Bento Gonçalves, 4.8.16 – Freada da economia doméstica, perda do grau de investimento, juros altos, crise política, impeachment da presidente em curso e desvalorização da moeda brasileira criaram um cenário de grande incerteza e dificultaram a tomada de decisões do setor produtivo. E, lamentavelmente, estas são apenas algumas das mazelas enfrentadas pelos empresários neste primeiro semestre de 2016.
Neste cenário, como forma de contornar a situação, muitas empresas passaram a reduzir custos, a retardar investimentos e adiaram decisões estratégicas, na expectativa de uma melhora que deve vir por aí.
Não está se falando de desespero ou desânimo, pois momentos de crise podem ser épocas de grandes oportunidades de negócios, depuração de mercado e obrigam a empresa a melhorar seu nível de eficiência.
O Barão de Rothschild já dizia, em sua época, com uma certa dose de exagero, que o melhor momento para se ganhar dinheiro é justamente quando o sangue corre nas ruas, ou seja, crises sempre foram um campo fértil para boas oportunidades de negócios.
É fato que o Brasil não parou e não vai parar, mas certamente houve uma redução do nível de atividade econômica maior do que se esperava para este ano.
Faturamento menor –O setor de transporte rodoviário de carga não ficou imune a este cenário. As sondagens realizadas pela NTC mostram que 77% das empresas do setor tiveram queda no faturamento no primeiro semestre de 2016, resultado dos descontos nominais concedidos no frete neste período, que alcançaram 2,6% (real 10,4%) e do menor volume de carga transportado que caiu em média 12,5%. Como se não bastasse ainda há o problema do atraso no recebimento dos fretes que atinge 86% das transportadoras. A consequência direta é a constatação de que 65% das empresas tem caminhões parados, atingindo 11% da frota.
Como se pode ver, não há como evitar a crise econômica que nos atinge, mas prudência e calma ajudarão a sair “vivo” desta situação. Mais uma vez lembramos que, apesar dos números apresentados pelo setor, a solução não passa pela redução do valor do frete, pois, com esta, a história mostra aonde se chega – transportadoras fechando com terminais lotados de carga. Assim, alertamos que há uma defasagem a ser eliminada entre o frete cobrado e os custos de transporte apurados pela NTC, que atingiu em julho, 9,81% no transporte de cargas fracionadas e 22,9% no transporte de cargas fechadas (lotações). Valores alarmantes quando se observa que não são considerados nos cálculos de custos realizados pela NTC a maioria dos impostos e a margem de lucro.
Para reverter a situação em que se encontra a economia brasileira, a nova equipe econômica realizou uma transformação na orientação macroeconômica. Contudo, a melhora efetiva das expectativas requer a aprovação e a implantação de uma série de reformas institucionais, o que depende de complexas e difíceis negociações políticas entre Executivo e Legislativo. De qualquer forma, a perspectiva de termos um novo presidente, após a interinidade, parece ter estabelecido um piso para a queda da economia e, tudo leva a crer que teremos uma recuperação em 2017.
Assim, aquelas empresas que não ajustaram seus preços aos novos custos devem fazê-lo o mais rápido possível, antes que os mesmos agravem de forma irreversível as suas finanças e comprometam o seu futuro.
Bento Gonçalves, 03 de agosto de 2016
José Hélio Fernandes
Presidente – Associação Nacional do Transporte de Carga e Logística (NTC&LOGÍSTICA)