estão liberados 30 quilômetros de pista nova da BR-101, concluÃdas 13 pontes, 12 passagens inferiores e 18 viadutos. Também já foram pavimentados 60 quilômetros de pista e executados 134 quilômetros de terraplenagem. No trecho gaúcho, além de 25 quilômetros de terraplenagem, estão concluÃdos o elevado da Várzea do Maquiné (composto por três pontes e três viadutos), 15 viadutos, três passagens inferiores, três passarelas e seis pontes. Em média, cerca de 39 mil veÃculos circulam pela rodovia, dos quais 11 mil são de carga.
Corredor do Mercosul
Junto com as rodovias BR-116 (São Paulo-Porto Alegre) , BR-381 (São Paulo-Belo Horizonte), o trecho sul da BR-101 integra o chamado Corredor do Mercosul. Quando a duplicação dos 348 quilômetros entre Osório e Palhoça estiver concluÃda, o complexo rodoviário proporcionará a conexão das principais cidades das regiões Sul e Sudeste. Essa infra-estrutura facilitará o transporte da riqueza entre os estados meridionais do PaÃs para a região Sudeste e vice-versa. A rodovia também faz a conexão quase que direta de todas as regiões do paÃs com várias estradas regionais, e dá acesso aos portos de São Francisco do Sul, ItajaÃ, Imbituba e Laguna, todos em Santa Catarina, pelos quais grande parte da produção regional de bens é exportada. Hoje, a BR-101 é a principal via de escoamento das produções industrial e agropecuária dos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina para o restante do PaÃs. Pela estrada, passam todos os tipos de produtos, entre itens de siderurgia e metalurgia, veÃculos do Rio Grande do Sul para o Sudeste e demais regiões do PaÃs (e vice-versa), produtos agrÃcolas, produção cerâmica, alimentos, combustÃveis, produção têxtil, além de parte de grãos do Paraná para o Porto de São Francisco, no norte catarinense. Na temporada de veraneio, a estrada também tem importância fundamental para o turismo de Santa Catarina. Pela rodovia, milhares de turistas de outros estados – principalmente gaúchos, paranaenses e paulistas – invadem o litoral catarinense, conhecido pela beleza de suas centenas de praias.
Fonte: Gazeta Mercantil