Durante o Fórum CNT de Debates em Joinville, na quinta-feira, 7, foi discutido o impacto para a atividade transportadora da mistura do biodiesel de base éster ao diesel fóssil. O teor da mistura, que era de 10% em 2022, hoje é de 14%, em atendimento à resolução do CNPE (Conselho Nacional de Política Energética). A política foi implementada como parte da estratégia nacional de transição energética. Na prática das empresas, porém, a mudança na composição tem se revelado prejudicial.
Com participação do presidente da Fepasc (Federação das Empresas de Transporte de Passageiros dos Estados do Paraná e Santa Catarina), Felipe Busnardo Gulin, e do presidente da Fetrancesc, Dagnor Schneider, no papel de debatedores, a mesa foi mediada por Ari Rabaiolli, que é presidente da Badesc (Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina), empresário e ex-presidente da Fetrancesc e do Conselho Regional do SEST SENAT de Santa Catarina. O debate foi antecedido por exposição do diretor executivo da CNT, Bruno Batista, que trouxe subsídios técnicos para a compreensão do tema.
Foram exibidos números da Sondagem CNT sobre o biodiesel brasileiro, na qual se colheram informações de 710 empresários do setor de transporte. Entre os entrevistados, 60,3% relataram a incidência de problemas mecânicos relacionados ao teor da mistura. As principais ocorrências dizem respeito ao aumento da frequência de troca de filtros (82,7%) e a falhas no sistema de injeção (77,1%). Como resultado, foi percebido um aumento nos custos com a manutenção dos veículos.
Também foi compartilhado o case da Sambaíba, atuante no transporte público de São Paulo. Em 2023, a empresa monitorou os tanques da garagem e realizou testes em campo, comparando diferentes teores de biodiesel. O resultado foi que, acima de 10%, foi constatada a presença de borra (resíduo) em tanques, filtros e peças automotivas. Com isso, a limpeza dos tanques, que era anual, precisou ser realizada em meses alternados. A frota, por sua vez, visivelmente perdeu potência. Novamente, registrou-se aumento total de gastos na operação.
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Por fim, o público conheceu os dados do estudo encomendado pelo Sistema Transporte à UnB (Universidade de Brasília). Os pesquisadores tomaram como base a performance de dois caminhões, um Ford Cargo 815 (fase P5) e um Mercedes-Benz Accelo 815 (fase P7). Quando abastecidos com diesel B20 (20% de biodiesel na mistura), em comparação com o B7, os motores sofreram perda de potência de até 10% e perda de torque de até 2,5%, sob a mesma rotação. Quando se adotou diesel B20, ambos os veículos emitiram monóxido de carbono com valores acima dos limites estabelecidos pelo Proconve.
“Como os senhores veem, chegamos a um desequilíbrio. O Programa, que foi pensado para descarbonizar, está aumentando as emissões”, alertou Batista. “Diante disso, a CNT defende condicionar os acréscimos a testes; aprimorar as especificações do biodiesel utilizado no Brasil; implementar medidas de controle de qualidade; e sempre considerar o setor de transporte nas políticas públicas”, concluiu, lembrando que já existe uma alternativa ao biodiesel, o HVO, que também é produzido a partir de biomassa, mas sem contraindicações em seu uso.