Florianópolis, 27.2.08 – Motoristas que forem tirar ou renovar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) passarão por exames rÃgidos de saúde. Com a resolução 267 do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), em vigor desde segunda-feira, acidentes provocados por males como hipertensão e dificuldade auditiva, devem diminuir.
No Brasil, a cada um milhão de acidentes, entre 60 mil e 80 mil são causados por problemas de saúde do motorista, segundo dados da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet).
Uma das principais mudanças previstas na resolução 267 estabelece que condutores de caminhão, carreta e ônibus terão de passar por avaliação médica para verificar se sofrem de distúrbios de sono. Esses distúrbios reduzem a capacidade de atenção e reação dos condutores, causam tontura e indisposição.
– Os portadores da sÃndrome da apnéia obstrutiva do sono estão sempre com a sensação de sonolência e perdem a capacidade de concentração – explicou o presidente da regional de Santa Catarina da Abramet, o médico Guilherme Guerreiro da Fonseca.
No Estado, são cerca de 250 mil condutores de carga pesada que deverão passar, quando forem renovar a CNH, por um dos 280 médicos responsáveis pelos exames de motoristas em Santa Catarina.
Empresas do Estado aprovam mudanças
O presidente da Federação das Empresas de Transporte de Cargas no Estado de Santa Catarina (Fetrancesc), Pedro Lopes, vê de forma positiva a mudança.
– É uma atitude preventiva. Vamos cumprir. Mas o exame não pode trazer custos aos motoristas – disse Lopes.
A avaliação será feita junto com os demais testes clÃnicos e, segundo o Denatran, não acarretará custo adicional.
No entanto, dependendo do resultado do distúrbio do sono, os condutores poderão ser encaminhados para a realização de um exame mais demorado, a polissonografia, feita enquanto a pessoa dorme. Esse exame pode ser feito pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Mesmo assim, há a preocupação por parte da Fetrancesc sobre a estrutura hospitalar para atender à demanda e os riscos que os motoristas correm de terem que recorrer a serviços privados.
Não apenas os condutores de veÃculos de carga pesada serão atingidos pela resolução 267, que revisa de forma detalhada determinações feitas há 10 anos.
Segundo o texto, o motorista que for examinado será considerado apto, apto com restrição (nesse caso, poderá passar por avaliações anuais para renovação da CNH), inapto temporário ou inapto.
Todos que forem tirar ou renovar a CNH preencherão ainda um questionário com 10 perguntas sobre, entre outros assuntos, uso de álcool e drogas, envolvimento em acidentes e caso de diabetes.
O consumo de álcool, segundo uma pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), está entre as principais causas de acidentes nas rodovias federais brasileiras, atrás da falta de atenção e da velocidade indevida.
Fique por dentro
A resolução 267 do Denatran
Avaliação cardiorrespiratória
Envolverá medição da pressão arterial e análise do coração e pulmões. Caso seja detectado risco de enfarte, arritmia ou insuficiência cardÃaca, exames mais especÃficos serão solicitados ou uma carteira com prazo de validade menor será concedida. Se o motorista apresentar nÃveis de pressão arterial acima de 18 por 11, será considerado temporariamente inapto.
Avaliação auditiva
Na prova de capacidade auditiva, o examinador pronunciará, sem que o candidato o veja, palavras a dois metros de distância. Se o motorista tiver alguma dificuldade para repeti-las, passará por um teste audiométrico.
Avaliação neurológica
Já existente, avalia coordenação motora, força e sensibilidade. A novidade diz respeito aos epilépticos, que também poderão tirar carteira se tiverem com a doença sob controle. Para isso, haverá uma avaliação especÃfica.
Avaliação oftalmológica
Os Ãndices mÃnimos de acuidade visual e campo de visão diminuem. Para os motoristas de carro, a acuidade mÃnima em cada olho diminui de 66% para 50%.
Motorista aprova as mudanças
Robinson Darlan Konig, 32 anos, é motorista de caminhão desde os 24. Há seis meses, quando vinha de São Paulo para o Sul, uma cochilada alheia provocou mais um dos tantos sustos pelos quais já passou nas estradas brasileiras: ele ultrapassava outro caminhão, quando viu que o condutor dormiu e o veÃculo começou a vir para cima dele, que precisou desviar para o acostamento.
Por causa de situações como essa, Konig vê o sono como um inimigo na estrada.
– Ele te avisa várias vezes, não tem como não perceber. Mas se tu teimares em lutar contra ele, num piscar de olhos, estás do outro lado – observou.
É esse tipo de teimosia, lembra, que pode levar um companheiro de profissão ou uma famÃlia inteira.
Por isso, ele é favorável à verificação médica sobre a condição clÃnica dos condutores, mas discorda da medida se o motorista tiver que pagar pelo exame.
– Não é nada, não é nada, são R$ 800. Isso não deveria ficar por conta do empregador? – questionou.
Na empresa em que trabalhava, lembra, todos os motoristas passavam por uma bateria de exames que incluÃa entrevistas com três psicólogos, exames do coração, cabeça, sangue e urina, entre outros. Quem fosse reprovado em algum deles não ia para a estrada.
Quando nota a sonolência, Konig encosta e dorme, sem insistir. Para viagens longas, divide o volante com o parceiro Vanderson de Carvalho, 26 anos, motorista de caminhão desde 2004.
Fonte: Diário Catarinense