São Paulo, 28.8.08 – Para fugir das restrições para caminhões, muitos empresários do setor de transporte de cargas estão adotando uma artimanha que ficou conhecida no inÃcio do rodÃzio municipal de automóveis, em 1997. Naquela ocasião, muitas famÃlias compraram mais um carro para usar nos dias em que a circulação do primeiro era proibida. De uma forma adaptada, as empresas estão adotando agora o “segundo caminhão”. Dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) mostram que, no mês passado, foram emplacados 856 caminhões na cidade, número inferior aos 908 de junho, mas superior a todos os outros meses deste ano. Hoje, a frota de caminhões na cidade é de 163.523. O presidente da Associação Nacional de Transporte de Cargas e LogÃstica (NTC & LogÃstica), Flávio Benatti, diz que muitas empresas estão investindo no aumento da frota para substituir os veÃculos que terão de ficar fora de operação por causa do rodÃzio de caminhões. “As empresas têm contratos para cumprir e não podem reduzir o ritmo de entregas porque alguns veÃculos não podem rodar. O investimento em frota é simplesmente uma adequação à s regras”, diz Benatti. A associação ainda briga na Justiça para tentar acabar com o rodÃzio. Frota maior – A Braspress é um exemplo de empresa que aumentou sua frota para contornar o rodÃzio. Neste mês, foram comprados 40 novos caminhões para conseguir manter suas entregas, um investimento de aproximadamente R$ 4 milhões, e foram contratados 100 funcionários. “Infelizmente, todo esse aumento nos custos será repassado para o consumidor final”, diz o diretor-presidente da empresa, Urubatan Helou. Outra empresa que investiu no aumento da frota foi a Expresso Mirassol, que adquiriu 60 caminhões. Segundo o gerente comercial do grupo, Luiz Carlos de Faria Júnior, a aquisição não está relacionada exclusivamente com o rodÃzio de veÃculos de cargas. “Aumentamos a frota porque o mercado está aquecido e precisamos escoar os produtos”, diz. No entanto, Faria Júnior reconhece que grande parte dessa frota será usada para repor os caminhões parados. “Se eu tinha cinco veÃculos para fazer um serviço, agora vou ter sete ou oito, pois um deles não poderá rodar em determinado dia.” Incerteza eleitoral leva setor à inércia Especialistas em trânsito esperavam que, com a vigências das restrições a caminhões, tivesse inÃcio uma mudança na estrutura logÃstica de transporte em São Paulo, principalmente com o investimento em veÃculos menores e a construção de centrais de distribuição. Quase dois meses depois, nada foi feito e nem mesmo há planos. Parte dessa inércia é motivada pela incerteza a respeito do futuro das restrições. Os empresários relutam em investir nos VeÃculos Urbanos de Carga (VUCs), caminhões pequenos que atualmente obedecem a um sistema de rodÃzio de placas pares e Ãmpares para circular na Zona de Máxima Restrição de Circulação (ZMRC). De acordo com o Decreto 49.636/08 , a partir de 1º de novembro, os VUCs passarão a obedecer à s mesmas regras dos demais caminhões e só poderão circular na ZMRC das 21 à s 5 horas. Mas o próprio prefeito Gilberto Kassab (DEM) e o secretário municipal dos Transportes, Alexandre de Moraes, informaram que essa medida pode não entrar em vigor, criando mais incertezas. “Fazer um investimento pesado em VUC é muito arriscado, porque a gente não sabe o que vai acontecer”, diz o empresário Roberto Granero, presidente do grupo Granero. Suas empresas estão terceirizando alguns serviços de entrega, contratando caminhonetes e VUCs de companhias menores. As eleições municipais deste ano são outro foco de incerteza. “Não sabemos quem será o prefeito. Por isso não dá para prever se as restrições vão continuar, se serão abrandadas ou totalmente retiradas”, diz o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga de São Paulo (Setcesp), Francisco Pelúcio. Outro ponto que não evoluiu foi a construção de centrais de distribuição nas entradas da cidade. Segundo o professor da USP Jaime Waisman, as centrais são fundamentais para reorganizar a logÃstica de cargas, uma vez que caminhões maiores descarregariam ali e os produtos seriam entregues por veÃculos menores. “A responsabilidade pela construção é da iniciativa privada, mas o poder público tem de indicar onde eles devem ser construÃdos.” A Secretaria dos Transportes não respondeu se tem projeto de construção de centrais de abastecimento.
Fonte: O Estado de S. Paulo