Meia medida para os caminhões

São Paulo, 26.6.08 – A partir do dia 30, e durante 120 dias, será limitada a circulação de caminhões no centro expandido de São Paulo no período diurno. Pressionado pelas transportadoras, o prefeito Gilberto Kassab decidiu deixar de lado as medidas radicais anunciadas em abril, após semanas de recordes sucessivos de congestionamentos, e instalar, por etapas, o rodízio para os chamados Veículos Urbanos de Carga (VUCs) – caminhões de pequeno porte com até 6,30 m de comprimento. Defendida por muitos estudiosos em trânsito, a idéia de restringir a atividade de carga e descarga de caminhões apenas às madrugadas foi deixada de lado, mais uma vez atendendo ao argumento de que as empresas de transporte precisam de tempo para se adaptar aos novos horários de entregas.
Assim, entre 30 de junho e 31 de julho, os VUCs cujas placas tenham final ímpar circularão, durante o dia, na Zona de Máxima Restrição à Circulação (ZMRC) apenas nos dias ímpares. Nos dias pares, será a vez dos veículos com placas de final par.
Na segunda fase, que começa em agosto e termina em novembro, esse revezamento de placas será mantido, mas nenhum caminhão de pequeno porte poderá circular, nos horários de pico da manhã e da tarde, na zona de restrição – uma área de 100 quilômetros quadrados dentro do centro expandido. Só poderão fazer entregas entre 10 e 16 horas.
Pelos planos do prefeito Gilberto Kassab, logo depois do segundo turno das eleições, em novembro, todos os 14 mil VUCs que circulam diariamente pela cidade só poderão fazê-lo entre 21 e 5 horas.
As autoridades municipais também deixaram de implantar o rodízio, que vigora para os veículos leves, para os caminhões nas Marginais do Pinheiros e do Tietê e na Avenida dos Bandeirantes. Em abril, essa medida estava incluída no pacote anunciado para o ordenamento do trânsito de caminhões. Atualmente, veículos pesados estão sujeitos à restrição de circulação apenas no centro expandido. Nas marginais, que o limitam, eles podem trafegar livremente.
O plano foi calculado para evitar grandes prejuízos eleitorais ao candidato Gilberto Kassab. Confiante em que as medidas trarão uma melhora de fluidez do tráfego, de cerca de 15%, o prefeito pensa contrabalançar as críticas que irá sofrer durante a campanha, agradando aos motoristas de carros e aos passageiros de ônibus que terão menos congestionamentos todos os dias. Por outro lado, não terá atritos com o setor de transporte de carga, não terá mais manifestações de caminhoneiros pela cidade e, no fundo, deixará para o próximo governo a decisão final sobre a restrição total à atividade de carga e descarga no período diurno. Posterga-se, assim, mais uma vez, a solução para um dos principais problemas da cidade, que tanto transtorno traz para a população.
Há 210 mil caminhões circulando diariamente pela capital, formando lentos comboios pelos corredores, invadindo as faixas destinadas aos automóveis, transportando carga perigosa, muitas acondicionadas de forma insegura, e poluindo a atmosfera da cidade. A falta de manutenção desses veículos provoca, somente no centro expandido, pelo menos 32 panes mecânicas diárias que bloqueiam faixas de circulação por quase uma hora, na média, até serem retirados.
Não bastassem as falhas mecânicas e os acidentes provocados por caminhões, há ainda o desrespeito às leis de trânsito por parte dos motoristas que param em fila dupla em ruas estreitas para descarregar suas mercadorias em frente de bares, restaurantes, supermercados e outros estabelecimentos. Os VUCs causam tanto prejuízo ao trânsito quanto as grandes carretas. Afinal, tomam uma faixa inteira de trânsito, muitas vezes em vias de mão dupla.
Kassab defende que qualquer mudança em São Paulo deve ser gradual, considerando sua grandeza. Há décadas, a regulamentação da circulação de caminhões na cidade é discutida e a restrição aos veículos pesados é apontada como medida indispensável para a melhoria do trânsito. Portanto, já houve tempo de sobra para que o setor de transporte de cargas se preparasse.
Fonte: O Estado de São Paulo

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