Navegantes, 17.3.08 – Os Motoristas que utilizam a ponte de Navegantes, no Km 112 da BR-101, Litoral Norte do Estado, terão de economizar paciência para enfrentar por mais 74 dias as filas decorrentes das obras na passarela de pedestres da ponte. Se a chuva não atrapalhar e nenhum outro imprevisto atrasar os trabalhos, o sacrifÃcio pode até durar uns dias a menos, de acordo com previsões do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Trânsito do Estado (DNIT-SC).
Em metade da pista interrompida da ponte, operários trabalham para concluir a passarela de pedestres até o dia 30 de maio. O concreto novo é visÃvel no chão e nos guarda-corpos em quase metade da ponte. Mas os motoristas que esperam até duas horas ao longo de cinco quilômetros de fila, todos os dias, dão mostras do descontentamento e de que as alterações feitas no trânsito não são suficientes para absorver o fluxo de veÃculos.
Para complicar a situação, as barreiras de concreto colocadas pelo DNIT em ruas que dão acesso à BR-101, por 600 metros antes da ponte, foram removidas por motoristas. Sem paciência, eles fazem questão de furar a fila. Em ruas onde as barreiras são intransponÃveis, os carros e caminhões abrem caminho em meio ao matagal para abreviar a espera e atravessar a ponte.
Empresas de transporte reclamam do prejuÃzo
A PolÃcia Rodoviária Federal (PRF) garante que muitos motoristas que trafegam e ultrapassam no acostamento ou tentam furar a fila estão sendo multados, mesmo sem que o veÃculo tenha sido abordado. Nos postos da PRF de Itapema e Barra Velha, os mais próximos da ponte, mais da metade dos telefonemas atendidos todos os dias pelos policiais é de pessoas paradas no congestionamento entre Itajaà e Navegantes.
Os custos gerados pela espera também levam empresas do Estado a apelar por mais agilidade nas obras, especialmente o setor de transporte de cargas, lÃder entre os protestos.
– A forma como o fechamento da pista foi feito, sem nenhum planejamento, é absurda – protesta Pedro Lopes, presidente da Federação das Empresas de Transportes de Cargas no Estado de Santa Catarina (Fetrancesc).
Com as crÃticas, uma avalanche de sugestões emerge de quem vivencia o transtorno. A reportagem ouviu engenheiros de diferentes especialidades, que apresentaram sugestões, analisaram as alternativas para o tráfego no Km 112 da BR-101 e o andamento das obras na ponte.
Saiba mais
A PONTE
Foi construÃda em 1958
Tem 472 metros de extensão e 9,15 metros de largura
Trânsito está em meia-pista desde 14 de fevereiro
A PASSARELA DE PEDESTRES
Foi construÃda em 1993 com estrutura de placas pré-moldadas de concreto apoiadas em perfis metálicos
As obras de recuperação incluem a substituição das juntas de dilatação e colocação de barreiras New-Jersey entre a passarela e a pista da rodovia
Diariamente, 40 operários trabalham das 6h às 3h
O prazo para conclusão das obras é 30 de maio deste ano
O orçamento da obra é de R$ 1,3 milhão
A empresa contratada para o serviço foi a Granville Engenharia Ltda
Fonte: Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT/SC)
PrejuÃzo para quem transporta
No meio da alta temporada da venda de pescados no paÃs, por causa do perÃodo da Quaresma, empresas do setor que dependem do acesso pela Ponte de Navegantes, na BR-101, para transportar a mercadoria sentem o atraso nas entregas pesar nas despesas como se fosse um imposto.
De acordo com o presidente do Sindicato das Indústrias da Pesca de Itajaà e Região (Sindipi), Dario Vitali, o custo extra com o remanejamento da logÃstica de transportes é de até 3%. O percentual diz respeito à s mudanças de horário para evitar a espera dos caminhões, que pode durar até uma hora e meia nos horários de maior movimento, na fila a partir do Km 112.
– Faltaram medidas preventivas, planejamento, para que as filas não tivessem estas proporções. Para nós, o esforço extra também representa custo extra – garantiu Vitali.
Além dos caminhões que transportam o peixe, as rodas que conduzem aos portos, armazéns de contêineres e destinos de cargas gerais também ficam paradas. Conforme Pedro Lopes, presidente da Federação das Empresas de Transportes de Cargas no Estado de Santa Catarina (Fetrancesc), o fechamento de uma das pistas da ponte causa transtornos não apenas para o transporte, mas para todos os usuários.
Entidades se reúnem nesta semana com o Dnit
Ao lado de outras lideranças do Estado, a Fetrancesc se reúne na próxima terça-feira, às 9h30min, com representantes do Dnit para cobrar providências, em Florianópolis.
– Agora temos a Páscoa e logo em seguida o feriadão de Tiradentes. Se o tempo de espera hoje já é de uma hora e meia para o ferry boat (acesso a Navegantes pelo Centro de ItajaÃ) e de cerca de duas horas na BR-101, deve piorar ainda mais nos feriados – alertou Lopes.
DNIT antecipa final das obras
O Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes em Santa Catarina (DNIT – SC), responsável pelas obras na passarela da ponte de Navegantes, na BR-101, afirma que a agilização dos trabalhos, solicitada pelo empresariado e por lideranças estaduais, foi planejada e será cumprida com a redução do prazo de conclusão da passarela. O departamento informa que a conclusão será antecipada de 180 para 120 dias, a contar do mês de fevereiro.
Até o momento, imprevistos como as chuvas não têm prejudicado significativamente os trabalhos. Como o cronograma do departamento prevê os dias não-trabalhados em função da média histórica de chuvas do perÃodo, uma trégua das águas de março ainda poderia resultar no fim do canteiro de obras alguns dias mais cedo.
Desvio pela pista contrária é considerado perigoso demais
Esperanças à parte, o superintendente do DNIT no Estado, João José dos Santos, reafirmou na sexta-feira, por meio da assessoria de imprensa, que alternativas para diminuir as filas, como o uso de uma das pistas da outra ponte (sentido Norte-Sul) no sentido contrário, já foi descartada. O motivo, segundo ele, é a falta de segurança. Santos detalhou em nota que a medida representa alto risco de colisão frontal entre os veÃculos.
Ele acrescentou que estudos realizados com a PolÃcia Rodoviária Federal demonstraram que o risco é altÃssimo diante da imprudência e da falta de atenção caracterÃsticas dos motoristas.
O que dizem os especialistas
“No caso da ponte de Navegantes, não são a recuperação da passarela e a colocação do muro de contenção os determinantes do prazo de duração da obra, mas a substituição de reforços estruturais. Há que se considerar que a ponte é estreita, e o fechamento da pista mantém um mÃnimo de segurança para os trabalhadores da obra. No caso da sinalização, esta deveria ter outros critérios, sim. Não que a existente esteja ruim, mas poderia ser criado um desvio na pista da ponte nova (sentido Norte-Sul) no sentido inverso. Discordo que a alternativa seria perigosa se o desvio fosse utilizado apenas por veÃculos leves. A passagem de caminhões poderia ficar restrita à pista que passa ao lado das obras. A medida mobilizaria mais patrulheiros da PRF e sinalização luminosa, mas não seria inviável.”
José Moritz Piccoli, engenheiro civil, Conselheiro do Conselho Regional de Engenheiros e Arquitetos de Santa Catarina (Crea-SC)
“As obras de recuperação e reforço nas estruturas de concreto armado são tarefas quase artesanais na sua totalidade. Na ponte da BR-101, em Navegantes, a questão é mais complexa, pois tem de se considerar que o tráfego não pode ser totalmente interrompido; o trabalho de inspeção e preparação da estrutura é rigoroso; não se consegue acelerar a obra sem perda da qualidade, durabilidade e segurança; considerando a idade da estrutura, o volume de tráfego e o meio ambiente, os executores irão se deparar com patologias como oxidação de armaduras, rachaduras e desgaste do concreto, que não podem ser negligenciadas. Diante destes fatores, o prazo do Dnit e o dimensionamento da equipe são adequados. Procura-se minimizar os transtornos, mas é impossÃvel eliminá-los.”
Luiz Carlos Cabral, engenheiro civil, professor aposentado de Resistência dos Materiais, Estruturas de Concreto Armado e Pontes da Furb
“Um trabalho deste porte deve estar devidamente registrado no Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura. No momento que este procedimento é atendido, a obra passa a ter um profissional responsável. Lamentavelmente, até o momento, nada disso foi cumprido pela empresa responsável. Sobre a obra, converso com outros profissionais que afirmam que não há serviço para 90 dias, até o final de maio. Acredito que possa ser concluÃda em 60 dias. O caráter emergencial, para o governo, deveria ter o mesmo peso que tem para a iniciativa privada. Sobre o desvio para uma pista da outra ponte, o DNIT afirmou que não é possÃvel e o problema continua o mesmo. Estas decisões deveriam ser tomadas com base no fluxo de tráfego do local. Se houver um estudo apontando que o volume é o mesmo nos dois sentidos e em todos os horários, aà sim, esta situação poderia ser aceita.”
Carlos Gomes, engenheiro civil e Membro da Associação Regional de Engenheiros e Arquitetos
“Certamente, se aumentar o efetivo para execução da obra, o tempo para o término da restauração irá decrescer. Porém, como técnico e com alguma experiência com obras públicas, considero que, além de se seguir o cronograma fÃsico, estabelece-se um perÃodo além do previsto para o caso de uma necessidade extrema. Fatores que podem ocasionar atraso são intempéries, movimentações de veÃculos e pessoas, entre outros. No caso do tráfego durante as obras, o procedimento de desvio adotado pelo DNIT irá minimizar o trânsito, mas não solucionar o fluxo. Sempre é possÃvel, in loco, mudar a sinalização para agilizar a travessia. Um exemplo é, no perÃodo do dia com maior movimento no sentido sul-norte, poderiam os agentes fiscalizadores utilizar uma faixa a mais na outra ponte para melhorar o fluxo. Os cidadãos devem ter paciência, mas não podem deixar de cobrar.”
Ivo Rogério Reinhold, doutor em Engenharia Civil, mestre em Engenharia de Transportes e professor da Unerj
O que dizem
Marcelo Farias, distribuidor
” Enfrento a fila três vezes por semana, mais a do ferry-boat, que acesso no Centro de Itajaà para chegar a Navegantes. Há filas em todos os acessos possÃveis. Está horrÃvel, e a obra na ponte vai muito devagar.”
Diego Felipe Reynaud, analista de sistemas
” Todo mundo se preocupou com a obra, mas ninguém se preocupou em planejar acessos alternativos. Ficamos até duas horas na fila, seja na ponte, seja no ferry-boat. Poderia haver mais balsas.”
Mariane Cláudio, estudante de Direito
“Um desvio na pista pela outra ponte da BR-101, ao lado das obras, poderia ser uma boa alternativa. Enfrentar o trânsito parado já é ruim, mais ainda temos que lidar com pessoas mal-educadas, que furam a fila o tempo todo.”