A navegação de cabotagem ou costeira, que até pouco tempo era relegada a segundo plano, vem ganhando espaço no mercado multimodal e será um dos principais temas discutidos na edição 2019 da Logistique – Feira e Congresso de Negócios Multimodais, de 27 a 29 de agosto, no Complexo de Exposições Expoville, em Joinville, Santa Catarina. A cabotagem representa hoje no Brasil 11% da matriz de transporte e tem crescido em média 12% ao ano na última década, mesmo com economia nacional estagnada.
A navegação costeira será abordada já na primeira tarde do Congresso por Otávio Cabral, gerente sênior da Hamburg Süd e da Aliança Navegação e Logística para a região Sul do Brasil, que falará sobre “os impactos do crescimento da cabotagem e da multimodalidade no Sul do Brasil”. A Aliança é líder no transporte por cabotagem no Brasil e encerrou 2018 com um crescimento de 16% em relação ao ano anterior, número que se repetem no primeiro semestre deste ano.
O tema volta a ser discutido no terceiro dia do evento, 29, por Peter Verheijen, VP Trade & Sales da empresa armadora Mercosul Line. O executivo abordará a “cabotagem como alternativa logística sustentável para otimizar a cadeia de suprimentos dos clientes”. Detentora de 28% do market share no mercado brasileiro da cabotagem e em segunda posição no ranking nacional, a Mercosul Line é braço da gigante CMA CGM no país e une o Porto de Manaus aos portos de Buenos Aires e Montevideo por meio de três serviços semanais.
Peter Verheijen participa ainda do debate “Cabotagem no Brasil, oportunidades e tendências”, juntamente com o diretor Executivo da Aliança Navegação e Logística, Marcus Voloch, às 15h15, com a moderação de Leandro Carelli Barreto, sócio consultor da Solve Shipping Intelligence Specialists, de São Paulo e com atuação em todo o Brasil.
“Este painel será uma grande oportunidade para discutirmos esse modal, principalmente no atual momento pelo qual está passando a matriz do transporte brasileiro de cargas”, diz Barreto. O especialista destaca que a navegação costeira é uma excelente alternativa para o Brasil, que tem uma costa de aproximadamente 8 mil quilômetros e grande concentração demográfica no litoral. “Principalmente depois da greve dos caminhoneiros, ocorrida no ano passado, que nos mostrou as fragilidades do modal rodoviário”, diz Barreto. “Isso cria a necessidade de revermos nossa matriz de transporte, respeitando a vocação de cada modal.”
Relevância – “Números divulgados pelo ILOS (Instituto de Logística e Supply Chain) mostram que entre os meses de junho do ano passado e abril de 2019, o volume transportado entre portos da costa brasileira, apenas em contêineres, cresceu 18,2%, percentual elevado a 21%, se considerado só o primeiro quadrimestre deste ano. Esses índices mostram a importância do tema que será abordado em nosso congresso técnico”, destaca o diretor da Logistique, Leonardo Rinaldi.
O mesmo estudo comprova que, se entre 2017 e 2018 foram transportados 8,8 milhões de toneladas, entre o ano passado e este, o volume já supera 10 milhões. Aponta ainda que 21% das grandes indústrias nacionais estão apostado no uso de navios para distribuir sua produção no mercado interno e, 38% delas, reduzido os investimentos no setor rodoviário até 2021.
As vantagens da navegação costeira, que entre outros benefícios pode gerar uma economia superior a 20% no custo do transporte, comparativamente ao modal rodoviário, são temas recorrentes. O que se alega hoje é que a cabotagem foi impulsionada no último ano pela instituição de uma tabela do frete no governo de Michel Temer e sua edição na gestão de Jair Bolsonaro, com o objetivo de beneficiar os caminhoneiros. A alternativa não trouxe o efeito esperado e, ao contrário do que se imaginava, tem contribuído para a diversificação dos modais logísticos do Brasil.
Diante dessa realidade, o Tribunal de Contas da União (TCU), em auditoria operacional fez recomendações à Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) e aos ministérios da Infraestrutura e da Economia, para apresentarem políticas públicas específicas de fomento à navegação de cabotagem. De acordo com o TCU, embora o País hoje disponha de proteção para a frota mercantil nacional e algumas estratégias relacionadas ao transporte aquaviário, sem uma política específica para a cabotagem, não há como esse segmento se desenvolver.
Entre os principais pontos deficitários, estão a falta de isonomia do preço de combustível (bunker), concentração do mercado na mão de poucas empresas e a falta de concordância em relação ao transporte multimodal. Com acórdão aprovado pelo plenário do TCU no fim do primeiro semestre, a auditoria dá prazo de até 180 dias para os órgãos referenciados apresentarem propostas ou indicarem o cumprimento de alguns pontos da atual legislação para mudança de panorama no setor.