Florianópolis, 11.2.08 – Mesmo sem usar terno e gravata ou carregar maleta na mão, cada cliente que entra numa cooperativa de crédito é também dono de banco. A mesma pessoa que pega fila para pagar a conta de luz divide o lucro da instituição com os demais cooperados ao final de cada ano. Nestas associações, que encontraram em Santa Catarina um fértil mercado, o pré-requisito para abrir uma conta corrente é comprar uma cota da cooperativa.
Em pequenas unidades, é possÃvel comprar uma cota com apenas R$ 20. Nas maiores, reunindo profissionais de áreas como advocacia e funcionalismo público, o valor chega a R$ 1 mil, mas pode ser parcelado em até 50 vezes sem juros. Os catarinenses parecem aprovar o modelo.
Hoje, do total de 256 associações filiadas à Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (Ocesc), 65 são instituições de crédito. Existem postos de atendimento em 80% dos municÃpios catarinenses. O setor, que representa um dos 13 ramos atendidos pela Ocesc, vem registrando média de crescimento na ordem de 25% ao ano.
Em faturamento, as associações de crédito estão atrás das agropecuárias e das cooperativas de saúde. A estimativa de faturamento total no setor cooperativista de Santa Catarina no ano passado é de R$ 8,7 bilhões, sendo que cerca de R$ 700 milhões são das associações de crédito. Mas o superintendente da Ocesc, Geci Pungan, lembra que neste caso o lucro não é a meta principal.
– A filosofia é cobrar o mÃnimo possÃvel de taxas – explica, lembrando que a economia reflete no bolso de cada associado.
Modelo de livre admissão é opção nas cidades menores
Pungan afirma que nas cooperativas a economia em taxas e juros cobrados em serviços como cartão de crédito, empréstimos e cheque especial varia entre 20% e 30% em relação aos bancos privados. Já o rendimento na poupança aberta é o mesmo nos dois segmentos.
Além das cooperativas que unem profissionais de um mesmo setor ou até de uma única empresa, em Santa Catarina começam a ganhar espaço as associações abertas para toda a população de um mesmo municÃpio. Pela regulamentação do Banco Central, a aprovação destes grupos se dá no caso de cidades pequenas que comprovem a viabilidade econômica do empreendimento.
São as chamada cooperativas de livre admissão. O Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob), o maior do Estado, conta com oito cooperativas nesta modalidade, principalmente na região Oeste. O gerente de operações de crédito do Sicoob SC, Luis Carlos Pizzolo da Silva, diz que a meta para 2008 é ampliar esta participação, num incentivo para a conquista de novos associados.
Tarifas menores são o principal atrativo
Cliente de uma cooperativa de crédito há mais de três anos, o auditor Flávio Pederneira, 60 anos, só usa o banco tradicional para receber o salário, que logo é transferido para a conta da associação. Ele diz que já testemunhou na prática as vantagens do sistema de cooperativas.
A economia é apontada como a principal delas.
– Nos bancos privados, você paga taxa para tudo. É apertar um botão que já estão te cobrando algo. Na cooperativa, além de pagar bem menos, no final do ano você ainda pode ter dividendos – afirma.
A corretora de seguro Juliana Caponi, 28, também resolveu aderir ao modelo. Ela trabalha numa empresa que faz parte de uma cooperativa. Ao efetuar os pagamentos da empresa, começou a perceber a qualidade do atendimento e a economia nas tarifas. Agora diz que vai ingressar na cooperativa estadual que atende exclusivamente os corretores de seguro.
A gerente geral da Credisc, uma das cooperativas do Sicoob, Simone Cardoso, diz que a novidade para 2008 será a oferta de previdência para servidores públicos estaduais e federais. Hoje, a unidade já oferece os serviços de movimentação de conta corrente tradicionais, mas com isenção do pagamento de talão de cheque, das taxas de emissão de extratos e da anuidade do cartão de crédito.
– A cooperativa só passa o custo para os clientes. Não tem uma margem visando o lucro em cima dos serviços – afirma Simone.
Incorporação dos pequenos para reduzir os custos
E para reduzir ainda mais os custos, o superintendente da Organização das Cooperativas do Estado (Ocesc), Geci Pungan, incentiva a incorporação de unidades menores pelos grandes grupos, a modelo do que ocorre no setor privado.
– É uma redução de custos com ganhos para os associados. Em Florianópolis, por exemplo, existem seis cooperativas. Mas só três já seria suficiente – compara, lembrando que o dinheiro da economia poderia ser usado para ampliar a atuação em outros municÃpios.
Redes de SC somam R$ 2,3 bi em caixaSão quatro os grandes grupos cooperativos que atuam no mercado de crédito catarinense. Juntos, eles somam hoje R$ 2,3 bilhões em ativos. Entre modelos consolidados e empresas que buscam seu espaço, todos concordam com o bom momento que o setor vive em Santa Catarina.
O Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob) é maior do Estado, presente em 175 dos 293 municÃpios de Santa Catarina. São 44 cooperativas, sendo 21 de crédito rural. O grupo atende quase 210 mil associados. No ano passado, o crescimento do valor dos depósitos foi de 32,86%, somando R$ 715,5 milhões.
É o dinheiro de clientes como o militar José Moraes Sotero, 33 anos, que aderiu a cooperativa há três anos. Ele destaca a economia e a pouca burocracia do setor. Sotero afirma, por exemplo, que na cooperativa conseguiu abrir uma conta para a mulher como dependente, o que não conseguiu no banco privado em que recebe o salário.
O Sistema de Cooperativismo de Crédito Unicred administra em Santa Catarina depósitos totais que somam R$ 407 milhões e ativos totais de R$ 517 milhões. A central catarinense ocupa o primeiro lugar no ranking da Unicred do Brasil.
O presidente da Unicred Central SC, Euclides Reis Quaresma, afirma que as metas para 2008 são a regionalização das cooperativas e a abertura para novas categorias. Em 2007, o grupo somou 18.230 cooperados, ganho de 18% em relação a 2006.
Ofertas para indústria, comércio e serviços
Há três anos no Estado, o Sistema de Crédito Cooperativo (Sicredi) também colhe bons resultados. O presidente da Central RS e SC, Orlando Borges Müller, diz que no mercado catarinense o foco são os setores industrial, comercial e de serviços. Hoje existem sedes em Florianópolis, Joinville e Criciúma. Em 2008 serão abertas unidades em Tubarão, Balneário Camboriú e Blumenau.
Completando o grupo, a Cooperativa Central de Crédito Urbano de Santa Catarina (Cecred) tem sede em Blumenau e oito cooperativas atendendo clientes de todo o Estado.
Fonte: Diário Catarinense