A caminhoneira Nedisandra Magalhães da Silva, apresentou seu trabalho de conclusão de curso da pós-graduação em Gestão de Logística, intitulado “A política nacional de piso mínimo no transporte rodoviário de cargas”, na terça-feira, 4 de agosto, de dentro do seu caminhão, pois estava trabalhando na estrada no dia em que teria que fazer a defesa da sua pesquisa.
O fato pode até parecer inusitado para algumas pessoas, mas para a estudante nem tanto. “Sou caminhoneira há 20 anos e o caminhão é a minha casa”, falou Nedisandra, rindo e feliz por estar cumprindo mais uma etapa de estudos.
Nedisandra conta que a escolha do tema foi um desafio porque ela queria falar sobre a política do piso mínimo de frete, mas que isso dependia de muita pesquisa para levantamento de dados concretos.
“Eu escolhi falar sobre um assunto de uma situação que eu mesma vivi. Fiquei onze dias parada em Curitiba em função da greve dos caminhoneiros. Deixei meu caminhão em um posto de gasolina em Curitiba e fui ajudar as pessoas que estavam com o caminhão parado na estrada. As pessoas precisavam de comida e de água para aguentar ficar lá. Eu tinha a informação pela vivência do fato, mas precisava de embasamento teórico para falar do assunto”.
De acordo com o professor Ricardo Barcelos, orientador do TCC de Nedisandra, a partir da greve de motoristas de caminhão que ocorreu em 2018, o congresso estabeleceu a existência de uma lei que determina a formação de uma tabela de preço mínimo de frete para garantir que todos os custos individuais fossem cobertos, que eles não sofressem prejuízo. Quanto a instituição da lei no congresso houve algumas associações que entraram com uma ADI (ação de inconstitucionalidade) contra essa lei. Atualmente, ainda está sendo julgada no STF.
O professor Ricardo explica, que o TCC faz uma discussão sobre a implementação da tabela do frete mínimo e as ADIS.
“O debate deste tema que Nedisandra faz é de extrema importância porque a questão da tabela mínima de frete impacta da cadeia produtiva no Brasil. Pois quando há um aumento dos custos do frete, ocorre um aumento dos produtos que são transportados. Se levar em consideração que essa tabela possa interferir no aumento obrigatório dos custos de frete, também ocorre um impacto econômico. Temos que levar em consideração que o excesso de oferta de frete que houve em função da crise de 2016 a 2018 fez com que o preço do frete fosse muito achatado, onerando muito o motorista individual, autônomo”, ressalta Ricardo.
O professor explica que foi nesta conjuntura que surgiu a greve dos motoristas em 2018. Essa proposta de lei veio do Congresso Nacional visa evitar que os motoristas individuais sejam explorados pelas empresas transportadoras garantindo um valor mínimo que cubra pelo menos as despesas fixas e variáveis do transporte.
“As associações de transportadoras se sentiram lesadas obviamente, porque a implementação da lei faz com que haja uma espécie de piso mínimo e não haja uma livre concorrência em busca de um preço menor. Mas o que temos que pensar é que não havendo um monopólio de contratação de transporte, em função da sua força que tem, acaba prejudicando quem está na ponta, que é o motorista autônomo. Em função disso, estão surgindo muitas cooperativas de motoristas individuais para se contrapor a essa força das transportadoras”, afirma.
A formanda explica que por um lado tem as transportadoras e por outro os motoristas autônomos. “Essa lei vem para regular essa relação do custo do frete. Quando há um aumento do frete impacta diretamente no aumento dos produtos, causando um impacto na economia do país. A ideia do TCC foi fazer uma análise do tema mostrando os dois lados da moeda para mostrar para às pessoas a realidade dos fatos sobre a política de tabela mínima de frete para os caminhoneiros”, enfatiza.
Nedisandra é motorista de caminhão há 20 anos, natural do Rio Grande do Sul, tem 44 anos, uma filha, uma neta, é formada em logística também pela Unisul e agora pós-graduada em Gestão de Logística.
“Antes de ser caminhoneira eu trabalhava na área de contabilidade, mas o sonho era conhecer o Brasil. A ideia de ser caminhoneira tem a ver com isso, pois é uma maneira de conhecer os lugares e de ter liberdade. Hoje estou aqui e amanhã eu posso estar lá, essa é a sensação. Mas mesmo na estrada sempre penso que devemos estudar. Pode não ser muito fácil, mas quando você realmente quer uma coisa tem que saber que terá alguma dose de sacrifício também. Enquanto muitos colegas estavam com o caminhão parado descansando eu estava estudando. O estudo amplia a visão e é uma coisa que ninguém pode nos tirar. Hoje eu tenho a teoria e a prática isso me deixa mais completa como profissional. Eu faço a minha logística”, declara.
Fonte: Unisul Hoje